A proteína e sua função no envelhecimento saudável

O envelhecimento, antes considerado um fenômeno, hoje, faz parte da realidade da maioria das sociedades. O mundo está envelhecendo. Tanto isso é verdade que se estima para o ano de 2050 que existam cerca de dois bilhões de pessoas com mais de sessenta anos no mundo, a maioria delas vivendo em países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que existam, atualmente, cerca de 30,1 milhões de idosos. Nesse sentido, o aumento dessa população visa uma longevidade saudável e para tanto, uma ingestão alimentar de micronutrientes e macronutrientes adequada é fundamental.

As comunidades científicas concordam que a proteína na dieta tem efeito benéfico em relação a massa magra do organismo, principalmente massa muscular. Por exemplo, a Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA) afirma também que a proteína é essencial para o crescimento e manutenção de ossos. A massa óssea atinge seu máximo por volta dos 25 e 35 anos, posteriormente, há uma queda gradual até os 60 anos, que se acentua com idades maiores. Para mulheres essa queda pode ser mais acentuada após a menopausa.

Modificações do metabolismo de proteínas com o envelhecimento

Como conhecido, a nutrição parece ser reguladora da chave de fatores no controle da massa muscular. Está bem estabelecido que após a ingestão de proteínas/aminoácidos ocorre um aumento transitório da síntese de proteína muscular (SPM) (com pico em ~ 2h), que ajuda a reabastecer a proteína perdida durante períodos de jejum e, portanto, mantendo estável a massa muscular em adultos jovens. Esta “janela anabólica” para aumentar a SPM é estendida quando a nutrição é combinada ao exercício. É importante salientar que a responsividade ao estímulo anabólico tem demonstrado estar significativamente diminuída em idosos. Por exemplo, o aumento pós-prandial de SPM em idosos está reduzida quando comparada a adultos, a redução pode chegar até 40% com o consumo da mesma quantidade de aminoácidos essenciais.

Dessa forma, com o envelhecimento ocorre a perda da sensibilidade muscular ao efeito anabólico dos aminoácidos da dieta, sendo essa perda associada a um aminoácido essencial, a leucina em particular. A leucina, como já bem estabelecida na literatura científica, além de substrato para a síntese proteica, também estimula sinais intracelulares no músculo para o início da síntese proteica, como o sinal da via do mTOR (proteína alvo mamífero da rapamicina).

Além disso, no idoso ocorre a diminuição da captação muscular de aminoácidos da dieta, menor disponibilidade de aminoácidos pós-prandiais, menor perfusão muscular e menor capacidade digestiva pela redução da secreção da mucosa gástrica. É importante salientar, que o idoso também pode sofrer de “anorexia do envelhecimento”, que significa redução do apetite e consecutivamente menor ingestão de alimentos. Essa redução é conhecida como uma síndrome geriátrica que pode levar a desnutrição.

Estudos epidemiológicos também sugerem o papel benéfico da proteína dietética na saúde óssea. A ingestão de proteína tem sido positivamente associada à densidade mineral óssea (DMO) em mulheres na pré-menopausa, pós-menopausa e homens, com idade entre 68-91 anos em estudo transversal.

Recomendações de ingestão de proteínas

A Recomendação tradicional de proteínas de 0,8 g por kg de peso corporal/dia para adultos independentemente da idade, foi discutida para indivíduos idosos. Assim, com base nas evidências, os idosos necessitam de quantidades maiores de proteína para preservação da massa magra, das funções e da saúde. Por isso, a recomendação atual de proteínas para os idosos saudáveis deve ser de 1,0 g a 1,2 g/Kg/dia segundo as diretrizes da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) e a Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral (BRASPEN).

A Sociedade de Medicina Geriátrica Europeia (EUGMS) recomenda em idosos praticantes de exercício físico uma ingestão de proteínas igual ou superior à 1,2 g por kg de peso corporal/dia para melhorar a capacidade física, estado de saúde e reduzir riscos de mortalidade precoce. O grupo de especialistas da ESPEN, recomenda um aumento adicional da ingestão para 1,2 a 1,5 g por kg de peso corporal/dia quando os idosos estão cronicamente doentes ou desnutridos.

Para os idosos, a resistência anabólica pode ser vencida através da combinação da ingestão de proteínas e exercício físico. Eles atuam sinergicamente no anabolismo do músculo melhorando assim o balanço nitrogenado positivo. A distribuição da quantidade de proteína entre 25 a 30 gramas, nas principais refeições do dia, é uma estratégica conhecida e utilizada para otimizar a massa magra e aumentar a performance física do idoso.

A melhor fonte proteica para melhor ou manter a massa muscular no idoso é aquela com maior digestibilidade e absorção e com maior disponibilidade de aminoácidos pós-prandial, um exemplo seria o whey protein. Além disso, estudos com idosos saudáveis tem apontado que a adição de leucina a uma refeição proteica melhora a síntese muscular, e que aproximadamente 2,5 g de leucina por refeição são suficientes para gerar o efeito. Uma proporção maior de leucina seria necessária para estimular a taxa de síntese de proteínas musculares em idosos, em comparação com adultos mais jovens.

Como conclusão, é crescente o conhecimento a respeito da interação dos nutrientes e dos processos fisiológicos do envelhecimento. Nesse contexto, a ingestão adequada de nutrientes, como de proteínas, é um aliado à manutenção da massa muscular e seus possíveis efeitos benéficos no metabolismo como um todo.

 

 

Referências:

https://doi.org/10.1093/aje/155.7.636

https://doi.org/10.1093/ajcn/77.6.1517

https://doi.org/10.1017/S0029665120007934

https://doi.org/10.1016/j.clnu.2022.01.024

https://www.sbnpe.org.br/_files/ugd/a8daef_13e9ef81b44e4f66be32ec79c4b0fbab.pdf

http://dx.doi.org/10.20947/S0102-3098a0129

 

 

 

 

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