Própolis verde e efeitos na imunidade

A própolis é uma substância resinosa quimicamente complexa produzida pelas abelhas a partir de exsudatos coletados em diferentes partes das plantas (brotos, casca, botões florais e exsudatos resinosos). Tem sido utilizada na medicina popular há séculos devido a suas propriedades terapêuticas. Ela tem demonstrado propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias, antitumorais, antioxidantes e imunomoduladoras. A composição da própolis é extremamente complexa, mais de 400 substâncias diferentes já foram identificadas. A origem botânica parece ser o fator mais importante a ser considerado na tentativa de explicar a variabilidade química entre diferentes amostras de própolis.

As amostras originárias de zonas temperadas, como na Europa, América do Norte e regiões não tropicais da Ásia são quimicamente similares, predominantemente compostas por substâncias flavonoides, como o éster feniletil do ácido cafeico (CAPE). Em contrapartida, nas regiões de clima tropical, há uma grande variabilidade química entre as amostras de própolis. A mais conhecida e estudada é a própolis verde, produzida a partir de uma planta conhecida popularmente por alecrim do campo (Baccharis dracunculifolia). Dessa forma, a própolis verde tem características químicas e biológicas diferenciadas, sua ação biológica deriva da alta quantidade de ácidos fenólicos e flavonoides, sendo os principais constituintes: ácido cinâmico, ácido cumárico, quercetina, rutina, apigenina, artepilina C e éster fenetílico do ácido caféico.

 

Própolis e Imunomodulação

A própolis tem ação nos macrófagos, células conhecidas por desempenharem um papel fundamental na fagocitose, geração de radicais livres, mediação de processos inflamatórios e secreção de componentes do sistema complemento (citocinas e enzimas, por exemplo), parte fundamental da imunidade inata, sendo um meio rápido e eficiente de proteção do hospedeiro contra microrganismos invasores. A ação da própolis nos macrófagos resulta em aumento de sua capacidade fagocítica, pela estimulação da secreção de citocinas (fator de necrose tumoral α- TNF-α), e outras substâncias como o óxido nítrico (NO) e espécies reativas do oxigênio. Foi observado que os flavonoides existentes na própolis demonstraram capacidade de ativar a proteína C1q nos macrófagos, envolvida na ativação do sistema complemento. Corroborando com esses dados, foi constatado que amostras de própolis verde brasileira aumentam a atividade bactericida de macrófagos.

A própolis também restringe a capacidade da diferenciação de linfócitos T-Th1 e Th17, os linfócitos Th17 tem forte relação ao início de doenças autoimunes, como a psoríase, dessa forma, a inibição da diferenciação pode prevenir doenças autoimunes e inflamatórias. Um dos mecanismos propostos pode ser através da artepilina C, um dos compostos majoritários da própolis verde, este inibiu interferon-γ (IFNγ) e interleucina-17 (IL-17) em células T CD4+ alorreativas, o que pode estar relacionado com a supressão da diferenciação de Th1 em Th17.

Ela também pode através do incremento das respostas imunes celular e humoral ter efeito adjuvante em vacinas, uma vez que a própolis quando adicionada ao herpesvírus suíno tipo 1 (SuHV-1) juntamente com hidróxido de alumínio, em uma vacina inativada, inoculada em camundongos, aumentou tanto a resposta imune celular quanto a humoral, quando comparado com um tratamento em que o SuHV-1 foi utilizado isoladamente com o hidróxido de alumínio. Esse efeito foi mais evidente quando a inclusão de própolis nas vacinas experimentais aumentou a proteção dos animais após serem desafiados com o SuHV-1. Os pesquisadores observaram alta quantidade de compostos fenólicos na amostra, principalmente de ácido cinâmico e derivados.  Estudo aponta que a atividade imunoestimulante dos compostos fenólicos é atribuída ao incremento da proliferação de linfócitos.

No mesmo sentido, a própolis verde foi utilizada como adjuvante de vacinas contra o herpesvirus bovino tipo 5 – BoHV-5. Os animais que receberam a vacina juntamente com a própolis apresentaram níveis mais significativos de anticorpos em relação ao grupo controle, a habilidade em modular a síntese de anticorpos é parte da atividade imunoestimulante da própolis. A ação sinérgica dos compostos também pode modular mecanismo imunológicos, pois regula positivamente a expressão de TLR-2 e TLR-4 (receptor Toll-like 2 e 4), promovendo o reconhecimento de microrganismos e os estágios iniciais da resposta imune [22,23].

A própolis também demonstrou potencial anti-inflamatório, ação antialérgica e antioxidante em monócitos humanos, esses desempenham papel importante em muitas doenças inflamatórias. Os principais mecanismos envolvidos na ação anti-inflamatória da própolis incluem a inibição da ciclooxigenase e da biossíntese de prostaglandinas. Já ação antioxidante foi pelo aumento da atividade da enzima superóxido dismutase 1, que catalisa a dismutação do radical ânion superóxido (O2•–) em oxigênio e peróxido de hidrogênio. Em modelos de macrófagos, a própolis foi capaz de diminuir os níveis de citocinas pró-inflamatórias IL-6, TNF-α e 1L-1β, concomitantemente, houve aumento nos níveis de IL-10, citocina anti-inflamatória.

Estudo randomizado, controlado e aberto avaliou a ingestão de extrato de própolis verde padronizada como terapia adjuvante em indivíduos com COVID-19. Os pacientes (n=127) foram alocados para receber o tratamento padrão mais dose oral de 400 mg ou 800 mg/dia de extrato padronizado de própolis verde (EPP-AF®) por sete dias, ou apenas o tratamento padrão. Este tratamento se refere as intervenções necessárias e foi determinado pelo médico. Foram avaliados os seguintes parâmetros: tempo de melhora clínica, definido como tempo de internação hospitalar ou a duração da dependência de oxigenoterapia, lesão renal aguda e necessidade de cuidados intensivos. Os pacientes foram acompanhados por 28 dias após a internação. Como resultado, os indivíduos que receberam ambas as quantidades de própolis apresentaram menor tempo de internação comparado ao grupo controle, sendo essa diferença significativa. No grupo de menor dose o tempo médio de internação foi de 7 dias, no grupo de maior dose foi de 6 dias, já para o controle esse tempo foi de 12 dias.

Outro estudo utilizando o mesmo extrato padronizado de própolis verde (EPP-AF®) observou melhoras de parâmetros antioxidantes em indivíduos saudáveis que consumiram o extrato por 7 dias, foi relatado redução de biomarcadores do estresse oxidativo que avaliaram danos ao DNA (8-hidroxiguanosina) e peroxidação lipídica (8-isoprostana). É conhecido que o estresse oxidativo impacta na resposta imunológica, a estimulação constante do sistema imune pode acarretar exacerbação de respostas imunológicas.

Em resumo, a própolis apresenta potencial em modular o sistema imune através de diversos fatores como, por exemplo, estímulo de macrófagos, restrição da diferenciação de células T, além de aumentar o reconhecimento de patógenos e, assim, possibilitando os estágios iniciais da resposta imune.

 

Artigos

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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3541042/

https://www.hindawi.com/journals/ecam/2020/7538232/

https://www.nature.com/articles/s41423-022-00902-0

 

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