Menopausa: Uma abordagem nutricional

A menopausa é um processo natural e biológico que ocorre quando os ovários deixam de produzir o estrogênio e a progesterona, resultando na suspensão da menstruação. A menopausa é um marco do climatério, ela correspondendo ao último ciclo menstrual espontâneo, após 12 meses da sua última ocorrência e acontece geralmente em torno dos 48 aos 50 anos de idade.

O climatério é definido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase biológica da vida e não um processo patológico, devendo ser encarado como um processo natural, que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. De maneira didática, o climatério pode ser dividido em três períodos, pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa.  As alterações hormonais que ocorrem nessa fase podem acarretar sintomas que afetam o sono, cognição, libido, fogachos, transtornos do humor e sexualidade no geral. Além de aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e osteoporose. Dessa forma, estratégias nutricionais na alimentação da mulher no climatério e na menopausa podem ser benéficas para aliviar sintomas e, ainda, fundamentais para diminuir risco do desenvolvimento de doenças associadas às alterações hormonais.

Compostos bioativos e nutrientes relacionados à melhora de sintomas da menopausa

A maioria das mulheres na menopausa relata ondas de calor intensas e suores noturnos. As ondas de calor são definidas como sensações repentinas de calor, queimação e suor com ligeiro aumento da temperatura corporal devido ao aumento da taxa metabólica e constrição periférica, são sintomas vasomotores relacionados à redução dos níveis de estrogênio.  Nesse sentido, componentes da dieta vêm sendo estudados a fim de melhorar sintomas relacionados à menopausa.

Estudo com 93 mulheres na menopausa, avaliou a ingestão de cápsulas contendo curcumina (500 mg/dia) e vitamina E (200 UI/dia) duas vezes ao dia, de forma separada, ou seja, em grupos distintos, em sintomas da menopausa, como ondas de calor e ansiedade. A intervenção foi realizada durante 8 semanas, com 2 avaliações ao total: uma na quarta semana e outra ao final do experimento. Para tanto, foram contabilizados a média de ondas de calor de cada tratamento por grupo, bem como protocolo validado para a avaliação da ansiedade (Spielberger State-Trait Anxiety Inventory) foi utilizado. O grupo que ingeriu a curcumina apresentou melhora significativa das ondas de calor já na quarta semana de ingestão, para o grupo que consumiu a vitamina E, a melhora foi observada somente na oitava semana, essas diferenças foram em comparação ao grupo controle.

As isoflavonas também têm sido bastante estudadas como intervenção não farmacológica em sintomas da menopausa. Revisão sistemática de estudos clínicos apontou que a ingestão de isoflavonas em diferentes preparações como 6 g de extrato de gérmen de soja, 25 g de proteína de soja em nozes de soja e isoflavona de trevo vermelho (80 mg) foi capaz de melhorar as ondas de calor em mulheres na menopausa.

Corroborando com esses dados, mulheres na menopausa suplementadas com leite fermentado contendo 80 mg de isoflavonas e 25 mg de resveratrol por doze semanas demonstraram melhora em sintomas da menopausa avaliados pelo questionário Escala de Avaliação da Menopausa (do inglês: Questionnaire Menopause Rating Scale). O grupo tratamento apresentou diminuição significativa em todos os parâmetros avaliados pelo questionário: ondas de calor e suor noturno, desconforto cardíaco, problemas para dormir, irritabilidade, sintomas depressivos, exaustão mental e física, problemas sexuais, vagina ressecada, desconforto articular e muscular comparados ao controle.

O resveratrol, um fitoestrogênio, tem demonstrado por estudos pré-clínicos efeitos na cognição, como aumento de memória, aprendizado e humor. Nesse sentido, mulheres na pós-menopausa foram suplementadas duas vezes ao dia com 75 mg de resveratrol durante 14 semanas, foi observado melhora da cognição de forma ampla avaliada por uma bateria de testes (do inglês: Rey Auditory Verbal Learning Test, Cambridge Semantic Memory Battery, Double Span Task e Trail Making Task), com efeitos mais pronunciados para tarefas referentes a memória verbal.

Revisão sistemática com metanálise de 10 artigos com 1100 participantes na menopausa apontou que o consumo de ômega-3 juntamente com vitamina E foi capaz de reduzir de maneira significativa a intensidade das ondas de calor.

Nutrientes e proteção contra a osteoporose

Após a menopausa, devido à redução dos estrogênios, algumas mulheres passam a perder massa óssea acima de 1% ao ano, sendo que algumas chegam a perder 5% e, no final de 5 anos, estão com perda superior a 25%, caracterizando a osteoporose pós-menopausa.  A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a osteoporose como densidade mineral óssea (DMO) ≥ 2,5 DP abaixo da média de adultos jovens.

