As vitaminas são nutrientes essenciais para o funcionamento do nosso organismo. Estudos demonstram que a vitamina D, em particular, participa decisivamente do funcionamento de vários órgãos e sistemas. Alguns estudiosos até sugerem que ela seja considerada um hormônio. Fitoplânctons que habitavam o mar há milhões de anos já apresentavam o ergosterol que era convertido à vitamina D pela exposição solar. Seres humanos também sintetizam maior parte (90%) da vitamina D através da pele, por via não enzimática, pela ação dos raios ultravioleta (UV-B), mas, caso a exposição à luz não seja adequada, precisamos obtê-la através da dieta, em peixes de água salgada e/ou fria, gema de ovo, leites e derivados e até mesmo cogumelos e fungos.
A vitamina D, que é lipossolúvel, começou a chamar a atenção dos estudiosos a partir do momento que a população europeia passou a se aglomerar e morar em centros e guetos das grandes cidades, surgindo muitos casos de crianças com raquitismo e que apresentavam um sinal em comum de “pernas tortas”. Esses sinais ainda eram desconhecidos quando a população vivia nos campos, com exposição abundante ao sol. Ao solucionarem os casos através dessa vitamina, notou-se uma primeira relação com a melhora da absorção e homeostase dos níveis de cálcio e fósforo no organismo humano.
*Metabolismo da Vitamina D – Adaptado de Sports Med. 2018;48(Suppl 1):3–16
A principal função da vitamina D é relacionada com o metabolismo de cálcio e fósforo, e qualquer alteração nas concentrações desses minerais refletem no metabolismo de vitamina D. Quando há queda nas concentrações de cálcio, por exemplo, a paratireóide (PTH) entra em ação fazendo a liberação do hormônio PTH, agindo nos rins, aumentando a atividade da 1-alfa-hidroxivitamina D, responsável por regular os níveis de cálcio. Nos rins ocorre uma segunda reação resultando em sua forma ativa (1,25(OH)2D3) permitindo atuação em grande parte dos genes humanos, uma vez que quase todas as células possuem receptores desse hormônio.
Mas a vitamina D tem muitas outras funções, como de atuar no sistema imune. Por isso, a pandemia de Covid-19 exige uma atenção ainda maior. Como as pessoas estão passando muito mais tempo em casa, reservar um tempo para tomar sol é um cuidado que não pode ser esquecido. Para que a formação de vitamina D no organismo seja adequada, é necessária a exposição solar de, no mínimo, 15 minutos diários, de preferência entre 10h e 14h, momento de maior presença dos raios UV, responsáveis por ativar o metabolismo da sua formação a partir da pele – quanto maior a área de exposição do corpo à luz solar melhor –, sem o uso de protetores solares, que atrapalham a ativação das vias metabólicas de formação da vitamina.
Assunto sempre em discussão entre os profissionais de saúde, pois cada vez mais estudos mostram os benefícios em inúmeras patologias e, se consumida em doses adequadas de vitamina D, há prevenção e auxilio no tratamento de diferentes tipos de câncer (cólon, próstata, pâncreas e mama), doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 1 e 2, doenças autoimunes, depressão, infecções, além de promover funções neurocognitivas, entre outras.
Níveis entre 30 e 50 ng/ml são considerados adequados para a população em geral, e é preciso cautela com a suplementação em doses extremamente elevadas, pois há riscos de toxicidade, tendo em vista que são necessários estudos mais aprofundados para tomada de decisões mais precisas.
Para maior adesão e respostas positivas ao plano nutricional proposto, indispensável é a individualização na prescrição e aproximação dos profissionais com a realidade de seu paciente, conforme o quadro clínico atual, seja ele atleta, esportista ou com comorbidades. É de extrema importância oferecer reavaliações e adaptações sempre que necessárias, uma vez que são condições que envolvem diversos fatores com respostas fisiológicas e bioquímicas totalmente complexas.
Assim como a vitamina D, a vitamina k2 também é lipossolúvel e, além de desempenhar diversas funções, apresenta-se sob diversas formas, sendo elas: filoquinona (K1-predominante), dihidrofiloquinona (dK), menaquinona (K2) e menadiona (K3). As principais fontes alimentares de vitamina K são alimentos folhosos verde escuro, oleaginosas, frutas como kiwi, abacate, uva, ameixa e figo.
Existem diversos fatores que interferem em sua absorção, como por exemplo: má absorção gastrintestinal, secreção biliar, ingestão insuficiente e uso de anticoagulantes, entre outros.
Vitamina D e sua associação com a vitamina K2 para a saúde dos ossos
A importância da vitamina D e cálcio para a saúde óssea já é muito bem elucidada e disseminada entre muitas pessoas, entretanto, deve-se também salientar da importância da vitamina K nesse contexto. Além de sua relevância para a coagulação sanguínea, a vitamina K funciona como co-fator na carboxilação de várias proteínas ósseas, como no caso da reação de carboxilação, a qual envolve-se na homeostase, metabolismo ósseo e crescimento celular.
Diversos estudos de cultura celular demonstram um papel anabólico da vitamina K no osso, proporcionando um aumento da atividade osteoclástica e redução da osteoclastogênese. Além disso, a prevenção da apoptose de osteoblastos através da inibição dos genes Faz e Bax também é feita pela vitamina K.
No caso do metabolismo ósseo, existem alguns pontos de extrema relevância em que a vitamina K tem participação essencial para a formação normal do osso. A osteocalcina, proteína Gla do osso, é uma proteína dependente de vitamina K produzida pelos osteoblastos durante a formação óssea, sendo uma das mais frequentes proteínas não colagenosas na matriz extracelular do osso, atuando como reguladora da maturação óssea.
Com o intuito de prover a calcificação normal do osso, o ácido γ-carboxiglutâmico na osteocalcina liga íons cálcio, sendo a transcrição e tradução de osteocalcina regulada pela 1,25-di-hidroxivitamina D, e sua capacidade de ligar cálcio é dependente da γ-carboxilação de três resíduos de Glu. A γ-carboxilação de osteocalcina é um mecanismo de proteção do osso influenciado pela vitamina K2.
Em resumo, a vitamina D possui uma grande influência quando o assunto é metabolismo ósseo, visto que é uma grande responsável pelo estímulo da absorção de cálcio. Sua associação com a vitamina K2 é muito importante e é responsável pelo direcionamento até os ossos, fazendo com que a saúde óssea seja otimizada e promova uma redução para minimizar o risco de doenças cardiovasculares por evitar a deposição indesejada de cálcio nas paredes dos vasos.
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Gabriela Motta
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