Nootropicos: Estudos, Benefícios e Tipos | Blog Nutrify

Nootropicos: Estudos, Benefícios e Tipos

A procura por melhora da produtividade nunca esteve tão em alta, com a expansão da conectividade através da internet e consequente aumento das horas de trabalho. Não é mais necessário enfrentar horas de trânsito até chegar ao escritório ou local de trabalho, e está cada vez mais difícil separar os horários de trabalho, de descanso e de lazer.

Sábado à noite, domingos e feriados estamos sempre conectados e “disponíveis” para atender aos chamados de trabalho, basta ter um smartphone com acesso à internet nas mãos, o qual adquirimos com uma certa facilidade.

Aumentamos nossas horas de trabalho, mas a produtividade nem sempre está na mesma proporção. Com o avanço da internet, a concorrência também ficou mais acirrada entre diversos nichos profissionais. Consequentemente buscamos cada vez mais estar um passo à frente dos nossos concorrentes e as substâncias que podem elevar a nossa capacidade cognitiva podem ser nossas aliadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) traz a definição da saúde do cérebro como: “um estado em que cada indivíduo pode realizar suas próprias habilidades e otimizar seu funcionamento cognitivo, emocional, psicológico e comportamental para lidar com as situações da vida” (1)

Antes de pensar em substâncias que podem melhorar a capacidade cognitiva, devemos também avaliar os demais aspectos envolvidos para uma boa saúde mental, como o sono, atividade física e dieta adequada.

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A qualidade do sono está diretamente ligada com uma boa função cognitiva. Alguns estudos mostram que noites de sono mal dormidas, auto relatadas pelos participantes, estão relacionadas a um declínio da atenção e memória e um desempenho cognitivo mais lento e menos preciso (2). Além disso, aumentos nas citocinas pró-inflamatórias após a perda de sono podem promover disfunção do sistema imunológico. (3)

O termo “Nootrópicos” consiste em duas palavras gregas: nöos  e tropein que significam “pensar” e “guiar”, respectivamente, e são conhecidos como “drogas inteligentes”, desenvolvidas para melhorar a capacidade cognitiva, memória e aprendizado, principalmente quando há algum prejuízos nessas funções (4)

Existem as substâncias sintéticas criadas em laboratório, como o Piracetam, e os naturais à base de plantas, como Bacopa monnieri, Panax Ginseng, Ginkgo biloba, por exemplo (5)

Os nootrópicos podem agir como vasodilatadores, aumentando a circulação sanguínea, fornecendo mais nutrientes, energia e oxigênio para o cérebro. Diferente das demais células do corpo, o neurônio não pode ser reproduzido e é insubstituível (5)

Os potencializadores bioquímicos mais amplamente utilizados historicamente são estratégias para o melhor aproveitamento de alguns nutrientes, dentre eles a glicose e a cafeína. Além desses, os flavonoides contidos no cacau, curcumina e ácidos graxos ômega-3 também possuem algum nível de evidência na melhora da função cognitiva. (5)

Estas substâncias podem agir através de diferentes vias: Aumentando o BDNF, agir como antioxidantes, aumento da energia cerebral, inibir a apoptose neuronal, modular neurotransmissores

A cafeína é a droga psicoativa mais consumida mundialmente. Ela age bloqueando a ligação da adenosina em seu receptor, causando um estado de alerta. Vamos entender melhor como ela atua, através da seguinte figura:

Figura 1 – Ação da cafeína

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Fonte: Disponível em < https://examine.com/categories/brain-health/faq/oJAv3le-how-does-caffeine-work-in-your-brain/ >

A adenosina foi metabolizada durante o sono. Habitualmente ingerimos café ao acordar, que é absorvido no intestino delgado em uma hora e fica disponível em todo o sangue, na maioria das partes do corpo e também no cérebro. Em duas horas a cafeína atinge seu pico máximo no cérebro e compete com a adenosina, impedindo-a de se ligar em seus receptores, causando um estado de alerta e bem-estar. A enzima CYP1A1/2 metaboliza a cafeína fazendo com que seus níveis diminuam, o que pode variar entre três a dez horas, dependendo da quantidade de enzimas que o indivíduo possui. Com os níveis de cafeína reduzidos a adenosina volta a se ligar em seus receptores, induzindo a sonolência novamente (6)

A creatina também ficou conhecida por melhorar a função cognitiva, visto que o cérebro possui uma alta demanda de energia, e a creatina atua na ressíntese dos níveis de ATP, podendo trazer benefícios para o cérebro, além dos músculos, o qual é amplamente estudada e bem consolidada sobre os benefícios (7)

Os estudos da suplementação de creatina para o cérebro devem crescer, devido a seus possíveis benefícios. Já foi elucidado que a suplementação parece melhorar o desempenho cognitivo principalmente em condições de déficit, como exercício e privação de sono, ou então em situações patológicas como nas deficiências nas enzimas de síntese de creatina, lesão cerebral traumática leve, envelhecimento, doença de Alzheimer, depressão (7)

A fosfatidilserina, um composto derivado de aminoácido lipossolúvel, semelhante a uma gordura dietética, encontrado em grandes quantidades no cérebro, onde nosso próprio corpo a sintetiza. A sua suplementação pode ser benéfica em idosos para melhora da memória e função cognitiva (8)

A colina é uma molécula que é transformada em acetilcolina, o neurotransmissor do aprendizado, através da enzima colina acetil transferase. Em modelos experimentais, a colina trouxe efeitos de neuroproteção, e sua ingestão na idade adulta pode ser crítica para a função cognitiva normal (9) (10)

