Vitaminas e formas ativas

As vitaminas ingeridas podem sofrer diversas etapas para a sua utilização, passam por processos como absorção, metabolismo, distribuição aos tecidos, excreção e até mesmo por reabsorção. Dessa forma, cada vitamina tem um processo singular referente às etapas evidenciadas acima. A execução dessas etapas necessita, muitas vezes, de um arsenal de enzimas, cofatores, níveis adequados de pH, gradiente de concentração e solubilidade. Muitas vezes as vitaminas absorvidas são metabolizadas em outras formas químicas com atividade biológica [1].

Nesse sentido, existem apresentações de vitaminas prontamente disponíveis para a absorção e função no organismo, também nomeadas de vitaminas ativas, ou seja, que não necessitam da conversão de enzimas para desempenharem seu papel. A principal vantagem é quando ocorrem erros inatos do metabolismo para essas enzimas, a função biológica da vitamina não é prejudicada, uma vez que já está em sua forma de ação biológica. Além disso, não há acúmulo das formas inativas no organismo, o que pode trazer prejuízos a saúde, principalmente quando existe polimorfismo genético para as enzimas que participam da biotransformação da vitamina [2].

O ácido fólico, também conhecido como vitamina B9, é um exemplo no qual a forma L-metilfolato, forma reduzida e ativa do folato, é absorvida prontamente e tem função biológica. Na dieta, os folatos encontram-se na forma de poliglutamato. Os vegetais são as principais fontes de folato na dieta. Entretanto, o cozimento por 15 minutos pode diminuir a quantidade de folato em até 90% [3].

Após a ingestão, os folatos na dieta ou ácido fólico em suplementos ou alimentos fortificados são absorvidos, contudo, essas formas são inativas. No fígado, a porção 6-metilpterina do ácido fólico sofre duas reações catalisadas pela diidrofolato redutase (DHFR). A primeira redução gera diidrofolato que é então convertido a tetraidrofolato, principalmente nos hepatócitos. Posteriormente é metabolizado em 5,10 metilenotetrahidrofolato e, por fim, em 5 metil tetrahidrofolato (L-metilfolato) pela 5- metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR). O L-metilfolato representa cerca de 98% de todo o folato no soro [4].

Os polimorfismos que codificam os genes MTHFR e DHFR afetam o metabolismo do ácido fólico. Um dos polimorfismos de MTHFR que gera a variante C677T, é bem comum na Europa, com 30-40% de heterozigose e 10-15% em homozigose. No Brasil, a heterozigose ocorre em 50% da população, na qual existe a troca de aminoácidos, resultando em uma enzima termolábil. Este fato pode levar à dissociação da enzima em monômeros e a redução da sua atividade. A atividade reduzida de MTHFR diminui a produção de L-metilfolato, sendo a primeira doadora de grupos metil para a síntese de metionina, que estará prejudicada. Dessa forma, os níveis de homocisteína elevam-se no sangue, especialmente pelo suprimento escasso do folato [5].

O uso de medicamentos (metotrexato e trimetoprima) também podem interferir na conversão de ácido fólico e demais formas de folato em sua forma ativa, uma vez que diminuem a ação da diidrofolato redutase. Portanto nesses casos a administração de ácido fólico (forma inativa) é ineficiente [4].

Portanto, a biodisponibilidade de ácido fólico depende da sua conformação, o formato L-metilfolato apresenta disponibilidade de 85%, superior quando comparada às demais formas de folato e ácido fólico, o que é fundamentado por se tratar da forma ativa, não necessitando da metabolização que envolva a ação da MTHFR [3].

Em resumo, a forma ativa de folato é um exemplo de como as vitaminas ativas podem ser benéficas em muitos casos, principalmente naqueles que há interação medicamentosa e erros inatos do metabolismo, prejudicando a metabolização das vitaminas em suas formas com funções biológicas.

 

Referências

[1]       Said HM. Intestinal absorption of water-soluble vitamins in health and disease. Biochemical Journal 2011;437:357–72. https://doi.org/10.1042/BJ20110326.

[2]       Pietrzik K, Bailey L, Shane B. Folic Acid and L-5-Methyltetrahydrofolate Comparison of Clinical Pharmacokinetics and Pharmacodynamics. n.d.

[3]       [6S]-5-Methyltetrahydrofolate is at least as effective as folic acid in n.d.

[4]       Ferrazzi E, Tiso G, Di Martino D. Folic acid versus 5- methyl tetrahydrofolate supplementation in pregnancy. European Journal of Obstetrics and Gynecology and Reproductive Biology 2020;253:312–9. https://doi.org/10.1016/j.ejogrb.2020.06.012.

[5]       Steluti J, Carvalho AM, Carioca AAF, Miranda A, Gattás GJF, Fisberg RM, et al. Genetic variants involved in one-carbon metabolism: Polymorphism frequencies and differences in homocysteine concentrations in the folic acid fortification era. Nutrients 2017;9. https://doi.org/10.3390/nu9060539.

 

 

 

 

 

 

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