Quais os principais e mais potentes antioxidantes? | Blog Nutrify

Quais os principais e mais potentes antioxidantes?

Os radicais livres são produzidos no organismo em condições normais ou por processos exógenos, como por exemplo através do tabagismo, poluição, radiação, solventes orgânicos, pesticidas e anestésicos, que provocam dano dos ácidos nucleicos, das proteínas, dos lipídios da membrana celular e das lipoproteínas plasmáticas, podendo causar câncer, doenças cardiovasculares, desordens inflamatórias, doenças autoimunes e doenças do envelhecimento1,2.

Os desequilíbrios entre a liberação de espécies reativas de oxigênio e a capacidade de ação dos sistemas de defesa antioxidante acontece de forma recorrente e resulta no estresse oxidativo3. A fim de reduzir os danos causados às células pelas espécies reativas de oxigênio, nosso organismo usa de seu sistema de defesa antioxidante4. Esse sistema, por sua vez, é classificado quanto à origem e localização, em antioxidantes dietéticos ou exógenos, antioxidantes intracelulares e antioxidantes extracelulares4.

De acordo com a Anvisa (1961)5, antioxidante é caracterizado por ser uma substância responsável por retardar o aparecimento de alterações oxidativas nos alimentos. Mesmo em quantidades pequenas, os antioxidantes nos alimentos têm a capacidade de impedir a oxidação, bem como o off-flavor formado no processo de rancificação em alguns alimentos, o que gera uma certa rejeição do consumidor e um impeditivo para o consumo6.

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Polifenóis

Compostos fenólicos ou polifenóis refere-se a um grupo de cerca de 8.000 moléculas encontradas em grande parte de vegetais, frutas, chás, café, cacau e até mesmo alguns produtos industrializados7,8. Dessa forma, pode-se dizer que no meio de tantos antioxidantes os polifenóis são os mais abundantes.

Apesar de apresentarem uma estrutura química comum, derivada do benzeno ligada a um grupo hidrofílico7, os polifenóis variam estruturalmente de uma simples molécula fenólica, como, por exemplo, os fenóis simples, o pirocatecol, a hidroquinona e o resorcinol. Já para complexos polímeros de alto peso molecular estão os taninos, as ligninas, as catequinas ou leucoantocianidina9. Estruturalmente os compostos fenólicos apresentam uma cadeia com um ou mais anéis aromáticos ligados a um ou mais radicais hidroxilas. Sua divisão ocorre a partir do número de anéis fenólicos e das estruturas em que estão ligadas9.

Múltiplos efeitos biológicos do consumo de compostos fenólicos presentes em alimentos como vegetais, frutas, chás e vinhos são evidenciados em vários estudos por possuírem ação antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e até mesmo anticacinogênica27. Porém, além de depender da sua biodisponibilidade7, o conteúdo final de compostos fenólicos presente em alimentos depende das condições em que o alimento se encontra, como por exemplo: espécie, maturação, colheita, armazenamento, cultivo9.

No caso do LDL, uma estrutura lipofílica que, uma vez oxidada, participa do desenvolvimento da aterosclerose, em muitos estudos mostram que os polifenóis possuem a capacidade de proteger a LDL da oxidação7.

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Licopeno

Licopeno é um carotenóide reconhecido por ser um dos antioxidantes mais potentes entre os carotenóides dietéticos, podendo ser encontrado em alimentos de cor vermelha, como tomates e seus produtos, goiaba, melancia, mamão e pitanga10.

Em relação à sua biodisponibilidade, fator de extrema importância para suas atividades biológicas8, foi visto que o consumo de molho de tomate aumenta as concentrações séricas de licopeno em taxas maiores quando comparado ao consumo de tomates crus ou até mesmo suco de tomate fresco11. Dessa forma, percebe-se que apesar do cozimento causar algumas perdas no teor de carotenóides, há aumento da sua biodisponibilidade. Outro ponto que deve-se atentar para que haja bom aproveitamento desse composto é a presença de fibras na dieta, particularmente as pectinas, a ausência de lipídios e a inadequada produção de bile7.

Embora o licopeno exerça benefícios para diversas doenças como câncer, melanoma, infertilidade, doenças inflamatórias, obesidade, hipertensão, entre outras, este composto é especialmente útil em doenças cardiovasculares12. De acordo com Aust et. al. (2003)17, a dosagem de 5 a 7 mg de licopeno por dia podem ser suficientes para se obter os benefícios, sendo que doses mais altas de cerca de 35-75 mg/dia podem ser fornecidas na ocorrência de câncer ou doença cardiovascular.

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Selênio

O selênio, apesar de ter sido descoberto pelo químico sueco Jons Jakob Berzelius no ano de 1817, apenas no ano de 1979 foi reconhecida sua essencialidade através do diagnóstico da doença de Keshan, uma cardiomiopatia descoberta por cientistas chineses8. Desde então, diversas pesquisas e novas investigações foram realizadas para que houvesse a identificação das funções do selênio no corpo humano7,13.