A L-tirosina é um aminoácido, precursor da síntese das catecolaminas dopamina e noreprinefrina, as quais são esgotadas em condições de estresse, podendo comprometer a função cognitiva. Os níveis reduzidos de catecolaminas cerebrais também podem deixar o humor mais susceptível aos efeitos da baixa exposição à luz. A suplementação de tirosina nessas situações pode trazer benefícios ao humor e função cognitiva (11)

Os ácidos graxos ômega-3 são um componente importante das membranas neuronais e importantes no desenvolvimento e funcionamento do cérebro. Baixos níveis de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) afetam os sistemas de dopamina, o que pode aumentar os riscos do desenvolvimento de distúrbios neuropsiquiátricos como a doença de Parkinson, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção e até depressão (12)

Produtos naturais com efeitos medicinais, os fitoquímicos, estão cada vez mais sendo avaliados devido às suas propriedades, baixo custo e redução de efeitos colaterais. Com as substâncias para melhora da capacidade cognitiva, estes estudos também vêm crescendo substancialmente (13) (14)

Os nootrópicos botânicos Bacopa monnieri, Ginkgo biloba e Mentha spicata possuem dados clínicos mais robustos quanto a sua eficácia. Holy Basil, American Ginseng, Melissa officinalis (erva-cidreira) e Salviaspp são menos estudos, porém também trouxeram benefícios para parâmetros cognitivos (15)

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É importante ressaltar que as intervenções nutricionais com suplementos e fitoterápicos só serão eficientes em conjunto a uma dieta adequada. Uma dieta rica em antioxidantes, polifenóis e alimentos antiinflamatórios contribuem para uma boa saúde cognitiva. A dieta mediterrânea trouxe efeitos positivos também na prevenção da doença de Alzheimer (16) (17)

A dieta mediterrânea está associada a um risco reduzido de desenvolver demência na vida adulta. Esta dieta consiste no aumento do consumo de frutas, verduras, peixes, nozes e leguminosas e redução do consumo de carnes e laticínios ricos em gorduras (18)

A capacidade da função cognitiva é uma soma de fatores que incluem hábitos saudáveis como alimentação adequada, um sono de qualidade, atividade física, suplementos e fitoterápicos que podem contribuir para sua otimização. É importante tratar da sua prevenção antes mesmo de aparecer qualquer sinal de prejuízos.

Referências

1 – Brain Health, Who.int, Disponível em (https://www.who.int/health-topics/brain-health), Acesso em 03 de dezembro de 2022

2- Zhao, C. et. Al.,  Dietary Patterns, Physical Activity, Sleep, and Risk for Dementia and Cognitive Decline, Curr Nutr Rep., 2019

3 – Fullagar, H. et. Al., Sleep and athletic performance: the effects of sleep loss on exercise performance, and physiological and cognitive responses to exercise, Sport. Med., 2015

4 – Suliman, A.S., et. Al.,  Establishing Natural Nootropics: Recent Molecular Enhancement Influenced by Natural Nootropic, Evid Based Complement Alternat Med., 2016

5 – Dresler, M., et. Al., Hacking the Brain: Dimensions of Cognitive Enhancement, ACM Chem Neurosci., 2019

6 – Liu Y, Burger SK, Ayers PW, Vohringer-martinez, Computational study of the bibding modes of caffeine to the adenosine A2A receptor, J Phys Chem B., 2011

7 – Roschel, H., Creatine Supplementation and Brain Health, Nutrients, 2021

8 – Vakhapova, V., et. Al., Phosphatidylserine containing omega-3 fatty acids may improve memory abilities in non-demented elderly with memory complaints: a double-blind placebo-controlled trial, Dement. Geriatr CognDisord., 2010

9 – Blusztajn, J., Slack, B., Mellott, T., Neuroprotective Actions of Dietary Choline, Nutrients, 2017

10 – Poly, C., et. Al.,  The relation of dietary choline to cognitive performance and white-matter hyperintensity in the Framingham Offspring Cohort, Am J Clin Nutr., 2011

11 – Hase, A., Jung, S., Rot, M., Behavioral and cognitive effects of tyrosine intake in healthy human adults, Pharmacol Biochem Behav, 2015

12 – Stoffel, M., Levant, B., N-3 (ômega-3) fatty acids: Effects on brain dopamine systems and potential role in the etiology and treatment of neuropsychiatric disorders,CNS Neurol Disord Drug Targets, 2019 

13 – Fatima, U., et. Al., Investigating neuroprotective roles of Bacopa monnieri extracts: Mechanistic insights and therapeutic implications, Biomed Pharmacother., 2022

14 – Malík, M., Tlustos, P., Nootropics as Cognitive Enhancers: Types, Dosage and Side Effects of Smart Drugs, Nutrients, 2022

15 – Roe, A., Venkataraman, A., The Safety and Efficacy of Botanicals with Nootropic Effects, Curr Neuropharmacol., 2021

16 – Lapiscina- Martínez, E., et. Al., Mediterranean diet improves cognition: the PREDIMED-NAVARRA randomised trial, J Neurol Neurosurg Psychiatry, 2013

17 – Roman, G.C., et. Al., Mediterranean diet: The role of long-chain ω-3 fatty acids in fish; polyphenols in fruits, vegetables, cereals, coffee, tea, cacao and wine; probiotics and vitamins in prevention of stroke, age-related cognitive decline, and Alzheimer disease, Ver Neurol (Paris), 2019

18 Onaolopo,A. Y; Obelawo, A.Y.; Onaolopo, O.J.; Brain Ageing, Cognition and Diet: A Review of the Emerging Roles of Food-Based Nootropics in Mitigating Age-related Memory Decline, Curr Aging Sci, 2019

 

Patrícia Kraus Lourenço

@paatykraus

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