Como a Vitamina D pode auxiliar no Câncer? | Blog Nutrify

Como a Vitamina D pode auxiliar no Câncer?

A vitamina D é um hormônio esteroide, cuja principal função é regular o metabolismo ósseo.

Na década de 1930, descobriu-se que a exposição da pele à luz solar e aos raios ultravioleta (UV) artificiais1, era capaz de estimular a produção de vitamina D3 (colecalciferol) a partir da conversão de um precursor, o 7-deidrocolesterol (7-DHC ou provitamina D).1,2 A luz UV de 290 a 315 nm1,3 desencadeia clivagem fotoquímica e produz pré-vitamina D na membrana plasmática de queratinócitos e fibroblastos nas camadas basal e suprabasal da epiderme.4 Em aproximadamente 24 horas, forma homodímeros, que se transformam em vitamina D.

A suplementação de vitamina D está associada a uma série de benefícios, incluindo melhoria da saúde imunológica, saúde óssea e bem-estar. A suplementação também pode reduzir o risco de mortalidade por câncer, diabetes e esclerose múltipla.

Vitamina D | Blog Nutrify

Os efeitos da vitamina D provavelmente dependem dos níveis circulantes de 25-hidroxivitamina D de uma pessoa (25(OH)D; uma forma de vitamina D que é medida em amostras de sangue para determinar o status da vitamina D), e muitos de seus benefícios só serão vistos quando uma deficiência é revertida.

A vitamina D exerce seus efeitos ligando-se e ativando o receptor de vitamina D (VDR). O VDR está localizado dentro de várias células e sua ativação pode levar a uma alteração na expressão de dezenas, senão centenas, de genes.

Este gene codifica um receptor ao qual se liga a vitamina D, permitindo que as células respondam aos seus estímulos, sendo o principal deles a regulação da absorção de cálcio e fosfato pelo organismo. Logo, variações no gene VDR causam alterações na afinidade de ligação do receptor à vitamina D, alterando a resposta a essa vitamina.

Formas da vitamina D

Existem duas formas de vitamina D: a vitamina D2 e a vitamina D3. A segunda provém de duas fontes: a) síntese cutânea em seres humanos e b) ingesta de alimentos de origem animal como peixes com alto teor de gordura como salmão, cavala e atum,3 assim como gema de ovo e óleo de peixe. A vitamina D2 é produzida por plantas, como cogumelos expostos a raios UV.5

Cerca de 80% da vitamina D é produzida na pele após exposição à radiação ultravioleta B.6 Em caso de exposição prolongada à radiação, existe um mecanismo intrínseco de regulação da produção cutânea, que previne a superprodução e consequente intoxicação pela vitamina D endógena.1,3

Funções da vitamina D

Uma das principais funções consiste em manter concentrações adequadas de cálcio e fósforo, tanto séricos quanto extracelulares, a fim de garantir uma variedade de funções metabólicas.1 Para isso, conta com a interação de diversos órgãos, entre eles, suprarrenais, intestinos, rins e paratireoides.1 É responsável pela absorção intestinal de fósforo e cálcio, pela mobilização desse último a partir do osso na presença do PTH, e pelo aumento da absorção renal de cálcio, regulando, assim, o metabolismo ósseo.2,3

Vitamina D, e demais funções encontradas

Atualmente, acredita-se que esse hormônio seja dotado de várias outras funções além do metabolismo do cálcio e do osso. Teria algum papel na regulação do magnésio, na liberação de insulina pelo pâncreas,7 na secreção de prolactina pela hipófise,2 na depuração da creatinina endógena2 e na inibição da produção de renina.1,3

Em razão da diversidade de locais em que seus receptores podem ser encontrados, sua deficiência também está associada a doenças auto imunitárias, como diabetes melito tipo 1,7 esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide,8 além da recente associação com cânceres6 e até hipertensão arterial sistêmica.9 É considerada, por alguns autores, um fator de risco universal.6

Como a Vitamina D pode auxiliar no Câncer? | Blog Nutrify

Vitamina D e a relação com câncer

Em revisão sistemática de 2013, Autier e colaboradores concluíram que – apesar de grande número de estudos observacionais sugerirem que elevadas concentrações de vitamina D mostram efeitos protetores para a redução de eventos cardiovasculares, de câncer colorretal e de todas as causas de mortalidades – os ensaios clínicos randomizados não confirmam esses achados.

