Nutrientes fundamentais para a preconcepção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que todas as grávidas recebam os melhores cuidados durante a gravidez, o parto e o período pós-natal. Os cuidados na preconcepção fazem parte da saúde reprodutiva e são uma base de extrema importância na saúde, incluindo a sua promoção, rastreio, diagnóstico e prevenção de doenças.  O atendimento às necessidades nutricionais do grupo materno-infantil, considerado como grupo de risco, para o desenvolvimento de carências nutricionais, deve ser uma preocupação dos profissionais de saúde, e a prevenção e o diagnóstico precoce da deficiência de micronutrientes reveste-se de extrema importância. Nesse sentido, existem nutrientes fundamentais para a mulher que planeja engravidar, uma vez que no período gestacional o requerimento de nutrientes é aumentado devido ao intenso crescimento e proliferação celular.

Vitaminas do complexo B

A deficiência de riboflavina parece como um possível fator de risco para a pré-eclâmpsia. Níveis insuficientes de cofatores derivados da riboflavina mononucleotídeo de flavina (FMN) e o dinucleotídeo flavina adenina (FAD) pode contribuir para o quadro fisiopatológico estabelecido de alterações na pré-eclâmpsia, incluindo disfunção mitocondrial, aumento do estresse oxidativo e distúrbios na liberação de óxido nítrico.  Na lactação, a ingestão média das mães é baixa, sendo secretadas doses baixas no leite. Portanto, as mães devem ingerir quantidades adequadas a fim de diminuir o esgotamento.

A suplementação com ácido fólico, também conhecido como vitamina B9, durante a gestação é uma ação consolidada na literatura para prevenir a ocorrência de defeitos do tubo neural no feto, recomenda-se sua suplementação desde o planejamento da gravidez. O desenvolvimento de defeitos do tubo neural devido a níveis alterados de neurotransmissores e mielinização limitada leva ao comprometimento a longo prazo da função cognitiva, aprendizagem e déficits de memória e atrofia cerebral detectados em bebês.  A suplementação pode ser realizada com 400 mcg de ácido fólico diariamente, pelo menos 30 dias antes da data que se planeja engravidar até a 12°semana de gestação.

 

Vitamina A

A Vitamina A é um micronutriente essencial para diversos processos metabólicos, como a diferenciação celular, o ciclo visual, o crescimento, a reprodução, sistema antioxidante e imunológico. Apresenta especial importância durante os períodos de proliferação e rápida diferenciação celular, como na gestação, período neonatal e infância. Estima-se que 10 a 20% das gestantes sejam acometidas pela cegueira noturna, sintoma da deficiência de vitamina A, e que ela se associe com risco cinco vezes maior de mortalidade materna nos dois anos pós-parto. Além disso, as gestantes com cegueira noturna e deficiência de vitamina A parecem estar mais predispostas às intercorrências e complicações gestacionais, tais como aborto espontâneo, anemia, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, náuseas, vômitos, falta de apetite e infecções do trato urinário, reprodutivo e gastrointestinal.

Existe boa evidência de que a suplementação de vitamina A no pré-natal reduz a anemia materna em mulheres que vivem em áreas onde a deficiência de vitamina A é comum ou em mulheres HIV-positivas. Os estudos publicados não relataram qualquer efeito colateral ou adverso. As evidências disponíveis sugerem uma redução nas infecções maternas, anemia e cegueira noturna.

Ferro

A deficiência de ferro apresenta elevada prevalência mundial, estimando-se que cerca de 60% das gestantes apresentem anemia. Nos países em desenvolvimento, cerca de 1,1 bilhão de mulheres e 96 milhões de gestantes são anêmicas. As necessidades de ferro variam, acentuadamente, a cada trimestre gestacional. Os requerimentos não se alteram no primeiro trimestre devido à ausência de menstruação, apesar da vasodilatação generalizada e do aumento no volume plasmático circulante. A partir do segundo trimestre, esses requerimentos começam a se elevar, em decorrência do aumento das necessidades de oxigênio para mãe e o feto, perdurando até o final da gestação, sendo necessário manter os níveis adequados de hemoglobina para garantir a saúde materno-fetal, e para que o feto possa desenvolver-se adequadamente. Caso contrário, o recém-nascido terá mais chance de desenvolver baixo peso.

 

A carência materna de ferro durante o período gestacional também pode comprometer o desenvolvimento do cérebro do recém-nascido, levando ao prejuízo no desenvolvimento físico e mental, diminuição da capacidade cognitiva, aprendizagem, concentração, memorização e alteração do estado emocional. Apesar da falta de conhecimento sobre o mecanismo exato de comprometimento, sabe-se que a deficiência desse mineral está associada às alterações no metabolismo de neurotransmissores e na formação da bainha de mielina.

A suplementação de ferro na gestação geralmente é recomendada, 40 mg de ferro elementar diariamente até o final da gestação, mesmo na ausência de anemia, objetivando satisfazer o aumento dos requerimentos desse mineral durante os dois últimos trimestres gestacionais. Tal fato deve-se à dificuldade de atendimento das necessidades de ferro serem atingidas somente pela ingestão dietética, principalmente em países em desenvolvimento, onde o padrão alimentar apresenta baixa disponibilidade desse oligoelemento.

 

Zinco

A deficiência de zinco é responsável por diversas anormalidades bioquímicas e funcionais no organismo humano, devido à participação desse micronutriente em uma ampla gama de processos metabólicos. Os prejuízos na velocidade de crescimento rápido como na infância, e em fases em que as necessidades apresentam-se aumentadas como na gestação e lactação, na função imune e nos resultados obstétricos, são consequências dessa carência nutricional que podem ser corrigidas através de alimentação correta e fortificação, a suplementação deve ocorrer nas mulheres em risco de deficiência do micronutriente, de acordo com documento recente publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito da intervenção nutricional no pré-natal.

 

Vitamina D

A vitamina D é essencial para a saúde da gestante e da criança. As concentrações de 25-hidroxivitamina D na circulação fetal e neonatal dependem das concentrações maternas de vitamina D. Durante a gestação, a deficiência ou insuficiência de vitamina D pode estar relacionada ao ganho de peso insuficiente, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro e distúrbios na homeostase óssea da criança. Em todo o mundo, 54% das gestantes e 75% dos nascidos vivos apresentam concentrações de vitamina D inferiores a 50 nmol/L, que é um limiar comumente utilizado para descrever a deficiência da vitamina em questão.

 

Referências:

https://doi.org/10.1002/14651858.CD008666.pub3

https://doi.org/10.1590/S1519-38292007000300002 

https://doi.org/10.3390/nu14193940

http://dx.doi.org/10.1590/1806-9304202200020002

World Health Organization. Nutritional interventions update: zinc supplements during pregnancy, 2021.

 

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