Melatonina – Indicações e Estudos | Blog Nutrify

Melatonina – Indicações e Estudos [2022]

A tendência social moderna é marcada pela escassez de tempo para exercer todas as atividades demandadas no período de apenas 24 horas, contendo longas jornadas de expediente e trabalhadores por turnos. Tal contexto expõe o ser humano a uma condição de desregulação intensa de todos os seus mecanismos fisiológicos, e especificamente um de seus principais: o ciclo circadiano.

O ciclo circadiano consiste em um mecanismo endógeno, sendo que sua regulação ocorre ao longo das 24 horas do dia por meio dos condutores centrais, denominados núcleos supraquiasmáticos (SNC), além de envolver a expressão de diversos genes5. Nos dias atuais, esse ritmo é frequentemente desregulado devido à tendência social moderna de comer e dormir em horários irregulares, por exemplo.

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Nos últimos anos, a biologia do sono vem sendo cada vez mais elucidada em diversos estudos. O sono é um fenômeno psicofisiológico complexo, fundamental para uma cognição ideal, função imunológica e saúde geral do indivíduo1. A melatonina, ou 5 metoxi – N -acetiltriptamina, por sua vez, é um hormônio secretado exclusivamente à noite pela glândula pineal, e está relacionada com a regulação de todo o ciclo circadiano. Além da idade, comportamentos comuns, como a exposição à luz à noite influencia diretamente na desregulação da secreção deste hormônio2.

Esse é o principal hormônio secretado pela glândula pineal1 e é responsável por sinalizar a hora do dia e a época do ano em mamíferos, visto que seu padrão de secreção define a “noite biológica”2.

Em 1958, a melatonina foi descoberta e isolada da glândula pineal bovina por Aaron Lerner6 e, nos dias atuais, é relacionada com a regulação biológica importante dos ritmos circadianos, sono, humor e até mesmo na reprodução, crescimento tumoral e envelhecimento3.

O núcleo supraquiasmático, por sua vez, é influenciado pela luz do ambiente durante o dia e pela melatonina durante a noite19, sendo assim, a desregulação dos ritmos circadianos e a secreção de melatonina representam uma interferência comum no trabalho por turnos e outros distúrbios circadianos.

A luminosidade é um fator de extrema importância para a secreção da melatonina por meio da glândula pineal, à noite, em condições normais de claro/escuro. A via principal para a síntese desse hormônio parte das células ganglionares da retina, que recebem os impulsos claro-escuro e atingem o núcleo supraquiasmático do hipotálamo através do trato retino-supraquimático.

Posteriormente, os estímulos atingem o núcleo paraventricular do hipotálamo, medula espinhal e gânglio cervical superior, e a indução da síntese da melatonina ocorre após a estimulação de receptores b e a-noradrenérgicos e, assim, é liberada na circulação e distribuída para todos os órgãos devido à sua lipossolubilidade2.

Ao ser secretada, grande parte (cerca de 70%) circula pela corrente sanguínea ligada à albumina e, por não ser estocada, difunde-se em todo o corpo. Em humanos, a produção de melatonina se dá na infância, decaindo gradativamente a partir da puberdade, e atingindo menor quantidade na velhice, devido à calcificação da glândula pineal2.

A secreção da melatonina ocorre à noite, com início cerca de 2 horas antes do horário de dormir, e sua produção é suprimida pela interrupção do escuro por luz artificial, principalmente a luz azul, por isso, é recomendado que não haja nenhum estímulo de luzes como a de smartphones, computadores e televisão2.

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Melatonina, sono e saúde

O sono inadequado pode afetar negativamente o organismo, comprometendo o metabolismo dos carboidratos, o apetite, a ingestão de energia e a síntese de proteínas, gerando um impacto desfavorável no estado nutricional, metabólico e endócrino de um indivíduo. Sabendo da influência direta da melatonina com o sono, deve-se avaliar primeiramente suas fontes através da alimentação, visto que existem estratégias nutricionais capazes de atuar nos neurotransmissores que impactam positivamente o sono8.

Além dos alimentos ricos em melatonina, devemos nos atentar ao consumo de alimentos ricos em triptofano, pois eles aumentam a síntese de serotonina que, por sua vez, é convertida em melatonina7. O triptofano tem sua fonte dietética encontrada no leite, peru, frango, peixe, ovos, semente de abóbora, feijão, amendoim, queijo e vegetais de folhas verdes7.

