A ideia de ter uma alternativa fácil e prazerosa que possa trazer algum benefício à saúde e qualidade de vida é muito atrativa. O “paradoxo Francês”, caracterizado pela baixa incidência de doença cardiovasculares na população francesa, poderia estar associado ao consumo moderado de vinho tinto, apesar de uma alta ingestão de gorduras saturadas. Numerosos estudos desde o século passado, apontam uma melhora da saúde cardiovascular com o consumo moderado de vinho tinto (1)
A popularidade do “Paradoxo Francês”, despertou a curiosidade de pesquisadores para avaliar se realmente o consumo de álcool traria benefícios para a saúde cardiovascular. Foi então quando aconteceu a descoberta do resveratrol, composto encontrado no vinho tinto, tornando-se um composto popular e muito estudado desde então. É classificado como uma toxina vegetal, a fitoalexina que é sintetizado nas uvas para sua proteção contra infecção por Bothrytis cinérea. (2) (3)
O resveratrol é um composto polifenóico conhecido por ‘estilbeno’ devido à sua estrutura. Está presente em amoras, framboesas, ameixas, tomates grape, açaí, amendoim e mais conhecido por estar presente na família Vitis, família das uvas (3)
Parece não haver diferença entre o resveratrol nos alimentos e no vinho em comparação com a forma de cápsula, porém a biodisponibilidade do resveratrol ainda é uma barreira a ser ultrapassada para atingir os efeitos desejados (1) (4)
A popularidade do resveratrol deve-se aos possíveis efeitos cardioprotetores, mas além deste, vários outros benefícios terapêuticos têm sido associados ao composto: Anti-inflamatórios, antioxidante, antiplaquetários, antihiperlipêmicos, imunomoduladores, vasorelaxantes e neuroprotetores (5)
Biodisponibilidade
Observou-se uma alta absorção do resveratrol em seres humanos, porém uma pequena quantidade foi encontrada no plasma, demonstrando uma baixa biodisponibilidade (3) (15)
Uma rápida conjugação do resveratrol acontece no intestino e no fígado, limitando sua disponibilidade oral e diminuindo sua eficácia farmacológica. Novas formas de administração estão sendo investigadas, incluindo desenvolvimento de análogos do resveratrol, nanopartículas, lipossomas, micelas e complexos fosfolipídicos. (3)
Efeito cardioprotetor
A insuficiência cardíaca (IC) pode ser caracterizada como a incapacidade do coração de bombear sangue suficiente para o resto dos órgãos do corpo (6)
As causas mais comuns da doença arterial coronariana (DAC) são as obstruções luminais das artérias coronárias e as fissuras das placas devido à aterosclerose, causando alta morbidade e mortalidade no mundo todo. Tratando-se de prevenção, o controle da lipidemia é fundamental no risco cardiovascular, reduzindo colesterol total e colesterol LDL na circulação (7)
A aterosclerose é vista como uma inflamação crônica de baixo grau e envolve disfunção endotelial, oxidação de lipoproteínas, citocinas pró-inflamatórias. O estresse oxidativo é um regulador chave da progressão de doenças cardiovasculares e atividade de enzimas antioxidantes é importante para o equilíbrio redox normal em humanos (6) (7)
O uso de nutracêuticos no tratamento da DAC pode ser uma alternativa ou um adjuvante aos fármacos já existentes e o resveratrol parece ter utilidade clínica, diminuindo inflamação, aumentando a função endotelial e reduzindo o estresse oxidativo (6)
Em camundongos com IC induzida por sobrecarga de pressão, o uso do resveratrol melhorou a função diastólica, remodelação cardíaca, energia miocárdica e função vascular e reduziu a fibrose miocárdica (6)
Um estudo realizado em 75 pacientes submetidos à prevenção primária de doença cardiovascular (com diabetes ou hipercolesterolemia) melhorou o estado inflamatório e fibrinolítico em pacientes que usavam estatinas, durante 1 ano de consumo de suplemento de uva rico em resveratrol (19)
