O Reforço Imunológico de Micronutrientes e Compostos Bioativos

É conhecido que os micronutrientes e compostos bioativos afetam positivamente o funcionamento do sistema imunológico, principalmente através do consumo de vegetais e frutas. Eles agem como imunomoduladores e protegem a resposta imune do hospedeiro, prevenindo a invasão por organismos patogênicos. Contudo, estudos demonstram, muitas vezes, que o consumo adequado de vegetais e frutas é insuficiente pela maioria da população [1]. Deficiências de concentrações de vitaminas e minerais no plasma podem levar à redução na performance do sistema imune, representado um fator chave não favorável para o estado imunológico [2].

Funções desempenhados por algumas vitaminas e minerais e compostos bioativos como imunomoduladores

 

Vitamina B1

A vitamina B1, também conhecida como tiamina, é uma vitamina solúvel em água e pode ser obtida a partir dos alimentos. A deficiência dessa vitamina está ligada à neuroinflamação, infiltração de células T, e a superexpressão de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α). Além disso, quando em quantidades insuficientes, regula positivamente a expressão de CD40 e CD40L pelas células da micróglia e astrócitos, induzindo a morte neuronal. Nesse contexto, foi verificado que a sua suplementação significativamente reduziu a resposta inflamatória em células da micróglia estimuladas por LPS (lipopolissacarídeos). A tiamina também suprimiu a atividade pró-oxidativa dessas células, sugerindo sua função em doenças neurodegenerativas [3].

Vitamina B12

Em relação a vitamina B12, sua deficiência resulta na regulação negativa dos linfócitos e afeta as funcionalidades das células NK (Natural Killers), fundamentais para eliminar as células tumorais. Pacientes com deficiência de vitamina B12 têm uma proporção menor de células T CD8+ do que a maioria da população, essas são importantes nas respostas contra vírus. Corroborando com esses dados, a administração de vitamina B12 em pacientes com deficiência restaurou a produção de células T CD8+, retornou a razão de células T CD4+/CD8+ e atividade de células NK [4].

Cobre

No que se refere ao cobre, há um amplo conhecimento da sua função como protetor do sistema imunológico, suportado por um grande conjunto de evidências experimentais. Deficiências leves a graves de cobre resultam na redução da produção de IL-2 e diminuição da proliferação das células T, resultando em linfopenia, tornando-o um elemento essencial à manutenção de um sistema imunológico saudável. Os neutrófilos também são afetados quando existe insuficiência de cobre, reduzindo a capacidade de produzir ânions superóxido e destruir bactérias ingeridas. Além disso, o cobre pode rapidamente doar e aceitar elétrons, desempenhando um papel importante em reações redox e eliminação de radicais livres [5].

Zinco

O zinco está envolvido na tradução, transporte e replicação do DNA, as células do sistema imune apresentarem altas taxas de proliferação, portanto esse mineral é essencial para a pronta resposta do sistema imune. Nesse sentido, ele influência a atividade das enzimas envolvidas no processo de mitose como a ornitina descarboxilase, a DNA e a RNA polimerase, além da timidina quinase. O zinco pode também afetar o processo de fagocitose dos macrófagos e neutrófilos, interferir na lise celular mediada por células NK e ação citolítica das células T.

Evidências experimentais indicam que durante a deficiência de zinco ocorre diminuição da razão CD4:CD8 e de precursores de linfócitos-T citotóxicos. Essa modificação das proporções entre os linfócitos pode contribuir para o desiquilíbrio do sistema imunológico, afetando sua resposta e regulação. Foi demonstrado também que a deficiência de zinco está relacionada com a atrofia do timo [6,7].

pote de zinco da nutrify com uma mão segurando uma cápsula

Antocianinas

Estudo avaliou modificações da função imunológica em humanos que ingeriram suco contendo compostos fenólicos, em maior proporção de antocianinas (glicosídeos de cianidina), durante duas semanas. Os resultados mostraram melhora nos biomarcadores de função imunológica, como dos linfócitos, incluindo aumento da responsividade, secreção de IL-2 e diminuição do dano oxidativo ao DNA, além da elevação da atividade lítica de células NK comparados ao controle [8].

