Suplementação Proteica e Sarcopenia | Blog Nutrify

Suplementação Proteica e Sarcopenia

Sabe-se que a proteína é um macronutriente extremamente importante para as funções corporais normais. A sua ingestão diária varia de acordo com a idade, grau de atividade física, sexo, dentre outros fatores, mas é fundamental para que a massa e a força muscular de um indivíduo seja mantida durante toda a sua vida.

Tanto a massa muscular quanto a força muscular estão positivamente correlacionadas e estão associadas a um melhor quadro de saúde em geral, prevenção de problemas funcionais e declínios associados ao envelhecimento.

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Após os 30 anos, a massa muscular diminui a uma taxa de 0,3 a 0,8% ao ano1. Essa redução é atribuída à redução no número e, até certo ponto, no tamanho da área, de miofibrilas2. Os fatores que afetam essa redução incluem atrofia muscular relacionada à idade, diminuição da função mitocondrial, aumento do estresse oxidativo, sedentarismo, má alimentação, inflamação, dentre outros. Além disso, em indivíduos com idades de 50 a 60 anos, juntamente com a atrofia muscular, possuem a taxa de força muscular diminuindo de 2 a 4% em membros inferiores todos os anos. Com isso, observa-se que o declínio da força muscular está associada à incapacidade de tarefas rotineiras, levando o indivíduo idoso mais suscetível a quedas e consequentemente ao aumento nas taxas de mortalidade. Portanto, se faz necessário a prevenção de perdas associadas à idade, combinando alimentação, suplementação vitamínica e exercícios na terceira idade.

A sarcopenia, ou declínio musculoesquelético relacionado à idade, é caracterizada por:

(1) Baixa força (testada por meio de força de preensão palmar e teste de levantar-se da cadeira);

(2) Baixa quantidade ou qualidade muscular (confirmado por Dual X-Ray Absorptiometry  (DXA), tomografia computadorizada (TC), ou ressonância magnética (MRI), etc.); e

(3) Baixo desempenho físico (avaliado através da velocidade da marcha, teste de caminhada de 400 m, etc.)3

A etiologia potencial da sarcopenia é uma combinação de declínios na função física, perda de massa muscular, aumento da inflamação, equilíbrio hormonal alterado, ingestão inadequada de nutrientes e resistência anabólica4.  Atualmente, a sarcopenia afeta 6-19% dos indivíduos em todo o mundo com idade superior a 60 anos5. Esses indivíduos estão mais vulneráveis a um maior risco de quedas, fraturas, diminuição da qualidade de vida, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e comprometimento cognitivo. É importante ressaltar que o risco da sarcopenia depende da idade, etnia, condições de vida e condições médicas pré-existentes.

Atualmente, não existem medicamentos aprovados para o tratamento da sarcopenia, o que está disponível são suplementações que auxiliam na prevenção e no tratamento. Para idosos hospitalizados ou institucionalizados com fragilidade ou sarcopenia o atendimento padrão inclui exercícios de resistência e levantamento de peso. Porém a transição entre o leito hospitalar para a reabilitação em casa, é um tanto quanto desafiadora, pois muitos pacientes são incapazes de praticar atividade física, seja por falta de apoio familiar, automotivação, falta de equipamento próprios, dentre outros.

No entanto, a dieta é um fator de estilo de vida modificável que pode servir como um importante papel na prevenção e no tratamento da sarcopenia, como exemplo, um maior aporte proteico.

A recomendação diária atual da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Academia Nacional de Ciências de 0,8 g/kg de peso corporal/dia para adultos pode não ser suficiente para combater a sarcopenia em idosos. Evidências recentes sugerem que a ingestão de proteínas mais próxima 1,2-1,5 g/kg de peso corporal/dia, em combinação com exercício adequado, é mais benéfico em prevenir declínios relacionados à idade na massa e força muscular, melhorar o estado de saúde e reduzir o risco de mortalidade precoce6-8.

Porém a maior barreira na implementação das recomendações se dá pelo fato de o indivíduo idoso muitas vezes residir sozinho, ter inapetência, problemas com mastigação, problemas gastrointestinais. Além disso, a proteína aumenta a saciedade e, portanto, os idosos são menos propensos a satisfazer suas necessidades devido à sensação de saciedade e omissão de refeições.

Portanto, é fundamental fornecer fontes de proteína sustentáveis ​​e densas em nutrientes que irão melhorar ao máximo a massa e força muscular, reduzindo o risco para o aparecimento da sarcopenia.

Tradicionalmente, a proteína de soro de leite (Whey protein) tem sido utilizada para suplementação de proteína dietética devido à sua alta digestibilidade e perfil completo de aminoácidos, proporcionando uma boa palatabilidade e aderência entre o público mais idoso.

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  1. A resposta muscular a fontes de proteína animal versus vegetal

Pesquisa comparando as propriedades anabólicas de várias fontes de proteína vegetal e animal são importantes para determinar se condutas nutricionais específicas podem ser formuladas para maximizar a saúde muscular do idoso. Diferenças entre a proteína do soro do leite versus proteína de soja foram bem estudadas em adultos e jovens.