Além da ação do resveratrol na dislipidemia, modulando a função das células vasculares, inibindo oxidação do LDL e suprimindo agregação plaquetária, especula-se sua ação por outros mecanismos que podem atuar na DAC, porém ainda são necessários mais estudos para tornar estes resultados consistentes (20)
Um fato importante é ser considerado, é ação hormética do resveratrol, que é definida como um relação dose-resposta, estimulante em doses baixas e prejudicial em doses mais altas. Um estudo feito em ratos mostrou os benefícios do resveratrol em uma curva em formato de U invertido, onde as doses mais baixas (2,5 ou 5mg/kg) mostraram benefícios e as doses mais altas (acima de 25mg/kg) foram prejudiciais (13) (14)
Inflamação
O próprio tecido adiposo gera um processo inflamatório sistêmico, que protegem o organismo de potenciais estímulos nocivos. Essas reações inflamatórias se mantidas a longo prazo, podem trazer efeitos deletérios ao organismo, que é o que acontece em indivíduos obesos e inativos (11)
Existe uma clara associação entre obesidade, inflamação de baixo grau e doenças associadas à obesidade, e como a perda e manutenção de peso continuam sendo um grande problema, a busca por substâncias anti-inflamatórias vêm aumentando (11)
A inflamação desempenha um papel prejudicial na DAC, o que culminou em um aumento das pesquisas sobre o efeito anti-inflamatório do resveratrol (11)
Um dos potenciais efeitos antiinflamatórios do resveratrol é o aumento da ativação da enzima 1 relacionada ao fator 2 do regulador de informação silenciosa (SIRT1), que possui papel chave na regulação do metabolismo e demonstrou agir como protetora da inflamação em camundongos (11)
Os estudos com administração de resveratrol realizados em humanos mostraram um efeito anti-inflamatório modesto, com diferentes dosagens e diferentes desenhos de estudos, portanto ainda são necessárias mais pesquisas para chegar a uma conclusão clara (11)
Diabetes
O diabetes é uma das principais comorbidades associadas à IC, aumentando o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (7)
Alguns estudos clínicos mostraram propriedades antidiabéticas do resveratrol, como resistência à insulina, hiperinsulinemia e hiperglicemia e uma meta-análise mostrou que o consumo de resveratrol reduz a glicose em jejum, insulina, hemoglobina glicada e resistência à insulina em pacientes diabéticos (8) (9)
Quando suplementado 150mg por dia de resveratrol em pessoas obesas, houve melhora da sensibilidade à insulina, medido pelo índice HOMA, juntamente com reduções na glicose e insulina (10)
Em um estudo com 10 idosos foram suplementadas doses entre 1 e 2g/dia de resveratrol, mostrando melhora na sensibilidade à insulina e glicemia pós prandial em indivíduos com tolerância diminuída à glicose (16)
Em estudo com pacientes diabéticos em uso de hipoglicemiantes orais, a suplementação com resveratrol melhorou o controle glicêmico, reduzindo a resistência à insulina. Mostrou também impacto signitficativo na inflamação crônica e estresse oxidativo, sendo útil na redução das complicações do diabetes (21)
Já um estudo feito em mulheres não obesas e com tolerância normal à glicose, não mostrou benefícios adicionais da suplementação com resveratrol , sugerindo que a melhora dos desfechos metabólicos ocorra apenas em indivíduos obesos ou com alterações metabólicas (17) (18)
Hipertensão
A hipertensão está associada à disfunção endotelial e diminuição do óxido nítrico (NO). O resveratrol reduz o estresse oxidativo, podendo ajudar na produção de NO e reduzir a pressão arterial, mostrando efeitos promissores com sua suplementação, porém mais estudos em humanos ainda devem ser avaliados para determinação de doses e efeitos de duração (22)
Dosagens
O limite inferior da suplementação tende a ser para saúde cardiovascular e sensibilidade à insulina em indivíduos não saudáveis é de 5 a 10mg por dia. Em pessoas saudáveis foram usadas doses entre 150 e 450mg, sem indicação clara sobre a dose ideal.
