O envelhecimento é um processo inevitável que nos predispõe a inúmeras mudanças biológicas que estão relacionadas a uma redução progressiva da força e massa muscular, evento caracterizado como sarcopenia e em paralelo isso, o aumento da massa gorda. A junção destas duas situações é conhecida como obesidade sarcopênica, a qual pode ocasionar inflamação crônica e, consequentemente, um risco aumentado para o desenvolvimento de comorbidades como síndrome metabólica, dislipidemias, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Somado a isso, há também uma maior predisposição à ocorrência de quedas, fraturas, incapacidade física e mortalidade (1,2).
A menopausa é uma condição não patológica atribuída a todas as mulheres, caracterizada pela interrupção definitiva da menstruação por meio da deficiência do estrogênio pelo período de pelo menos 12 meses consecutivos. Nos primeiros anos do pós-menopausa, devido à mencionada queda do estrogênio, ocorre uma perda acelerada de massa óssea caracterizada pela diminuição da densidade mineral óssea (2,3). O deterioramento da densidade mineral óssea e da integridade estrutural promovem, como consequência, um risco aumentado para osteoporose, sendo que o seu principal desfecho é a fratura, a qual acomete especialmente o colo do fêmur, punho e vértebras (3).
Tem sido proposto que o consumo adequado de proteínas por idosos pode contribuir para uma melhora do esqueleto através da oferta de aminoácidos e aumento da absorção de cálcio e do fator de crescimento semelhante à insulina 1 circulante (IGF-1), o que, combinado ao treinamento resistido, é a estratégia não farmacológica comumente utilizada para minimizar as mudanças relacionadas à idade no metabolismo e composição corporal, reduzindo os efeitos da sarcopenia nesta faixa etária e atenuando a ocorrência de limitações funcionais (4,1,5).
O consumo adequado de proteínas é primordial, pois estas exercem influência sobre as proteínas reguladoras e sobre os fatores de crescimento envolvidos no crescimento muscular, sendo assim as principais colaboradoras para amenizar os efeitos da sarcopenia e perda de força em mulheres no período pós-menopausa (2). Por isso, o consumo de whey protein é indicado também para mulheres na menopausa.
As mulheres mais velhas normalmente apresentam níveis mais baixos de força e massa muscular e fazem uma ingestão de proteína basal menor em comparação aos homens. Ademais, mulheres mais velhas no pós-menopausa sofrem com a elevação da pressão arterial, aumento do colesterol total e LDL-c, redução do HDL-c e resistência à insulina devido à falta da proteção do estrogênio (1).
Desenvolvimento
A proteína do soro do leite é frequentemente utilizada como suplementação, tendo em vista ser de fácil digestão e promover um rápido transporte de aminoácidos aos músculos esqueléticos, o que torna mais simples atender às necessidades proteicas do corpo. Além do mais, a proteína do soro do leite é rica em leucina, o que aumenta o estímulo da síntese proteica no músculo, melhorando a força e a massa muscular durante os períodos de treinamento resistido (1,3).
Estudos de coorte transversal e longitudinal apresentaram conexões positivas entre o consumo de proteína e a manutenção da massa muscular é muito importante para a saúde, o consumo adequado de proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais devem fazer parte de uma estratégia de emagrecimento saudável. A utilização de whey protein no pré-treino, juntamente com uma fonte de carboidrato, pode ser indicada para algumas pessoas calculando-se as necessidades de proteínas diárias e distribuindo ao longo do dia de maneira adequada.
Um estudo feito com mulheres de 70 a 80 anos da Austrália Ocidental avaliou que 30g de proteína extra por dia não promoveu alteração na densidade ou força óssea durante o período de 2 anos. Uma das possíveis justificativas seria o consumo de proteína habitual relativamente elevado das idosas estudadas (1,1g/kg de peso ao dia). Ou seja, as mulheres que participaram do estudo já apresentavam um estado nutricional adequado no que tange à ingestão proteica e também afirmado pela ingestão nutricional e IMC. Assim, a suplementação de proteínas apresenta um maior potencial em populações com baixa ingestão proteica (4).