Ainda que a castanha-do-brasil seja o alimento mais rico em selênio conhecido até hoje, com concentração entre 8 e 126μg de selênio/g, outros alimentos como os cogumelos, frutos do mar, fígados, leveduras, cereais e espécies crucíferas (mostarda, repolho, brócolis e couve-flor) apresentam-se como outras opções de fontes de selênio7,13.

Dentre as principais funções atribuídas ao selênio são: função antioxidante, participação na conversão de T4 em T3, proteção contra ação nociva de metais pesados e xenobióticos, prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, aumento da resistência no sistema imunológico e fertilidade masculina7.

No caso da regulação da função tireoidiana, o selênio atua através de selenoproteínas para proteger a célula tireoidiana durante a sua síntese hormonal, visto que a deficiência em selênio causa um decréscimo de 15 a 20% em T3 e T4. Já no caso do seu papel antioxidante, o selênio relaciona-se às selenoproteínas, como por exemplo a selenoproteína P e às GPx dele dependentes, também conhecidas como conhecidas quatro GPx dependentes de selênio7.

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Considerações finais

A atividade biológica dos compostos bioativos está intimamente relacionada com a sua biodisponibilidade. O conceito de biodisponibilidade integra muitas variáveis, como a absorção intestinal, o metabolismo pela microflora, o metabolismo intestinal e hepático, a natureza dos metabólitos circulantes, a excreção pelas vias urinária e biliar, bem como a variabilidade intra e interindividual. Integrar todas as informações e relacioná-las com os efeitos na saúde, possibilitando a elaboração de recomendações de consumo são os desafios atuais.

Evidências se acumulam sobre os efeitos terapêuticos dos compostos bioativos, o que aumenta a importância do entendimento da biodisponibilidade desses compostos in vivo. Contudo, ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas a respeito desse assunto e esse pode constituir um campo promissor para novas pesquisas. É importante também ressaltar que a dieta perfaz um papel fundamental no estilo de vida saudável, mas não é o único fator.

 

Referências bibliográficas

  1. SILVA, M. L. C. et al. Compostos fenólicos, carotenóides e atividade antioxidante em produtos vegetais Phenolic compounds, carotenoids and antioxidant activity in plant products. Semina: Ciências Agrárias, v. 31, n. 3, p. 669–682, 2010.
  2. SOARES, S. E. Ácidos fenólicos como antioxidantes. Revista de Nutrição, v. 15, n. 1, p. 71–81, jan. 2002.
  3. GILLIES, P. J. Nutrigenomics: the Rubicon of molecular nutrition. Journal of the American Dietetic Association, v. 103, n. 12, p. 50–55, 1 dez. 2003.
  4. YILDIRIM, A.; MAVI, A.; KARA, A. A. Determination of Antioxidant and Antimicrobial Activities of Rumex crispus L. Extracts. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 49, n. 8, p. 4083–4089, ago. 2001.
  5. ANVISA-BRASIL. Decreto no 50040, de janeiro de 1961. Anvisa, 1961.
  6. MAISUTHISAKUL, P.; SUTTAJIT, M.; PONGSAWATMANIT, R. Assessment of phenolic content and free radical-scavenging capacity of some Thai indigenous plants. Food Chemistry, v. 100, n. 4, p. 1409–1418, 1 jan. 2007.
  7. COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. Manole, 5ª edição revisada e atualizada, 2019.
  8. BRAND-WILLIAMS; CUVELIER, M. E.; BERSET, C. Use of a Free Radical Method to Evaluate Antioxidant Activity. Food Sci. Technol., v. 28, p. 25–30, 1995.
  9. SOARES, S. E. Ácidos fenólicos como antioxidantes. Revista de Nutrição, v. 15, n. 1, p. 71–81, jan. 2002.
  10. Agarwal S, Rao AV. Tomato lycopene and its role in human health and chronic diseases. CMAJ. 2000;163(6):739-744.
  11. N.J.I.E. SHAMI, E.A.M. MOREIRA. Lycopene as an antioxidant agent. Rev. Nutr., Campinas, 17(2):227-236, abr./jun., 2004.
  12. Bin-Jumah, MN, Nadeem, MS, Gilani, SJ, Mubeen, B., Ullah, I., Alzarea, SI, Ghoneim, MM, Alshehri, S., Al-Abbasi, FA, & Kazmi, I. (2022 ). Licopeno: Um Arsenal Natural na Guerra contra o Estresse Oxidativo e as Doenças Cardiovasculares. Antioxidantes (Basileia, Suíça) , 11 (2), 232.
  13. A.C.P. VOLP et al. Selenium antioxidant effects and its link with inflammation and metabolic syndrome. Rev. Nutr., Campinas, 23(4):581-590, jul./ago., 2010.

Gabriela Motta

@nutrigabrielamotta

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