Volek, et al, conduziu um estudo no qual foi demonstrado que a ingestão de proteína de soja resulta em uma síntese proteica mais baixa em comparação com a proteína do soro do leite durante as condições de repouso e pós-exercício.9

No entanto, a pergunta que permanece é, existe uma fonte ideal de suplementação de proteína para idosos? Um estudo de Gorissen, et al10 demonstra as diferenças gritantes entre os tipos de suplementos proteicos, onde proteína do soro do leite, caseína, soja e ervilha têm 43%, 34%, 27% e 30% de EAAs, respectivamente. Os autores concluem que para um adulto consumir 2,7 g de leucina, um forte determinante de síntese proteica muscular, ou 10,9 g de aminoácidos essenciais, eles teriam que ingerir ~32 g de proteína do soro do leite, ~47 g de proteína caseína, ~55 g de proteína de soja e ~48 g de proteína de ervilha. Devido às diferenças no perfil de EAA entre os subtipos de proteínas.

  1. A suplementação com leucina e aminoácidos essenciais pode beneficiar os idosos com baixa ingestão de proteínas

Vários aminoácidos, como β-alanina, L-glutamina, L-arginina, L-leucina e suas forma bioativa (butirato de hidroximetila) têm sido estudadas para o manejo nutricional da sarcopenia pois são anti-catabólicos e anabólicos por natureza11. Por exemplo, estudos mostraram que a suplementação de β-alanina12-15 pode prevenir e retardar a progressão da sarcopenia, abordando a depleção sistêmica de carnosina (β-alanil l-histidina), um dipeptídeo que atua como um tampão de pH e é predominantemente encontrado no esqueleto músculo. Entretanto, desses substratos, a leucina é o mais bem estudado, e requer maior compreensão sobre a dosagem adequada e os efeitos de curto prazo versus longo prazo sobre saúde muscular11.

  1. Associações entre fontes de alimentos à base de plantas e massa muscular

Com estudos demonstrando que a resposta da síntese proteica muscular a curto prazo difere pela qualidade da proteína, digestibilidade e conteúdo de leucina, há uma necessidade de examinar a relação da proteína de ingestão usual com saúde muscular entre idosos. Além disso, é importante examinar os efeitos das fontes de proteína vegetal no músculo dentro do contexto de padrões alimentares usuais como o interesse crescente em dietas à base de plantas devido aos seus conhecidos efeitos saudáveis ​​sobre saúde metabólica16.

Consumir maiores quantidades de proteína, independentemente da fonte, pode compensar o menor teor de EAA de proteínas de origem vegetal. Além disso, podem ser combinadas na dieta para formar perfis de EAA completos. Por exemplo, as proteínas de grãos são tipicamente mais baixas em lisina e mais altas em metionina. Em contraste, os feijões possuem o perfil de aminoácidos menor em metionina, mas maior em lisina. Quando esses alimentos de proteínas vegetais são combinados, às proteínas do grão e do feijão formam um perfil de EAA que se assemelha à proteína animal17.

No entanto, a concentração de EAA no sangue pós-prandial após a ingestão de proteína vegetal combinada não era a mesma que a proteína de soro de leite quando combinado com seu conteúdo de leucina18. Portanto, índices de qualidade e digestibilidade da proteína não fornecem informações sobre o verdadeiro efeito anabólico de fontes específicas de proteínas vegetais nos tecidos do corpo em comparação com os homólogos de origem animal.

Uma revisão sistemática da literatura por van Vliet, Burd e van Loon 17 destacaram que a proteína animal é geralmente, em uma quantidade isonitrogênica, superior na promoção da síntese proteica muscular e leva a maior massa muscular em comparação com a proteína de origem vegetal (por exemplo, soja e trigo). Os autores mostram que a proteína à base de plantas oferece benefícios iguais em comparação com a proteína de origem animal em maior quantidade de ingestão. No entanto, isso pode não ser o caso em certas populações.19

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Conclusão

Conclui-se que a população idosa passa a ser clinicamente comprometida devido a sarcopenia e desnutrição proteica. Uma abordagem nutricional personalizada para fornecer proteína adequada através de uma mistura de fontes mais a suplementação de leucina suficiente pode compensar esses riscos. Dentre idosos com baixa ingestão crônica de proteínas, uma suplementação de proteína ou leucina pode ser interessante para aumentar a ingestão diária inadequada de proteínas. Com uma grande variedade de bebidas proteicas disponíveis no mercado com fontes variadas de proteína, como soro de leite, soja e proteína à base de ervilha, ficou mais acessível para os idosos conseguirem atingir a quantidade de proteína diária com produtos de excelente palatabilidade. Cabe a nós, profissionais da saúde, difundirmos a importância dessa ingestão proteica, principalmente no público da terceira idade.

 

Larissa Tullio Gouveia Gonçalves

@larissatullio.nutri

 

Referências

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