O aminoácido triptofano, caracterizado como um dos oito aminoácidos essenciais, foi descoberto em meados de 1900 por Hopkins e Cole que isolaram sua estrutura a partir da caseina1. Seu armazenamento tecidual é relativamente baixo e sua concentração plasmática é a mais baixa dentre todos os aminoácidos2, sendo que alguns fatores dietéticos influenciam diretamente em sua concentração tecidual que por sua vez influenciam a captação pelo cérebro.
O L-triptofano, fração ativa do aminoácido3, é um precursor da síntese de serotonina. A síntese de serotonina ocorre em duas etapas, cujo bom andamento é dependente da concentração de triptofano4. Sabe-se que a maior parte desse aminoácido está ligada à albumina plasmática, impedindo sua ultrapassagem pela barreira hematoencefálica, limitando a síntese central de serotonina5. As frações de L-triptofano que ultrapassam a barreira hematoencefálica, são hidroxiladas à 5-hidroxitriptofano, cuja etapa é a considerada limitante na síntese de serotonina5. Subsequentemente são descarboxiladas para só então serem absorvidas pelos neurônios da rafe5.
Além síntese de serotonina, o triptofano é essencial em outras vias metabólicas como a via da quinurenina, e em algumas outras funções do SNC como a participação da síntese de dopamina, norepinefrina e melatonina6.
De acordo com as Dietary Reference Intakes (DRIs) a recomendação de ingestão diária de triptofano é de 8,5mg/kg/dia, estando altamente biodisponível em alimentos como aveia, banana, cacau, ameixa seca, cereais integrais, queijo, frango, amendoim6.
Triptofano X saúde mental
O principal transtorno de humor incapacitante no mundo é a depressão. Alguns mecanismos que influenciam a ocorrência do transtorno estão parcialmente elucidados, um deles é a hipótese da deficiência de monoaminas. Essa hipótese amparou diversos estudos com os principais agentes terapêuticos utilizados no tratamento da depressão: os inibidores seletivos e/ou combinados de recaptação de serotonina, cuja efetividade se dá em parte pelo aumento dos níveis sinápticos de serotonina e noradrenalina e subsequente ativação de receptores pós sinápticos serotoninergicos e noradrenérgicos5.
Os efeitos da depleção de triptofano e sua influência nos transtornos de humor, são amplamente estudados, uma metanálise que avaliou trabalhos realizados entre 1966 e 2006 postulou que o grupo de indivíduos com maior depleção de triptofano, apresentou humor depressivo mais acentuado7.
Foram realizados alguns ensaios clínicos e pré-clínicos, visando avaliar a depleção de triptofano e correlação com humor depressivo. Alguns autores discutem que em indivíduos saudáveis e sem histórico de depressão, a depleção de triptofano não apresenta associação positiva com o transtorno de humor. No entanto, ao avaliar indivíduos previamente deprimidos em fases remissivas, a baixa do aminoácido pareceu estar correlacionada com nova agudização de sintomas5.
Sabendo que há intrínseca correlação entre os níveis de triptofano, a produção de serotonina influenciando diretamente na produção de melatonina e impactando a qualidade do sono, se pode constatar que a ingestão deficiente de triptofano é um fator contribuinte para piora da qualidade do sono, adiamento de seu início e despertares noturnos. O que pode gerar um mecanismo de retroalimentação na piora dos transtornos de humor, uma vez que a deficiência de sono pode estar relacionada a um pior prognóstico de sintomas ansiosos e depressivos.
Considerações finais
O triptofano é um aminoácido não essencial, altamente biodisponível e amplamente utilizado em diversas vias bioquímicas importantes, desde síntese proteica, até mesmo na conversão em serotonina, dessa forma, promove desfechos positivos nos sintomas depressivos e nos distúrbios de humor em indivíduos predispostos.
Uma alimentação rica em alimentos como aveia, banana, queijos, entre outros alimentos ricos em triptofano, auxiliam no suporte desse nutriente. Caso o consumo adequado conforme a recomendação de triptofano não seja atingido, suplementos com a quantidade individualizada de triptofano podem exercer uma ótima forma de garantir a necessidade atingida.
Referências bibliográficas
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- Pardridge WM, Oldendorf WH. Kinetic analysis of blood-brain barrier transport of amino acids. Biochim Biophys Acta. 1975;401:128–36.
- Fernstrom JD. Large neutral amino acids: dietary effects on brain neurochemistry and function. Amino Acids. 2013; 45(3):419–430.
- Jenkins TA, Nguyen JC, Polglaze KE, Bertrand PP. Influence of Tryptophan and Serotonin on Mood and Cognition with a Possible Role of the Gut-Brain Axis. Nutrients. 2016 Jan 20;8(1):56.
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- Ruhé HG, Mason NS, Schene AH. Mood is indirectly related to serotonin, norepinephrine and dopamine levels in humans: a meta-analysis of monoamine depletion studies. Molecular Psychiatry. 2007; 12(4):331–359.
Gabriela Motta
@nutrigabrielamotta