Síndrome de Burnout e Alimentação

Com a crescente exigência da vida profissional resultante do aumento das responsabilidades e horas de trabalho dos funcionários, consequentemente, também houve o aumento do risco de desenvolvimento de problemas relacionados à saúde mental que afetam diretamente o bem-estar dos indivíduos, dentre elas, a Síndrome de Burnout.

De acordo com a International Classification of Diseases1, a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é classificado pela Organização Mundial da Saúde como um distúrbio ocupacional resultante do stress crônico, exclusivamente desenvolvido no local de trabalho, condição médica. Ao contrário do que muitos pensam, o termo burnout não é de agora, foi usado pela primeira vez por Freudenberger em 1974 no seu estudo “Staff Burn-Out”3. Anos mais tarde, o burnout foi definido por Maslach et al., como uma condição caracterizada por alterações de humor (por exemplo, sintomas depressivos, ansiedade, stress e distúrbios do sono) que também estão presentes em doenças mentais já diagnosticadas como a depressão e a ansiedade4. Os seus sintomas podem ser divididos em três dimensões: exaustão, despersonalização e ineficácia profissional.

Dessa forma, como será falado adiante, a alimentação impacta de forma direta na Síndrome de Burnout, assim como esta condição impacta diretamente na alimentação.

Síndrome de Burnout e Alimentação: como a nutrição pode auxiliar?

Com o cenário da pandemia da COVID-19, houve uma crescente incidência e prevalência de casos de indivíduos com burnout, dessa forma, intervenções nutricionais visando desde o comportamento alimentar até a entrega de nutrientes passou a ser estudada como forma de prevenção e tratamento auxiliar na redução dos sintomas.

Devido ao fato da síndrome de burnout estar diretamente relacionada a quadros depressivos, o padrão alimentar recomendado para benefícios nessa condição pode auxiliar no tratamento de ambos. Diversos estudos deram destaque a inflamação sistêmica de baixo grau presente na patogênese das condições psiquiátricas, sendo assim, uma alimentação saudável com potencial anti-inflamatório é aconselhável nesse contexto pela neuroproteção causada.

Como identificado por Fagundes at. al (2013)2, a razão ômega 6/ômega 3 apresentou-se significativamente alta em indivíduos com depressão, além de maiores níveis de fatores de necrose tumoral (TNF-alfa) e interleucina 6 (IL-6), condições que demonstram o papel inflamatório nos quadros depressivos.

Outro fator de suma importância relacionado às doenças mentais é a microbiota intestinal, visto que a ligação do intestino e o sistema nervoso central através do eixo intestino-cérebro proporciona a comunicação dos centros emocionais e cognitivos do cérebro com as funções intestinais periféricas5. A microbiota é responsável pela produção de diversos neurotransmissores, além de mediar vias inflamatórias importantes6.

Além disso, é necessário avaliar a adequação do aporte de vitaminas e minerais relacionando a saúde cognitiva desde a produção de neurotransmissores, ligação a receptores, função de bombas de íon de membrana até mesmo oferecimento conforme a demanda do metabolismo energético cerebral 7,8.

Todos esses fatores supracitados podem sofrer grande influência e até mesmo serem consequência do comportamento alimentar pelo burnout, visto que o comer emocional é frequentemente definido como comer de forma excessiva em resposta a afetos negativos, levando ao consumo alto de alimentos não saudáveis. Portanto, tanto o aconselhamento nutricional quanto a terapia cognitiva comportamental são grandes aliados no tratamento da síndrome9.

Considerações finais

Sendo assim, uma alimentação equilibrada com aporte de alimentos saudáveis ricos em nutrientes é fundamental para que os transtornos psiquiátricos possam vir a ser evitados em grande parcela dos indivíduos.

De acordo com as Recomendações Nórdicas de Nutrição, os alimentos classificados como saudáveis que devem ser investidos na alimentação são as oleaginosas, lácteos com baixo teor de gordura, leguminosas, legumes e verduras, cereais integrais, peixes, ovos e carnes brancas11. Dessa forma, o aporte geral de nutrientes importantes pode ser obedecido e, com a devida supervisão de um profissional, avaliar a necessidade de suplementação para melhora e até prevenção de quadros clínicos psiquiátricos como a Síndrome do Burnout.

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Referências bibliográficas

1.   https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout#:~:text=S%C3%ADndrome%20de%20Burnout%20ou%20S%C3%ADndrome,justamente%20o%20excesso%20de%20trabalho.
2.   Fagundes CP, Glaser R, Hwang BS, Malarkey WB, Kiecolt-Glaser JK. Depressive symptoms enhance stress-induced inflammatory responses. Brain Behav Immun. 2013;31:172-176.
3.   Kang SS, Kurti A, Fair DA, Fryer JD. Dietary intervention rescues maternal obesity induced behavior deficits and neuroinflammation in offspring. J Neuroinflammation. 2014;11:156. Published 2014 Sep 12.
4.   Adan RAH, van der Beek EM, Buitelaar JK, et al. Nutritional psychiatry: Towards improving mental health by what you eat. Eur Neuropsychopharmacol. 2019;29(12):1321-1332.
5.   Lallès JP. Recent advances in intestinal alkaline phosphatase, inflammation, and nutrition. Nutr Rev. 2019;77(10):710-724.
6.   Sherwin E, Rea K, Dinan TG, Cryan JF. A gut (microbiome) feeling about the brain. Curr Opin Gastroenterol. 2016;32(2):96-102.
7.   Firth J, Teasdale SB, Allott K, et al. The efficacy and safety of nutrient supplements in the treatment of mental disorders: a meta-review of meta-analyses of randomized controlled trials. World Psychiatry. 2019;18(3):308-324.
8.   Young LM, Pipingas A, White DJ, Gauci S, Scholey A. A Systematic Review and Meta-Analysis of B Vitamin Supplementation on Depressive Symptoms, Anxiety, and Stress: Effects on Healthy and ‘At-Risk’ Individuals. Nutrients. 2019;11(9):2232. Published 2019 Sep 16.
9.   Murimi MW, Kanyi M, Mupfudze T, Amin MR, Mbogori T, Aldubayan K. Factors Influencing Efficacy of Nutrition Education Interventions: A Systematic Review. J Nutr Educ Behav. 2017;49(2):142-165.e1.
10. Penttinen MA, Virtanen J, Laaksonen M, et al. A Associação entre Dieta Saudável e Sintomas de Burnout entre Funcionários Municipais Finlandeses. Nutrientes . 2021;13(7):2393. Publicado em 13 de julho de 2021.

Gabriela Motta

@nutrigabrielamotta