Nesse sentido, a ingestão adequada de nutrientes como cálcio, vitamina D, magnésio e mesmo de proteínas são essenciais para o metabolismo ósseo. O cálcio está incorporado nas fibrilas de colágeno na forma de fosfato de cálcio (hidroxiapatita) e é essencial para a rigidez óssea. A deficiência de vitamina D diminui a quantidade de cálcio absorvido pelo intestino e aumenta os níveis do paratormônio (PTH). Esse, por sua vez, reequilibra a diminuição do cálcio sérico, aumentando a reabsorção de cálcio ósseo. O magnésio é um cofator essencial para a síntese e ativação de vitamina D, a sua deficiência reduz a rigidez óssea, aumentando os osteoclastos e diminuindo os osteoblastos. A proteína fornece a matriz estrutural do osso, sendo responsável por aproximadamente 50% do seu volume. Além de otimizar os níveis de fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-I), hormônio que estimula o crescimento ósseo, aumenta a absorção de cálcio e fósforo no intestino, através da síntese de calcitriol e eleva a taxa de reabsorção de fosfato no rim.

Além disso, estudos vêm sendo conduzidos a fim de observar as melhores formas de prevenção e tratamento para a osteoporose.  A suplementação de vitamina K2 tem demonstrado diminuir a perda óssea em mulheres na menopausa. A vitamina K pode ser dividida em duas formas: K1, filoquinonas e K2, menaquinonas (MKs). A forma K2 promove o aumento da carboxilação da osteocalcina associada à sua ativação e à fixação de cálcio circulante no osso, podendo evitar a perda óssea em mulheres na menopausa. Estudo conduzido com 240 mulheres na pós-menopausa demonstrou que a suplementação com 180 µg de vitamina K2 (MK7) diariamente por 3 anos melhorou significativamente os status da vitamina K2 e reduziu o declínio da DMO relacionado à idade, na espinha lombar e no fêmur, essas avaliações foram realizadas através da absormetria de raios-x de dupla energia (DEXA). Além disso, ela reduziu a circulação de osteocalcina não-carboxilada em 51% em relação ao placebo.

No mesmo sentido, estudo demonstrou efeito sinérgico da suplementação de vitamina D3 e K2 na DMO da coluna lombar (L2-L4) em mulheres com osteoporose na pós-menopausa. A ingestão associada das duas vitaminas durante 2 anos aumentou a DMO quando comparada aos grupos que ingeriram as vitaminas D3 e K2 e o mineral cálcio de forma isolada.

Nutrientes e proteção cardiovascular

As alterações dos hormônios sexuais endógenos na menopausa e a própria fisiologia do envelhecimento podem afetar a função cardíaca, rigidez arterial, resistência à insulina, perfil lipídico, aumento do peso corporal e a adiposidade central. Todos esses fatores podem estar relacionados ao aumento do risco cardiovascular. Evidências apontam a eficácia de padrões alimentares e estilos de vida saudáveis na prevenção de DCV.

Nesse sentido, a dieta do mediterrâneo tem sido associada (MeDiet) a benefícios contra as DCV, principalmente pelo controle dos fatores de risco para melhorar pressão arterial, perfil lipídico, o metabolismo da glicose, o risco arrítmico e o microbioma intestinal. Em adição, a dieta teria componentes que exercem funções anti-inflamatórias na parede vascular, o que seria uma explicação para a baixa prevalência de DCV. Por exemplo, a ingestão de ômega-3 (EPA e DHA) pode reduzir triglicerídeos séricos, melhorar a função endotelial, estabilidade da placa de aterosclerose, diminuir a agregação plaquetária, e ainda, evidências sugerem que podem reduzir ligeiramente o risco de mortalidade coronariana e eventos coronarianos. Já a ingestão de polifenóis da MeDiet pode estar relaciona à diminuição de fatores inflamatórios como IL-6, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e proteína quimiotática de monócitos 1 (MCP-1). Adicionalmente, a ingestão de fibras tem sido também correlacionada com a diminuição de fatores inflamatórios séricos por diversos estudos, estes apontam redução nos níveis de proteína C reativa (PCR), IL-6 e TNF-α, além de diminuir os níveis de colesterol, LDL-colesterol e pressão diastólica.

Conclusão

A menopausa trás alterações hormonais que impactam em vários parâmetros de saúde da mulher como alterações do humor, do sono, sexuais, aumento de ondas de calor e suores, além de aumentar o risco metabólico para o desenvolvimento de osteoporose e DCV.  Esses fatores podem ser mitigados com a ingestão de um padrão de dieta adequado, como a MeDiet. Essa contém componentes que podem ser incorporados ao plano alimentar.

 

Referências:

https://doi.org/10.1016/j.ctim.2019.102267

https://doi.org/10.1016/j.maturitas.2014.05.007

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https://doi.org/10.3390/nu13072149

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https://doi.org/10.1007/s007760070003

https://doi.org/10.1155/2017/7454376

https://doi.org/10.3390/jcm12227058

https://doi.org/10.1002/14651858.CD003177.pub5

https://doi.org/10.1002/14651858.CD011472.pub2

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