Um estudo mais recente, onde participantes receberam 100.000 UI mês de vitamina D, não mostrou prevenção associada a dosagem.10

Já um estudo com pacientes com câncer colorretal avançado ou metastático, ou seja, câncer instalado, comparando altas doses versus dose padrão, mostrou uma sobrevida de 20% (vinte por cento) a mais. Esses achados sobre um papel potencial para a suplementação de altas doses de vitamina D no tratamento de pacientes com câncer colorretal avançado ou metastático justificam uma avaliação mais aprofundada em um ensaio clínico randomizado maior.11

Por outro lado, vários estudos já comprovaram que o principal fator biológico na carcinogênese cutânea é a radiação UV em seu espectro de 290 a 320 nm.13 Os benefícios da dermato proteção anti radiação solar são inquestionáveis: atuam como fator de proteção contra o câncer de pele, além de atuar na postergação do envelhecimento cutâneo.13 Assim, a utilização desses protetores na face – em que a quantidade de vitamina D produzida é muito pequena e o surgimento de carcinomas são acompanhados de impacto negativo -, deve ser estimulada e não negligenciada como é feito por muitos profissionais da saúde.

Considerações finais

Diversos estudos recentes mostram deficiência de vitamina D em proporções epidêmicas em várias partes do mundo, atingindo todas as faixas etárias12 e acompanhada de diversos agravos à saúde,8 que vão além do comprometimento do metabolismo ósseo, ou seja, há também aumento do risco de ocorrer diversas afecções, como diabetes melito, doenças cardiovasculares, alguns tipos de cânceres, deficiência de cognição, depressão, complicações gestacionais, autoimunidade e alergia.

Entretanto nenhum estudo randomizado com populações maiores ou afins mostraram que a superdosagem previne qualquer tipo de câncer, porém há estudos que indicam que a inclusão de doses maiores e individualizadas, em pacientes com a doença instalada e em estágio avançado, pode sim, prolongar a vida e bem-estar desse paciente.

 

Referências bibliográficas

  1. Chesney RW. The five paradoxes of vitamin D and the importance of sunscreen protection. Clin Pediatr (Phila). 2012;51(9):819-27.
  2. Premaor MO, Furlanetto TW. Hipovitaminose D em adultos: entendendo melhor a apresentação de uma velha doença. Arq Bras Endocrinol Metab. 2006;50(1):25-37.
  3. Hossein-nezhad A, Holick MF. Vitamin D for health: a global perspective. Mayo Clin Proc. 2013:88(7):720-55.
  4. Vanchinathan V, Lim HW. A dermatologist’s perspective on vitamin D. Mayo Clin Proc. 2012;87(4):372-80
  5. IOM (Institute of Medicine). 2010. Dietary reference intakes for calcium and Vitamin D. Food and nutrition board. Washington, DC: National Academies Press [acesso 28 out 2013].
  6. de Borst MH, de Boer RA, Stolk RP, Slaets JP, Wolffenbuttel BH, Navis G. Vitamin D deficiency: universal risk factor for multifactorial diseases? Curr Drug Targets. 2011;12(1):97-106.
  7. Mitri J, Muraru MD, Pittas AG. Vitamin D and type 2 diabetes: a systematic review. Eur J Clin Nutr. 2011;65(9):1005-15.
  8. Marques CDLM, Dantas AT, Fragoso TS, Duarte ALBP. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol. 2010;50(1):67-80.
  9. Peters BS, dos Santos LC, Fisberg M, Wood RJ, Martini LA. Prevalence of vitamin D insufficiency in Brazilian adolescents. Ann Nutr Metab. 2009;54(1):15-21.
  10. Scragg R, Khaw K, Toop L, et al. Monthly High-Dose Vitamin D Supplementation and Cancer Risk: A Post Hoc Analysis of the Vitamin D Assessment Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. 2018;4(11):e182178. doi:10.1001/jamaoncol.2018.2178
  11. Ng K, Nimeiri HS, McCleary NJ, et al. Effect of High-Dose vs Standard-Dose Vitamin D3 Supplementation on Progression-Free Survival Among Patients With Advanced or Metastatic Colorectal Cancer: The SUNSHINE Randomized Clinical Trial. JAMA. 2019;321(14):1370–1379. doi:10.1001/jama.2019.2402

12.. Al-Mutairi N, Issa BI, Nair V. Photoprotection and vitamin D status: a study on awareness, knowledge and attitude towards sun protection in general population from Kuwait, and its relation with vitamin D levels. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2012;78(3):342-9

  1. Maia M, Maeda SS, Marçon C. Correlação entre fotoproteção e concentrações de 25 hidroxi-vitamina D e paratormônio. An Bras Dermatol. 2007;82(3):233-7.

 

Gustavo Barros

@gustavo.plenitude.nutri

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress
Rolar para cima