Outro estudo investigou a consequência da suplementação da proteína do soro do leite combinada ao treinamento resistido em 12 mulheres saudáveis no pós-menopausa. Neste caso, os autores concluíram que a atividade física foi importante para promover uma melhora nos indicadores de força e massa muscular. Por outro lado, a suplementação de proteína durante este período não promoveu a melhora desta resposta (3).
Outra revisão mostrou que o treinamento resistido aumenta os benefícios advindos da suplementação com a proteína do soro do leite em mulheres no período pós-menopausa. A suplementação com a proteína nas mulheres que faziam treinamento resistido promoveu uma melhora significativa da força do bíceps. No entanto, nas mulheres que não praticavam o treinamento resistido, a suplementação com a proteína não apresentou benefícios relacionados à capacidade funcional e força muscular (1).
Considerações finais
Estudos in vitro e in vivo comprovaram que a proteína do soro do leite possui componentes responsáveis pela formação óssea e consequente inibição de sua reabsorção. No entanto, foram poucos os estudos que averiguaram a saúde óssea em mulheres no período pós-menopausa praticantes de atividade física suplementadas com a proteína do soro do leite. Assim, mais estudos são necessários para esclarecer esta conclusão (3).
A menopausa tem relação com o aumento dos casos de obesidade sarcopênica, mas por sorte, este quadro pode ser atenuado através de mudanças no estilo de vida e na dieta, por meio do consumo adequado de proteína, ômega-3 e vitamina D. Ainda com relação ao consumo adequado de proteína, sugere-se que, em conjunto ao treinamento resistido, pode haver a preservação da função muscular nestas mulheres, promovendo progressos importantes na massa muscular, força e capacidade funcional e também perda de massa gorda, principalmente em associação a uma dieta hipocalórica com no mínimo 0,8g/kg de peso de proteína (2).
Portanto, os dados analisados nos levam a concluir que um estilo de vida saudável, inserindo nutrição com um adequado consumo de proteínas pode colaborar na prevenção e também no tratamento da sarcopenia em mulheres no período pós-menopausa (1,2).
Referências
(1) Kuo YY, Chang HY, Huang YC, Liu CW. Effect of Whey Protein Supplementation in Postmenopausal Women: A Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients. 2022 Oct 10;14(19):4210. doi: 10.3390/nu14194210. PMID: 36235862; PMCID: PMC9572824
(2) Buckinx F, Aubertin-Leheudre M. Sarcopenia in Menopausal Women: Current Perspectives. Int J Womens Health. 2022 Jun 23;14:805-819. doi: 10.2147/IJWH.S340537. PMID: 35769543; PMCID: PMC9235827
(3) Gollino L. Efeito da Suplementação da Proteína do Soro do Leite na Saúde Óssea de Mulheres na Pós-Menopausa em Programa de Modificação do Estilo de Vida com Exercícios Físicos e Adequação Alimentar. repositoriounespbr [Internet]. 2019 Feb 25 [cited 2022 Oct 26]; Available from: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/181298
(4) Zhu K, Meng X, Kerr DA, Devine A, Solah V, Binns CW, Prince RL. The effects of a two-year randomized, controlled trial of whey protein supplementation on bone structure, IGF-1, and urinary calcium excretion in older postmenopausal women. J Bone Miner Res. 2011 Sep;26(9):2298-306. doi: 10.1002/jbmr.429. PMID: 21590739.
(5) Nabuco HCG, Tomeleri CM, Sugihara Junior P, Fernandes RR, Cavalcante EF, Antunes M, Ribeiro AS, Teixeira DC, Silva AM, Sardinha LB, Cyrino ES. Effects of Whey Protein Supplementation Pre- or Post-Resistance Training on Muscle Mass, Muscular Strength, and Functional Capacity in Pre-Conditioned Older Women: A Randomized Clinical Trial. Nutrients. 2018 May 3;10(5):563. doi: 10.3390/nu10050563. PMID: 29751507; PMCID: PMC5986443
(6) Kun Zhu, Deborah A Kerr, Xingqiong Meng, Amanda Devine, Vicky Solah, Colin W Binns, Richard L Prince, Two-Year Whey Protein Supplementation Did Not Enhance Muscle Mass and Physical Function in Well-Nourished Healthy Older Postmenopausal Women, The Journal of Nutrition, Volume 145, Issue 11, November 2015, Pages 2520–2526, https://doi.org/10.3945/jn.115.218297