Conclusão
Os estudos sobre a suplementação de resveratrol in vitro e em animais mostraram benefícios, porém em ensaios clínicos ainda são conflitantes. A biodisponibilidade ainda é uma barreira para atingir os resultados desejados, portanto a perspectiva é de que novos estudos possam trazer dados mais consistentes
Referências Bibliográficas
1 – Smoliga, J.M., Baur, J.A., Hausenblas, H.A., Resveratrol and health–a comprehensive review of human clinical trials, Mol Nutr Food Res., 2011
2 – Constant, J., Alcohol, ischemic heart disease, and the French paradox, Coron Artery Dis., 1997
3 – Rousselot-Bonnefont, D., Resveratrol and Cardiovascular Diseases, Nutrients, 2016
4 – De Santi C., et. Al., Sulphation of resveratrol, a natural compound present in wine, and its inhibition by natural flavonoids, Xenobiotica, 2000
5 – Shaito, A., et. Al., Potential Adverse Effects of Resveratrol: A Literature Review, IntJ Mol Sci., 2020
6- Dyck, G.J.B., The Effects of Resveratrol in Patients with Cardiovascular Disease and Heart Failure: A Narrative Review, Int J Mol Sci, 2019
7 – Chan, S-H., et. Al., SIRT1 inhibition causes oxidative stress and inflammation in patients with coronary artery disease, Redox Biol., 2017
8 – Szkudelski, T., Szkudelska, K., Resveratrol and diabetes: from animal to human studies, Biochim Biophys Acta., 2015
9 – Liu, K., Effect of resveratrol on glucose control and insulin sensitivity: a meta-analysis of 11 randomized controlled trials, Am J Clin Nutr., 2014
10 – Brasnyó, P., et. Al., Resveratrol improves insulin sensitivity, reduces oxidative stress and activates the Akt pathway in type 2 diabetic patients, Br J Nutr, 2011
12 – Poulsen, M., Resveratrol and inflammation: Challenges in translating pre-clinical findings to improved patient outcomes, Biochim Biophys Acta., 2015
13 – Dudley, J., et. Al., Resveratrol, a unique phytoalexin present in red wine, delivers either survival signal or death signal to the ischemic myocardium depending on dose, J Nutr Biochem, 2009
14 – Juhasz, B., Mukherjee, S., Das, D.K., Hormetic response of resveratrol against cardioprotection, Exp Clin Cardiol., 2010
15 – Gambini, J., et. Al., Properties of Resveratrol: In Vitro and In Vivo Studies about Metabolism, Bioavailability, and Biological Effects in Animal Models and Humans, Oxid Med Cell Longev., 2015
16 – Crandall, J.P., Pilot study of resveratrol in older adults with impaired glucose tolerance, J Gerontol A Biol Sci Med Sci., 2012
17 – Yoshino J., Et.al., Resveratrol supplementation does not improve metabolic function in nonobese women with normal glucose tolerance, Cell Metab., 2012
18 – Brito, F.M., Resveratrol e suas implicações para a saúde, Dissertação (Mestrado em Nutrição) – Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Nutrição. Programa de Pós-Graduação em Nutrição. Maceió, 2016
19 – Thomé-Carneiro, J., et. Al., One-year consumption of a grape nutraceutical containing resveratrol improves the inflammatory and fibrinolytic status of patients in primary prevention of cardiovascular disease, Am J Cardiol., 2012
20 – Bradamente, S., Barenghi, L., Villa, A., Cardiovascular protective effects of resveratrol, Cardiovasc Drug Ver., 2004
21 – Mahjabeen, W., Khan, D.A., Mirza S.A., Role of resveratrol supplementation in regulation of glucose hemostasis, inflammation and oxidative stress in patients with diabetes mellitus type 2: A randomized, placebo-controlled trial, Complement Ther Med., 2022
22 – DiNatale, J.C., Crowe-White., K.M., Effects of resveratrol supplementation on nitric oxide-mediated vascular outcomes in hypertension: A systematic review, Nitric Oxide., 2022
Fontes de resveratrol. Vantagens da suplementação
(biodisponibilidade, quantidade, etc)