Além disso, as antocianinas demonstraram efeito na diminuição da resposta imunológica relacionada ao desenvolvimento de artrite reumatoide. As células T auxiliares tipo 17 (Th17) são uma das principais células T auxiliares envolvidas na patogênese e na progressão da artrite reumatoide. As antocianinas foram capazes de diminuir o número de células Th17 em testes in vitro e in vivo. Além de modular a expressão de NF- κb, responsável pela síntese de células imunológicas e interleucinas inflamatórias. É conhecido que a IL-6 (interleucina-6) pode induzir a diferenciação de células T CD4+ em Th17, assim, esse poderia ser o mecanismo de ação das antocianinas a respeito da diminuição da concentração de células Th17 observadas nos estudos [9].

Licopeno

Pesquisa, duplo-cego, randomizada, controlada por placebo realizada com pacientes diabéticos do tipo 2, observou que a suplementação com licopeno estava associada ao aumento de IgM no plasma dos indivíduos tratados, ou seja, foi capaz de modular o sistema imune inato. Esses anticorpos podem reconhecer epítopos específicos para a oxidação, e assim, estarem envolvidos na captação e detoxificação de lipídeos oxidados pró-inflamatórios. Dessa forma, as IgM podem inibir a ligação de macrófagos a LDL oxidada e, por consequência, o desenvolvimento de aterosclerose [10].

 

Bibliografia:

[1]        Kalmpourtzidou A, Eilander A, Talsma EF. Global vegetable intake and supply compared to recommendations: A systematic review. Nutrients 2020;12. https://doi.org/10.3390/nu12061558.

[2]       Mitra S, Paul S, Roy S, Sutradhar H, Emran T Bin, Nainu F, et al. Exploring the Immune-Boosting Functions of Vitamins and Minerals as Nutritional Food Bioactive Compounds: A Comprehensive Review. Molecules 2022;27. https://doi.org/10.3390/molecules27020555.

[3]       Bozic I, Savic D, Laketa D, Bjelobaba I, Milenkovic I, Pekovic S, et al. Benfotiamine attenuates inflammatory response in LPS stimulated BV-2 microglia. PLoS One 2015;10. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0118372.

[4]       Erkurt MA, Aydogdu I, Dikilitaş M, Kuku I, Kaya E, Bayraktar N, et al. Effects of cyanocobalamin on immunity in patients with pernicious anemia. Medical Principles and Practice 2008;17:131–5. https://doi.org/10.1159/000112967.

[5]       Cheng F, Peng G, Lu Y, Wang K, Ju Q, Ju Y, et al. Relationship between copper and immunity: The potential role of copper in tumor immunity. Front Oncol 2022;12. https://doi.org/10.3389/fonc.2022.1019153.

[6]       Bonaventura P, Benedetti G, Albarède F, Miossec P. Zinc and its role in immunity and inflammation. Autoimmun Rev 2015;14:277–85. https://doi.org/10.1016/j.autrev.2014.11.008.

[7]       Costa MI, Sarmento-Ribeiro AB, Gonçalves AC. Zinc: From Biological Functions to Therapeutic Potential. Int J Mol Sci 2023;24. https://doi.org/10.3390/ijms24054822.

[8]       Bub A, Watzl B, Blockhaus M, Briviba K, Liegibel U, Müller H, et al. Fruit juice consumption modulates antioxidative status, immune status and DNA damage. 2003.

[9]       Min HK, Kim SM, Baek SY, Woo JW, Park JS, Cho M La, et al. Anthocyanin extracted from black Soybean seed coats prevents autoimmune arthritis by suppressing the development of Th17 cells and synthesis of proinflammatory cytokines by such cells, via inhibition of NF-ΚB. PLoS One 2015;10. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0138201.

[10]     Neyestani TR, Shariatzadeh N, Gharavi A, Kalayi A, Khalaji N. Physiological dose of lycopene suppressed oxidative stress and enhanced serum levels of immunoglobulin M in patients with Type 2 diabetes mellitus: A possible role in the prevention of long-term complications. vol. 30. 2007.

 

 

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