Por que deveríamos ou não deveríamos utilizar multivitamínicos? | Blog Nutrify

Por que deveríamos ou não deveríamos utilizar Multivitamínicos?

Um multivitamínico é basicamente um suplemento com objetivo de cobrir todas as vitaminas/minerais essenciais que são adquiridos a partir da alimentação, com doses próximas das recomendações de ingestão diária.

É comum o uso como forma de prevenir alguma doença futura. Contudo, parece que essa suplementação generalizada não gera nenhum tipo de efeito sobre a mortalidade por qualquer causa (1).

Muito provavelmente porque as concentrações desses suplementos são padronizadas para a população em geral, e não para uma situação específica. E justamente por isso devemos tomar cuidado com a polis suplementação, porque a mistura de suplementos isolados em conjunto com o multivitamínico pode levar a uma hipervitaminose com consequências para a saúde.

Em algumas situações específicas esse tipo de suplementação pode ser útil. Por exemplo, quando não é possível ajustar a alimentação da pessoa e isso acarreta a deficiência de vários micronutrientes ou na cirurgia bariátrica. A cirurgia bariátrica está ligada com a má absorção de diversos nutrientes (3).

Também podemos ter interferência de questões fisiológicas da própria vida, como o envelhecimento, que fará com que a ingestão de algumas vitaminas seja ajustada para suprir a necessidade (5).

Além disso, manter um intestino saudável acaba sendo um dos pilares para um bom aproveitamento dos nutrientes no geral. Por exemplo, a ingestão de fibras solúveis presente no milho resultou em uma maior absorção de cálcio no intestino (4).

 

Uma das alterações vistas foi que esse consumo de fibras reduziu a quantidade de bactérias Firmicutes e aumentou a quantidade de Bacteroidxetes (4).

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Fonte: Bielik V (2021)

Sem contar na própria interação entre os nutrientes. O fosfato pode interferir no metabolismo da vitamina D, uma alimentação ao longo do dia com baixo consumo de fosfato pode aumentar as concentrações de vitamina D ativa na circulação sanguínea (2).

Parece que a vitamina A e o ferro também tem uma participação em conjunto, onde a falta de um pode alterar as concentrações do outro. Um dado interessante é que quando os dois são suplementados juntos, a elevação da hemoglobina acontece de uma forma mais eficiente, sugerindo que a capacidade de mobilização de ferro está diretamente ligada com as concentrações de vitamina A (2).

A mesma interação positiva acontece com zinco, onde parece que a vitamina A sofre uma queda quando existe uma deficiência de zinco. Provavelmente porque esse é um mineral essencial para a formação de uma proteína da ligação de vitamina A (2).

Enquanto doses elevadas de vitamina E podem atrapalhar na ação da vitamina K (2).

E a vitamina C têm a sua biodisponibilidade (quanto do alimento é possível ser absorvido) determinada a partir da sua concentração no sangue. O que a gente chama de “feedback negativo”. Então quanto maior a concentração dela no sangue, menor será a sua absorção (2).

Enquanto podemos simplesmente ter a baixa ingestão de determinados nutrientes.

A deficiência de vitamina A é considerada um problema de saúde pública em várias regiões do Brasil, principalmente na região Nordeste. A consequência dessa deficiência é a xeroftalmia (olho seco) (2).

A Amazônia também tem uma alta prevalência de deficiência em vitamina A, já que a principal fonte deles vem através do consumo de peixes, que é reduzido em épocas de cheia (2).

Outra fonte comum nessa região é a farinha de mandioca amarela, o problema é que dependendo de como for o armazenamento dela, acontece uma perda significativa (ou total) da vitamina A. Por exemplo, quando essa farinha era armazenada em sacos plásticos por longos períodos (mais de 6 meses) ou mantida em ambiente úmido em temperatura de 25,8ºC acontece uma perda significativa (ou total) da vitamina A (2).

Entretanto, existem frutos amazônicos que são riquíssimos em vitamina A, como o abricó, buriti, tucumã e pupunha. Esse último só pode ser consumido após a cocção por conta da quantidade de fatores antinutricionais (2).

Então talvez o que falta nessa região é um programa de educação nutricional para orientar os seus residentes de como realizar uma alimentação eficiente com os alimentos que ali se encontram disponíveis.

Por mais que o Brasil seja um país tropical, a falta de vitamina D é uma das deficiências mais comuns. Ela pode ser produzida de forma natural apenas pela exposição à luz solar, só que com as questões estéticas e de saúde da pele, as pessoas vêm se expondo cada vez menos ao sol.

Além disso, pessoas afro-descendentes e idosos apresentam uma baixa produção natural desta vitamina na pele. E indivíduos com obesidade precisam de uma ingestão maior que pessoas com baixo percentual de gordura para manter os níveis de vitamina D estáveis, muitas vezes sendo necessário a suplementação nesses 3 grupos (2).

A ingestão de cobre na dieta brasileira pode ser considerada insuficiente ou próximo do limite mínimo, dificultando a manutenção dos níveis normais no sangue. Principalmente se houver a suplementação de zinco e ferro, que são dois minerais que alteram a biodisponibilidade do cobre. A suplementação de vitamina C que é bem comum também pode atrapalhar (2).

A ingestão de selênio na dieta brasileira pode ter grandes variações de 18 a 139 µg/dia, o que pode ser considerado uma ingestão deficiente ou adequada (2).

O principal fator que vai determinar essa ingestão é o próprio solo, sendo que em algumas regiões podemos encontrar maiores concentrações de selênio. Contudo, nem sempre aqueles alimentos com maior concentração são os que oferecem maior biodisponibilidade.

Por exemplo, com exceção da castanha-do-brasil e dos cogumelos, os vegetais são pobres em selênio, mas tem uma alta biodisponibilidade (85 a 100%). Já os pescados são mais ricos em selênio, mas com uma baixa biodisponibilidade (20 a 50%), que geralmente é atribuída a contaminação de mercúrio nos peixes (2).

Outros alimentos como o leite e de seus derivados têm biodisponibilidade que varia de 2 a 11% e carnes no geral em média 15% (2).

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Fonte: Biodisponibilidade dos nutrientes (2016)

Então espero que tenha dado para ter uma noção do nível de complexidade que é o mundo dos micronutrientes. Todos esses mecanismos citados funcionam no formato de uma orquestra, em que cada um tem o seu papel durante a apresentação, onde um pode ajudar o outro ou pode acabar atrapalhando quando decide aparecer demais.

O ideal é que não seja feita a suplementação de todos os nutrientes de uma vez sem nenhum tipo de orientação ou indicação, porque esse fino equilíbrio pode ser quebrado e gerar algum prejuízo nutricional.

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Referências:

  1.   Macpherson H, Pipingas A, Pase MP. Multivitamin-multimineral supplementation and mortality: a meta-analysis of randomized controlled trials. Am J Clin Nutr. 2013 Feb
  2.   COZZOLINO, Silvia M. F. Biodisponibilidade dos nutrientes (2016)
  3.   Ciobârcă D, Cătoi AF, Copăescu C, Miere D, Crișan G. Bariatric Surgery in Obesity: Effects on Gut Microbiota and Micronutrient Status. Nutrients. 2020 Jan
  4.   Bielik V, Kolisek M. Bioaccessibility and Bioavailability of Minerals in Relation to a Healthy Gut Microbiome. Int J Mol Sci. 2021 Jun
  5.   Yetley EA. Multivitamin and multimineral dietary supplements: definitions, characterization, bioavailability, and drug interactions. Am J Clin Nutr. 2007 Jan

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