Selênio é um mineral essencial para o homem, ou seja, precisamos obrigatoriamente dele a partir da alimentação. Existem 3 tipos de selênios, sendo eles, selenetos (solo ácido), selenitos (solo neutro) e selenatos (1).
O selênio da dieta vai se ligar a proteínas do corpo e formar as selenoproteínas, que será importante para realizar funções vitais em diversos órgãos (1).
Só que até chegar a ser considerado um mineral essencial, o selênio passou por diversas etapas. De início, quando foi descoberto (1817) pelo químico sueco Jons Berzelius, o mineral foi considerado cancerígeno e altamente tóxico. Já em 1957, Schwartz e Foltz descobriram a sua importância para prevenção de lesões hepáticas, musculares e vasculares em mamíferos. Em 1973, Rotruck descobriu que o selênio era um componente essencial para o funcionamento da enzima glutationa peroxidase. E finalmente, em 1979, se descobriu a essencialidade desse mineral para nutrição humana, a partir do diagnóstico da doença de Keshan (vamos falar dela mais adiante) (1).
Esse semi metal é encontrado em rochas vulcânicas e sua concentração pode variar muito a depender de fatores geoquímicos, como o pH e qual a rocha que ele está sendo extraído (rochas de origem sedimentar são mais ricas) (1). Nesse artigo não abordaremos a fundo questões geográficas.
As fontes mais comuns de selênio do homem são a partir de alimentos, suplementos, água e o próprio ar. E por conta das questões geográficas citadas anteriormente, a concentração de selênio no alimento pode variar muito dependendo da área que ele foi produzido (1).
Em um trabalho que investigou a concentração de selênio nos alimentos consumidos pela população brasileira, os que tinham a maior participação eram os peixes (atum, sardinha enlatada e merluza), fígado e gema de ovos (2).
E temos a nossa castanha-do-brasil, que é o alimento mais rico em selênio conhecido até hoje, com uma concentração que pode variar entre 8 e 126µg/g (1).
O selênio participa da ativação dos hormônios tireoidianos t4 em t3. Em caso de deficiência, vamos ver nos exames altas concentrações de T4 e baixas de T3 (1). A nível de curiosidade, a tireoide é o órgão com maior concentração de selênio no nosso corpo.
A deficiência também está ligada com o aumento da toxicidade de alguns xenobióticos (ex: drogas e inseticidas) (1).
A deficiência desse semimetal ficou muito conhecida por conta da doença de Keshan, que acometia 90-100 mil pessoas e tinha uma taxa de mortalidade de 10,2% entre 1959 e 1984 (1).
Essa doença é uma cardiomiopatia e os sinais no acometimento crônica incluem degeneração dos músculos (especialmente necrose multifocal e fibrose no miocárdio), cardiomegalia, isquemia do miocárdio, eletrocardiograma anormal e edema pulmonar. Além disso, 5% dos doentes também têm hipertrofia do fígado. Esses sinais resultam em sintomas como arritmia cardíaca, pulsação rápida, incapacidade de ficar em pé e em segurar objetos mais pesados e mialgia generalizada (1).
Também podemos ter a doença de Kashin-Beck, que é uma osteoartropatia degenerativa caracterizada por dedos aumentados e encurtados, dor articular, rigidez das articulações pela manhã, articulações deformadas e com limitações de movimentos nas extremidades e destruição celular excessiva (3).
(fonte: Biodisponibilidade dos nutrientes, 2016. COZZOLINO)
Contudo, o Kashin-Beck é muito característico de lugares onde existe a contaminação da toxina T-2, que é uma micotoxina encontrada em grãos (4). Então o selênio acaba tendo um papel importante aqui tanto na prevenção, como no tratamento da doença, pois parece que ele possui a capacidade de proteger o tecido cartilaginoso dessa toxina (5).
A ingestão a partir de 850 up/g por dia já é capaz de levar a intoxicação e a ingestão de 11 up/g leva a deficiência. Em doses acima de 1g já é causado uma intoxicação aguda com sintomas característicos (gosto de metal na boca, cheiro de alho, entre outros) (1).
Doses elevadas de selênio também poderão causar alterações nas unhas dos pés e mãos, por exemplo, ficam quebradiças, com estrias longitudinais e pontos brancos e em seguida perdem parte do tecido (geralmente iniciando pelo polegar). Os cabelos se tornam sem brilho, quebradiços e com pontas duplas. Os dentes aparecem manchas e aumenta a incidência de cárie. Na pele ocorre lesões com aparência de inflamação (geralmente mãos, planta dos pés, nuca, cotovelo e posterior de perna) (1).
Na gestação a necessidade aumenta, sendo 4up/g acima do valor recomendado normalmente para adultos saudáveis (1). A recomendação atual é de 55 mcg/dia.
Dentre os biomarcadores mais usados para avaliar o estado nutricional de selênio são aqueles obtidos a partir do material biológico sanguíneo (selênio plasmático, selênio eritrocitário, selenoproteína P plasmática e atividade das enzimas glutationa peroxidases eritrocitária, plasmática, total e de membrana celular).
Como a selenoproteína P tem uma meia vida curta de 4 horas, dietas com baixa ingestão de selênio já vão apontar uma deficiência nos exames, então o plasma sanguíneo acaba sendo um parâmetro preferível para avaliar esse nutriente (1).
Referências:
- COZOLLINO S. M. F. Biodisponibilidade dos nutrientes. 2016, 5º edição.
- ferreira, K. S. et al. Concentração de selênio em alimentos consumidos no Brasil. Rev. Panam. Saúde Pública, v. 11, p. 172-177, 2002.
- Yang L, Zhao GH, Yu FF, Zhang RQ, Guo X. Selenium and Iodine Levels in Subjects with Kashin-Beck Disease: a Meta-analysis. Biol Trace Elem Res. 2016 Mar
- Yao Y, Pei F, Kang P. Selenium, iodine, and the relation with Kashin-Beck disease. Nutrition. 2011 Nov-Dec
Sun LY, Meng FG, Li Q, Zhao ZJ, He CZ, Wang SP, Sa RL, Man WW, Wang LH. Effects of the consumption of rice from non-KBD areas and selenium supplementation on the prevention and treatment of paediatric Kaschin-Beck disease: an epidemiological intervention trial in the Qinghai Province. Osteoarthritis C
Nome: Leonardo A. Soares
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