Existem vários alimentos que contêm melatonina, porém, a sua concentração nos alimentos varia muito, de espécie para espécie, podendo também ser distribuída de forma desigual em um animal ou planta por causa das diferentes características dinâmicas biofísicas nos órgãos8. O que também pode influenciar o teor de melatonina é o ambiente onde as plantas são cultivadas, incluindo temperatura, duração da exposição a luz solar, processo de amadurecimento e tratamento agroquímico8.

As fontes dietéticas de melatonina, de origem animal, podem ser encontradas em ovos e peixes, sendo detectada também no leite materno e nos leites fornecidos por outros animais8,10. Nos cereais foi constatada no trigo, cevada e aveia, mas, segundo um estudo, no pão encontramos concentrações mais altas no miolo do que na crosta9,11.

Nas frutas podemos perceber altas taxas nas uvas14, cerejas15 e morangos16. No grupo dos vegetais, o tomate16 e o pimentão8 seriam os mais benéficos, podendo ser encontrados também nos cogumelos8. Já nas leguminosas e sementes podemos observar altas doses de melatonina na mostarda branca e preta8.

O processo de germinação de leguminosas também se mostrou eficaz nos aumentos dos seus níveis de melatonina. Um estudo mostrou que sementes de soja germinadas tiveram um aumento de 400%, em relação às sojas cruas17,18. Nas sementes de feijão foi observado um aumento 11 vezes maior do que nas sementes cruas17,18. As oleaginosas apresentaram teores de melatonina, e as que se sobressaíram foram as nozes e o pistache13.

Alguns estudos mostram que uma alimentação adequada, com atenção especial para os alimentos que contêm vitaminas do complexo B e magnésio podem ser um fator-chave para o aumento da concentração de melatonina nos níveis sanguíneos7. A vitamina B12 auxilia na secreção de melatonina, enquanto a B6 está envolvida na síntese de serotonina a partir do triptofano. A niacina (B3) pode ser sintetizada endogenamente a partir do triptofano, através da via da quinurenina, sendo necessário consumir uma quantidade suficiente de niacina para inibir a atividade de 2,3-dioxigenase, o que provocará um efeito poupador de triptofano, aumentando sua disponibilidade para síntese de serotonina e melatonina7. O folato (B9) e a piridoxina (B6) participam da conversão de triptofano em serotonina7.

Estudos relatam que o magnésio aumentaria a secreção de melatonina, promovendo o início do sono, atuando como um antagonista do GABA, que é um neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, reduzindo a atividade dos neurônios em várias regiões do cérebro7. O magnésio tem sua função também na produção da enzima N-acetiltransferase, que converte 5-HT em N-acetil-5-hidroxitriptamina, podendo ser convertida em melatonina7.

Entre seus diversos efeitos na saúde, é visto seu potencial na redução do peso corporal12. Em um estudo recente, de 202120, a melatonina induz heterogeneidade de pré-adipócitos através da produção de um subtipo de célula, a G0S2, a qual possui benefício para promover a lipólise e inibir a adipogênese. Dessa forma, pelo fato de a melatonina desempenhar esse papel regulador negativo da G0S2, acarreta na ativação da lipase triglicerídica adiposa (ATGL), reduzindo a adipogênese.

Na saúde cardiovascular, a melatonina parece ter ações antiadrenérgicas no tecido cardíaco. Em um ensaio clínico controlado, no ano de 2011, foi realizada uma intervenção utilizando 5mg de suplementação de melatonina por 2 meses, sendo tomada 2 horas antes de dormir. Foi observado que a melatonina, em pessoas com síndrome metabólica, foi capaz de reduzir a pressão arterial nos indivíduos22.

Além disso, a melatonina é relacionada com melhoras em outros padrões de saúde, como a redução de analgésicos de pacientes perioperatórios, melhora de efeitos colaterais da radioquimioterapia do câncer e até mesmo melhora das atividades instrumentais da vida diária de indivíduos com Alzheimer21.

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Considerações finais

A demanda da sociedade moderna proporciona um número cada vez maior de pessoas que trabalham em horários considerados não convencionais, como o trabalho em turnos e noturno.

A suplementação de melatonina pode ser uma grande aliada principalmente para regular o ciclo do sono e, consequentemente, regular diversos processos fisiológicos. Para isso, deve ser tomada cerca de 30 minutos antes de se deitar. As doses recomendadas são entre 500mcg (0,5mg) e 5mg para se obter benefícios. Comece com 500mcg e, caso não seja eficiente, aumente para 3-5mg. Deve ser salientado que os benefícios da melatonina não são dependentes da dose, ou seja, tomar em maior quantidade não o ajudará a adormecer mais rápido.

Referências bibliográficas

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Gabriela Motta

@nutrigabrielamotta

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