A microbiota é o conjunto de microrganismos presentes em determinado local do organismo. Existem diferentes tipos de microbiota, contudo, a mais estudada, é a do trato gastrointestinal (TGI). A literatura mostra que em um organismo há mais de trilhões de bactérias, pertencentes a, aproximadamente, 190 gêneros e a mais de 500 espécies. A microbiota desempenha funções como ativação de respostas imunes (inata e adaptativa), metabolismo de nutrientes, síntese de ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propianato e o butirato) e síntese de vitaminas do complexo B e vitamina K. Os microrganismos da microbiota intestinal são categorizados em filos, sendo que aproximadamente 90% desses pertencem ao filo Firmicutes e ao Bacteroidetes.
Alguns fatores são responsáveis por alterarem a composição da Microbiota Intestinal (MI), sendo alguns deles:
- Intensidade elevada do exercício;
- Exercício de longa duração;
- Modalidades como a corrida;
- Condições ambientais (temperaturas mais elevadas);
- Variação circadiana;
- Desidratação;
- Maus hábitos pré-exercício (exemplo: dieta com distribuição inadequada de macronutrientes);
- Intolerâncias ou alergias alimentares;
- Uso de medicamento;
- Predisposição para doenças e/ou distúrbios intestinais;
- Composição da microbiota intestinal.
Probióticos
Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde, constituindo-se em suplementos que podem reduzir as queixas GI em atletas. Os suplementos probióticos são compostos por bactérias, como as do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium. A legislação brasileira determina que a quantidade mínima viável para os probióticos deve estar entre 108 e 109 Unidades Formadoras de Colônias (UFC) por dia do produto pronto para consumo, conforme indicação do fabricante.
A FAO (WHO, 2006) refere-se aos probióticos como sendo “organismos vivos que, quando administrados em doses adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. Os benefícios podem ser a melhora na microbiota intestinal, na intolerância à lactose, tratamento de diarréias e aumento da resposta imune.
O ecossistema intestinal é afetado por probióticos que estimulam os mecanismos imunes da mucosa, onde ocorre uma interação com os microrganismos comensais ou potencialmente patogênicos. Esses mecanismos podem inibir patógenos potenciais, aumentando o sistema imune e, consequentemente, fortalecendo a barreira intestinal, reduzindo a inflamação.
Adicionalmente, o papel dos FODMAPs (oligo-, di- e monossacarídeos e polióis fermentáveis) tem sido investigado no controle de desconfortos intestinais em atletas, visto que alimentos com elevado teor de FODMAPs são fermentativos e podem causar esses sintomas. Um estudo mostrou que uma dieta low FODMAP (2g/dia), em comparação com high FODMAP (47g), reduziu de forma significativa as complicações intestinais durante a corrida de resistência. Além disso, estudos mostram que manter uma dieta equilibrada em macro e micronutrientes e a hidratação adequada durante, antes e após o exercício, podem contribuir para a prevenção da inflamação intestinal.
Fibras alimentares
A fibra dietética ou alimentar são substâncias vegetais presentes principalmente em cereais integrais, frutas, hortaliças e leguminosas, e correspondem à fração resistente à digestão pelas enzimas do trato digestório humano9.
São divididas em fibras solúveis e insolúveis, sendo as fibras solúveis: pectinas, gomas, mucilagens, beta-glucanas, psillium e algumas hemiceluloses, as quais formam géis na presença de água; e, também, as fibras insolúveis: celulose, algumas hemiceluloses e lignina, responsáveis por formar misturas de baixa viscosidade.
Segundo o FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador e fiscalizador americano, o consumo ideal de fibras deve ser superior a 25g por dia, dessa forma, é possível extrair seus diversos efeitos na saúde humana.
A fermentação de seus componentes ocorre no intestino grosso, fazendo com que haja impacto sobre a velocidade do trânsito intestinal, sobre o pH do cólon e sobre a produção de subprodutos com importante função fisiológica, podendo oferecer menor risco quando o assunto são doenças crônicas não transmissíveis.
Goma acácia
A fibra de goma acácia é uma fibra natural obtida pela árvore de acácia, a qual caracteriza-se por ser resistente às enzimas digestivas humanas, entretanto, é fermentada no intestino e serve de alimento para as bactérias intestinais que estão associadas a inúmeros benefícios à saúde.
Já se sabe que o consumo das fibras está relacionado a diversos benefícios na microbiota intestinal, evitando o crescimento de bactérias patogênicas e pela capacidade de eliminação de substâncias indesejáveis ao organismo. Como já supracitado, as bactérias presentes no intestino fermentam as fibras vindas da alimentação e produz alguns ácidos graxos de cadeia curta como por exemplo butirato, acetato e propionato que são rapidamente absorvidos no intestino e apresentam benefícios na saúde humana.
Dentre os benefícios associados aos ácidos graxos de cadeia curta estão: manutenção da integridade da parede intestinal deixando-a mais seletiva e evitando a permeabilidade de patógenos ou substâncias que não são adequadas ao organismo, regulação do sistema imune promovendo a inibição da produção de citocinas inflamatórias como TNF-α e IL-6 através da ativação de mecanismos de ação, promoção da estimulação de glutationa-S-transferase, uma importante enzima que atua na eliminação de substâncias consideradas tóxicas ao organismo.
O propionato auxilia na expressão de genes que têm a capacidade de realizar a síntese de leptina, o qual é um hormônio que age diretamente em nosso cérebro e tem como função controlar o apetite, contribuindo para manutenção do peso corporal e evitando a obesidade. Além desse mecanismo, no intestino a ingestão das fibras está relacionada a ativação de genes que contribuem para manutenção dos níveis de triglicerídeos, melhora dos quadros de esteatose hepática e redução de aterosclerose através da regulação da inflamação, e por reduzir os níveis de lipídios no sangue.
Um estudo realizado em 2015 com a introdução de goma acácia em uma mistura de inulina e FOs mostrou exercer efeitos interessantes quando combinados. A introdução de goma acácia promoveu mudança no perfil de fermentação atenuando alguns sintomas que algumas fibras promovem. Sendo assim a goma acácia auxilia na atenuação de produção de gás e diminuição na produção de amônia.
Referências bibliográficas
- Probióticos e prebióticos. World Gastroenterology Organisation, fev. 2017.
- Lamprecht M, Bogner S, Schippinger G, Steinbauer K, Fankhauser F, Hallstroem S, et al. Probiotic supplementation affects markers of intestinal barrier, oxidation, and inflammation in trained men; a randomized, double-blinded, placebo-controlled trial. J Int Soc Sports Nutr. 2012;9(1):45.
- Butel MJ. Probiotics, gut microbiota and health. Med Mal Infect. 2014;44(1):1-8.
- Staudacher HM, Irving PM, Lomer MC, Whelan K. Mechanisms and efficacy of dietary FODMAP restriction in IBS. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2014;11(4):256-66.
- ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alimentos. Alimentos com alegações de propriedades funcionais e ou de saúde, novos alimentos, ingredientes, substâncias bioativas e probióticos. IX – Lista das alegações de propriedades funcionais aprovadas. Julho. 2008.
- Fernanda Sarmento Rolla Bernaud, Ticiana C. Rodrigues. Dietary fiber – Adequate intake and effects on metabolism health. Arq Bras Endocrinol Metab. 2013;57/6.
Gabriela Motta
@nutrigabrielamotta