Ômega 3 e Lúpus: Quais os efeitos e suas características

Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 são classificados como essenciais e devem ser fornecidos através da alimentação ou na forma de suplementos. Denominamos óleo de peixe dois tipos de ácidos graxos ômega-3, sendo eles: ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosa-hexaenóico (DHA). Dentre as fontes principais de alimentos fonte de ômega-3 geralmente são encontradas em alimentos como peixes, produtos animais, e fitoplâncton1.

Esses ácidos graxos têm recebido grande atenção pelos seus diversos benefícios, principalmente sobre o papel desse nutriente na redução da inflamação. Devido a essas propriedades muito bem elucidadas, a suplementação com essa classe de lipídeos pode representar uma suplementação aliada para o tratamento de doenças inflamatórias crônicas sistêmicas, como no caso do lúpus eritematoso sistêmico (LES) e outras doenças reumáticas2.

Além disso, foi observado que quantidades desbalanceadas da razão Ômega-6/Ômega-3 (acima de 7:1) podem exercer grandes danos à saúde, como o agravamento de processos inflamatórios3. Como a formação de placa de ateroma nas paredes dos vasos sanguíneos, dislipidemia (aumento do colesterol total, LDL e triglicérides e diminuição do HDL) e inflamação, são fatores intimamente ligados à obesidade, uma dieta balanceada com ingestão adequada de ômega-3 é muito importante e traz diversos benefícios4.

Efeito do ômega 3 no lúpus

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) caracteriza-se como uma doença autoimune crônica que envolve o sistema imunológico tanto inato quanto adaptativo, com a presença de anticorpos circulantes, inflamação crônica e dano tecidual responsável por afetar múltiplos sistemas de órgãos.

Além disso, está associada a outras comorbidades importantes, como doença cardiovascular (DCV), câncer, síndrome metabólica e doença da tireoide, fatores os quais impactam nos sintomas e na progressão da doença, e ainda aumentam o risco de mortalidade.

Sabendo que os sintomas comuns relatados por pacientes com LES são fadiga e dores nas articulações, e muitas vezes estão aliados com manifestações psicológicas, como depressão e ansiedade, condições as quais afetam a qualidade de vida do paciente. Dessa forma, diversos estudos passaram a ser realizados com o intuito de verificar tratamentos adicionais aliados para a doença, principalmente por exercer um efeito anti-inflamatório como no caso do ômega 3.

Além disso, pacientes com LES apresentam perfis lipídicos alterados e níveis reduzidos de PUFAs ômega-3, o que pode estar relacionado a um aumento na frequência de complicações cardiovasculares. Dessa forma, a suplementação de ômega 3 pode favorecer a redução dos níveis reduzidos de marcadores inflamatórios e autoanticorpos.

Em 1990, Westberg et al. avaliaram os efeitos da suplementação com ácidos graxos ômega-3 em 60 pacientes com LES moderadamente ativo por meio da suplementação com cápsulas contendo óleo de peixe ou cápsulas de azeite de oliva como placebo. Durante os primeiros três meses os pacientes suplementados com ω-3 apresentaram significativa melhora dos parâmetros clínicos e laboratoriais.
Outro estudo realizado no ano de 2008, comparou os efeitos do consumo diário de 3g de ω-3, sendo 1.200g de DHA e 1.800g de EPA, com o uso de placebo de óleo de oliva, em 60 pacientes com LES, por um período de 24 semanas. Dessa forma, identificaram que a suplementação com ω-3 em pacientes com LES exerceu efeito terapêutico sobre a atividade da doença de acordo com a medição dos índices Systemic Lupus Activity Measure (SLAM-R) e British Isles Lupus Assessment Group (BILAG), além de promover melhora da função endotelial e redução do estresse oxidativo, garantindo benefícios cardiovasculares.

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Considerações finais

De acordo com numerosos estudos clínicos analisados em diversos artigos, a suplementação com ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 pode estar alinhada como opção adicional ao tratamento farmacológico tradicional do LES, devido às suas propriedades anti-inflamatórias.

Essa classe de lipídeos está relacionada com a produção de eicosanoides com menor ação inflamatória do que os produzidos pelos ácidos graxos pertecentes à família ω-6, além da redução dos níveis séricos de citocinas inflamatórias e da ativação de linfócitos T.

 

Referências bibliográficas

  1. Coqueiro, D. P., Bueno, P. C. dos S., & Simões, M. de J. Uso da suplementação com ácidos graxos poli-insaturados omega-3 associado ao exercício físico: uma revisão. Pensar a Prática, 14(2), 2011.
  2. Borges, Mariane, et al. Ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e lúpus eritematoso sistêmico: o que sabemos? Rev. Bras. Reumatol. 54 (6), Nov-Dec 2014.
  3. Margioris AN. Fatty acids and postprandial inflammation. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2009;12(2):129-37.
  4. Santos, R.D. et al. I Diretriz sobre o consumo de gorduras e saúde cardiovascular. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v.100, n.1, supl.3, p.1-40, Jan. 2013.
  5. Ramessar N, Borad A, Schlesinger N. The effect of Omega-3 fatty acid supplementation in systemic lupus erythematosus patients: A systematic review. Lupus. 2022;31(3):287-296.
  6. Jiao H, Acar G, Robinson GA, Ciurtin C, Jury EC, Kalea AZ. Diet and Systemic Lupus Erythematosus (SLE): From Supplementation to Intervention. Int J Environ Res Public Health. 2022 Sep 20;19(19):11895.
  7. Westberg G, Tarkowski A. Effect of MaxEPA in patients with SLE. A double-blind, crossover study. Scand J Rheumatol. 1990;19:137–43.
  8. Wright SA, O´Prey FM, McHenry MT, Leahey WJ, Devine AB, Duffy EM, Johnston DG, Finch MB, Bell AL, McVeigh GE. A randomised interventional trial of w-3 polyunsaturated acids on endothelial function and disease activity in systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis. 2008;67:841–8.

Gabriela Motta

@nutrigabrielamotta

 

 

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