Microbioma Intestinal Materna e Saúde Metabólica da Pele

O estado nutricional, metabólico e fisiológico materno, bem como a exposição a diversos fatores ambientais durante a concepção, gestação e lactação, têm papel fundamental na programação da saúde da prole. Portando, alterações que afetam a microbiota materna podem influenciar indiretamente o desenvolvimento fetal.

O desenvolvimento da microbiota humana é um processo complexo e gradual, que se acredita ter início no nascimento, quando o bebê encontra a microbiota materna durante o parto e, em seguida, é apoiada pela alimentação. Historicamente o útero humano era considerado estéril. No entanto, dados recentes sugerem colonização pré-natal do intestino fetal. Essa hipótese é baseada na presença de DNA microbiano no líquido amniótico, mecônio e placente; no entando, o influência da colonização microbiana pré-natal permanece aberta ao debate [1,2].

A dieta materna durante a gravidez afeta a microbiota materno-neonatal e o metabolismo?

Estudos populacionais e em modelos animais têm demonstrado que a obesidade durante a gravidez, bem como dieta rica em gordura imprime uma assinatura metabólica duradoura na microbiota neonatal e no sistema imunológico, levando a prole a predisposição à obesidade e doenças metabólicas. De modo interessante, tem sido reportado que o estresse e experiências adversas na infância (EAI) afetam a microbiota materna.

Estudo realizado com mulheres grávidas (20-26 semanas de gestação) observou alta associação da abundância de Prevotella intestinal com EAI, além disso, a quantidade de várias táxons microbianos intestinais foi correlacionada positivamente com IL-6, TNF-α e proteína C reativa (PCR) em relação às EAI. Em mulheres que ingeriram grande quantidade de DHA (ácido eicosapentaenoico) e EPA (ácido docosahexaenoico) os níveis de IL-6 estavam significativamente diminuídos entre as mulheres com alto EAI [3]. Em adição, estudo em roedores submetidos à EAI, como separação da mãe ao nascer, acarretou modificações na microbiota intestinal quando comparados aos animais que não foram separados. A disbiose foi revertida com a suplementação de ômega 3 (DHA e EPA) durante 12 semanas. Esses dados enfatizam a relevância da dieta da mãe para a saúde materna e fetal, bem como sua influência no eixo intestino-cérebro [4].

Correlações entre variáveis metabólicas gestacionais e a microbiota intestinal durante a gravidez tem sido descritas, incluindo relações diretas entre Collinsella e insulina circulante, triglicerídeos e lipoproteínas de densidade muito baixa; Sutterella e a proteína C reativa; Ruminococcaceae e/ou Lachnospiraceae e leptina; Bacteroidaceae e grelina. [5]. Tem sido sugerido que o estado da microbiota na gestação pode levar a alterações metabólicas na próxima geração [2]

Figure 1. A microbiota materna contribui significativamente para a colonização microbiana inicial do recém-nascido, com impacto tanto a curto e longo prazo. Diferentes fatores moldam e alteram a microbiota materna e a disbiose materna pode ser transferida para o neonato. O período inicial da vida, desde a concepção até os primeiros 2 anos de vida, é fundamental para a colonização microbiana, maturação do sistema imunológico, desenvolvimento cognitivo e estimulação metabólica [2].

Amamentação e nutrientes e a microbiota intestinal: interação chave para reduzir a obesidade e doenças metabólicas

Uma meta-análise que incluiu 684 bebês de diversas localidades relatou que práticas exclusivas de amamentação moldaram a microbiota intestinal promovendo maior abundância relativa de Bacteroidetes e Firmicutes. Foi constatado aumento das bactérias relacionadas com o metabolismo de carboidratos, lipídios e vitaminas, bem como vias de desintoxicação, comparados aos neonatos que não foram alimentados exclusivamente com leite materno. Além disso, as práticas de amamentação exclusiva de maior duração foram associadas a menor disbiose e menor diarreia [6].

Em modelos humanos e animais, a obesidade e ingestão alta de gorduras pode aumentar os níveis circulantes de ácidos graxos poli-insaturados n-6, principalmente o ácido araquidônico AA (AA, C20:4n-6) e ácido linolênico (LA, C18:2n-6) e diminuir os níveis de ácidos graxos poli-insaturados n-3 (ácido docosahexaenóico, DHA, 22:6n-3 e ácido eicosapentanóico, EPA, C20:5n-3). Evidências apontam que o estado de ácidos graxos maternos influencia disfunções metabólicas na vida adulta através da modificação da microbiota intestinal. Dessa forma, a ingestão adequada de ômega-3 pode modular a microbiota intestinal da prole e possivelmente proteger da obesidade, dentre outras alterações do metabolismo [7].

Referências

[1]       Strobel KM, Juul SE, Hendrixson DT. Maternal Nutritional Status and the Microbiome across the Pregnancy and the Post-Partum Period. Microorganisms 2023;11:1569. https://doi.org/10.3390/microorganisms11061569.

[2]       Calatayud M, Koren O, Collado MC. Maternal Microbiome and Metabolic Health Program Microbiome Development and Health of the Offspring. Trends in Endocrinology and Metabolism 2019;30:735–44. https://doi.org/10.1016/j.tem.2019.07.021.

[3]       Hantsoo L, Jašarević E, Criniti S, McGeehan B, Tanes C, Sammel MD, et al. Childhood adversity impact on gut microbiota and inflammatory response to stress during pregnancy. Brain Behav Immun 2019;75:240–50. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2018.11.005.

[4]       Pusceddu MM, El Aidy S, Crispie F, O’Sullivan O, Cotter P, Stanton C, et al. N-3 polyunsaturated fatty acids (PUFAs) reverse the impact of early-life stress on the gut microbiota. PLoS One 2015;10. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0139721.

[5]       Ponzo V, Fedele D, Goitre I, Leone F, Lezo A, Monzeglio C, et al. Diet-gut microbiota interactions and gestational diabetes mellitus (GDM). Nutrients 2019;11. https://doi.org/10.3390/nu11020330.

[6]       Ho NT, Li F, Lee-Sarwar KA, Tun HM, Brown BP, Pannaraj PS, et al. Meta-analysis of effects of exclusive breastfeeding on infant gut microbiota across populations. Nat Commun 2018;9. https://doi.org/10.1038/s41467-018-06473-x.

[7]       Robertson RC, Kaliannan K, Strain CR, Ross RP, Stanton C, Kang JX. Maternal omega-3 fatty acids regulate offspring obesity through persistent modulation of gut microbiota. Microbiome 2018;6:95. https://doi.org/10.1186/s40168-018-0476-6.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress
Rolar para cima