Nutrição Oncológica | Blog Nutrify

Nutrição oncológica

Os genes têm uma participação importante no risco de desenvolver câncer ao longo da vida. Só que temos os fatores ambientais que também são extremamente importantes, como é o exemplo da dieta (2).

Por exemplo, imigrantes japonesas tiveram uma incidência alta de câncer de mama e ovário ao se mudarem para os Estados Unidos (EUA). Uma das hipóteses é o aumento no consumo de alimentos ricos em gordura que é uma característica da dieta no EUA (2).  

Magnésio - Banner | Blog Nutrify

A desnutrição é uma consequência comum causada pelo tratamento de câncer e até mesmo pela simples descoberta da doença que leva o paciente a comer menos. Essa alimentação insuficiente gera sérios problemas de saúde e pode aumentar a toxicidade do tratamento oncológico (1).

Acredita-se que em média 10-20% das mortes são causadas pela desnutrição durante o tratamento e não propriamente pelo câncer (1).

Desenvolvimento

Manter o indivíduo oncológico em um estado nutricionalmente adequado deve ser uma das principais preocupações, pois sem esse suporte fica muito complicado levar o tratamento até o final (4).

Em casos em que a nutrição oral (NO) não é possível, o paciente pode ser alimentado com nutrição enteral (NE) ou nutrição parenteral (NP). Estudos mostram resultados positivos no ganho de peso. Contudo, não pareceu afetar a sobrevida dos pacientes (1).

As opções de nutrição por vias que não a NO é recomendada apenas em casos que o paciente não consiga atingir pelo menos 50% das necessidades nutricionais diárias (1).

A deficiência de alguns micronutrientes como o potássio, fosfato e magnésio é normal nesses pacientes. Sendo muito importante a monitoração constante para realizar a reposição se necessário (1).

Existem recomendações para alguns tipos específicos de câncer. O paciente diagnosticado com câncer do trato gastrointestinal superior e que passou por ressecção cirurgia seja o aporte adequado de arginina, ômega 3 e nucleotídeos por via oral/entérica pensando em manter o sistema imunológico eficiente (1).

É comum ver a recomendação de suplementar glutamina com intuito de evitar alguns sintomas vindo da exposição à radiação, como mucosite (inflamação das mucosas gastrointestinais) ou diarreia. Entretanto, não temos dados suficientes na literatura que justifique essa conduta nutricional para essas situações. Até o momento os dados disponíveis ainda são muito heterogêneos (diferentes entre si) (1).

Isso vale para a recomendação de probióticos. Ainda faltam dados mais concretos na literatura que comprove a melhora da diarréia causada pela radiação (1).

Depois que o tratamento é concluído o paciente deve receber orientações voltadas para reduzir os riscos de desenvolver câncer novamente.

Esses sobreviventes devem levar uma vida saudável e equilibrada. Evitar ganhar peso em excesso, praticar atividade física, ter uma boa ingestão de frutas, vegetais e saladas (1).

Mulheres que se curaram do câncer de mama são orientadas a terem atenção ao excesso do consumo de carne vermelha (carneiro, bovina e suína), pois ela está associada ao aumento do risco de desenvolver esse câncer e a mortalidade geral causada por ele (1).

Nutrição Oncológica | Blog Nutrify

Mesmo em pacientes com expectativa de vida curta, é recomendado manter uma alimentação saudável para reduzir as deficiências nutricionais e tirar um pouco da carga da doença (1). Essa conduta funciona mais como um suporte para melhorar a adesão à quimioterapia do que como cuidados paliativos (4).

O que é diferente dos pacientes terminais (morte iminente) e com uma queda metabólica grande. Raramente eles terão fome e o excesso de comida pode gerar um esforço metabólico e causar desconforto. Nessa situação, a prioridade é apenas gerar conforto durante as últimas semanas de vida. Nenhum aporte nutricional ou hidratação vai melhorar o quadro de um paciente terminal (1).

Caso o paciente terminal sinta fome normal, mesmo sabendo da sua morte iminente, pode significar erro no diagnóstico e deve ser feito uma reavaliação do quadro clínico (1).

E podemos ter a ação de algumas especiarias naturais para melhorar a adesão do paciente à dieta e melhorar o seu quadro nutricional.

É o caso do gengibre, que tem um potencial de diminuir frequência/intensidade de náuseas e episódios de vômitos durante o tratamento de câncer. A ação do gengibre já teve sua eficácia comparada a medicamentos antieméticos, como a metoclopramida (3).

Um estudo fez uma intervenção de 5 dias com 60 mulheres com câncer de mama no estágio II ou III em tratamento de quimioterapia. Elas foram divididas em dois grupos, sendo eles: grupo intervenção (recebendo 500mg de gengibre em pó 30 minutos antes da quimioterapia) e grupo controle (sem receber nada). Além disso, todas as pacientes receberam o tratamento antiemético padrão do hospital (3).

O resultado foi que as mulheres que usaram o gengibre em pó tiveram redução nos episódios de vômitos em comparação com o grupo que não utilizou. Mas o número de episódios de enjoo não foi significativamente diferente entre os grupos. Entretanto, a intensidade desses enjoos foi menor no grupo que usou o gengibre (3).

Nutrição Oncológica | Blog Nutrify

Considerações finais

Toda recomendação nutricional deve ser feita sempre com muito cuidado e avaliando a qualidade dos dados científicos disponíveis até o momento presente, pois se trata de paciente imunocomprometido e isso pode acarretar a problemas graves de saúde.

O principal objetivo da nutrição é garantir que o paciente se mantenha em um estado nutricional adequado (ou o mais perto possível disso) para aumentar a tolerância ao tratamento, e consequentemente, aumentar as chances de vida.

Pacientes com baixa expectativa de vida também devem receber esse mesmo suporte, pois assim podemos prolongar a vida do indivíduo ou pelo menos dar mais qualidade de vida nos últimos meses/anos de vida.

 

Referências bibliográfica:

  1.   Muscaritoli M, Arends J, Bachmann P, Baracos V, Barthelemy N, Bertz H, Bozzetti F, Hütterer E, Isenring E, Kaasa S, Krznaric Z, Laird B, Larsson M, Laviano A, Mühlebach S, Oldervoll L, Ravasco P, Solheim TS, Strasser F, de van der Schueren M, Preiser JC, Bischoff SC. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in cancer. Clin Nutr. 2021 May
  2.   Sapienza C, Issa JP. Diet, Nutrition, and Cancer Epigenetics. Annu Rev Nutr. 2016 Jul 17
  3.   Arslan M, Ozdemir L. Oral intake of ginger for chemotherapy-induced nausea and vomiting among women with breast cancer. Clin J Oncol Nurs. 2015
  4.   Bozzetti F. Is there a place for nutrition in palliative care? Support Care Cancer. 2020 Sep

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress
Rolar para cima