Figura 1 - Imagem de mesa com vários alimentos que contem resveratrol.

Interação entre o sistema imune e inflamação: funções do resveratrol

A inflamação está associada a resposta imune, sendo uma parte importante para o funcionamento do sistema imunológico. Ela participa de repostas agudas e transitórias do sistema imune a estímulos prejudiciais, facilitando a defesa, reparo, renovação e adaptação de muitos tecidos. No entanto, a inflamação crônica e sistêmica é prejudicial para muitos tecidos e pode influenciar funções fisiológicas normais. A inflamação crônica de baixo grau está associada ao aumento da abundância e ativação de células da imunidade inata e adaptativa nos tecidos, juntamente com a liberação de fatores pró-inflamatórios.

Esses processos podem estar mais ativados como o envelhecimento, caracterizado pelo aumento da circulação de marcadores inflamatórias, fenômeno conhecido como “inflammaging”. Estudo avaliou 19 biomarcadores associados à inflamação, incluindo citocinas pré e anti-inflamatórias, receptores de citocinas, quimocinas e proteína C reativa (PCR), e foi observado que 10 em cada 19 biomarcadores foram significativamente associados à idade. Além disso, a inflamação crônica e sistêmica é também um fator que contribui para muitas doenças relacionadas ou não à idade, incluindo as doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, autoimunes, desordens metabólicas e artrite reumatoide.

Nesse sentido, entre vários fatores inflamatórios, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina-6 são as duas citocinas liberadas em grande quantidade durante a inflamação e são mediadores importantes no diabetes mellitus tipo II e nas doenças cardiovasculares, por exemplo. Tais citocinas inflamatórias são potentes indutores da proteína C reativa (PCR), um reagente de fase aguda sintetizado principalmente no fígado, que demonstrou ser um forte fator de risco para doenças metabólicas. Nesse sentido, a literatura tem apontado compostos que são capazes de mitigar processos inflamatórios crônicos, dentre eles o resveratrol tem sido muito explorado. Dessa forma, iremos explorar abaixo as funções do resveratrol no controle da inflamação e sua correlação com o sistema imunológico em vários contextos.

 

Figura 2 - Imagem 3D de uma representação do sistema imunológico.

Resveratrol e controle da inflamação

O resveratrol é conhecido como um polifenol natural com potenciais benefícios para a saúde, geralmente é encontrado nas uvas, amendoins e frutas vermelhas. As evidências demonstram que os efeitos benéficos do resveratrol observados em estudos científicos é devido a suas atividades, tais como: antioxidante, anti-inflamatória, cardioprotetora e neuroprotetora.

O resveratrol constatou diminuir as reações inflamatórias por meio da inibição da síntese de mediadores pró-inflamatórios e da modificação das células imunológicas por meio do efeito inibitório na proteína ativadora 1 (AP-1), regulação do fator de transcrição nuclear kappa beta  (NF-kB), mediação de citocinas pró-inflamatórias e na formação de espécias reativas de oxigênio em estudos in vitro e pré-clínicos.

Corroborando com esses dados, pesquisas clínicas randomizadas também observaram evidências a respeito da melhora da inflamação em diferentes situações clínicas.  Apesar de alguns autores considerarem as evidências inconclusivas. Meta-análise conduzida de acordo com as diretrizes da declaração 2009 Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) avaliou 17 estudos clínicos randomizados, somando ao todo 736 indivíduos acima de 17 anos de idade, essas pesquisas estudaram  o efeitos da ingestão de resveratrol em marcadores inflamatórios circulantes no plasma e no soro, como  IL-6, TNF-α e PCR. As doses utilizados nos estudos foram entre 8-800 mg de resveratrol/dia, variando entre 1-12 meses.

 

Figura 3 - Imagem de vário alimentos que tem resveratrol.

Dentre as pesquisas, quatro reportaram sobre indivíduos com diabetes mellitus tipo II, 4 foram realizados em indivíduos com doenças cardiovasculares, doença arterial coronariana e aterosclerose, dois avaliaram pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica, dois estudaram indivíduos eutróficos, dois ensaios foram realizados em pacientes obesos e 3 observaram dados sobre angina de peito estável,  pós-menopausa em mulheres não obesas e colite ulcerativa. A grande parte dos estudos utilizou o trans-resveratrol isolado como intervenção, outros utilizaram extratos contendo resveratrol.

Como resultado da meta-análise, a suplementação de resveratrol diminuiu de maneira significativa os níveis de TNF-α (p=0,003) e PCR (p=0,033), mas a concentração de IL-6 não apresentou diferença estatística quando comparada ao controle. De maneira individual, estudo demontrou que a ingestão de 500 mg de trans-resveratrol/dia durante doze semanas por indivíduos com doença hepática gordurosa não alcoólica foi capaz de melhorar os níveis  de TNF-α e PCR no soro, concomitantemente, foi observado melhora significativa da enzima hepática alanina aminotransferase (ALT) e grau de esteatose hepática. No mesmo sentido, a ingestão de de extrato de uva contendo 8 mg de resveratrol/dia por um ano melhorou marcadores inflamatórios (PCR, IL-6 e TNF-α) e estado fibrinolítico em pacientes que estavam em uso de estatinas para prevenção primária de DCV e com alto risco de DCV.

Pessoas saudáveis sem excesso de peso também se beneficiaram da ingestão de 40 mg de trans-resveratrol/dia durante 6 semanas, sendo capaz de melhorar de maneira significativa os parâmetros IL-6, TNF-α e PCR, além de dimunuir a expressão de vias inflamatórias e estresse oxidativo em células mononucleares dos indivíduos do grupo intervenção quando comparado ao controle.

Como conclusão, as evidências disponíveis sugerem um potencial efeito preventivo da suplementação de resveratrol em marcadores inflamatórios em diversas situações clínicas. A dosagem, bem como o tempo de intervenção devem ser avaliados por profissionais capacitados.

 

Referências:

https://doi.org/10.3109/08830185.2012.665108

https://doi.org/10.1186/s12906-017-1823-z

https://doi.org/10.1155/2015/568634

https://doi.org/10.1155/2019/7591840

https://doi.org/10.1016/S0024-3205(02)02083-0

https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097

https://doi.org/10.1016/j.nutres.2014.09.005

https://doi.org/10.1210/jc.2010-0482

https://doi.org/10.1016/j.amjcard.2012.03.030

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