Nos últimos anos, os números de obesidade e sobrepeso aumentaram de forma significativa, e em paralelo a isso há também uma maior preocupação em busca de um corpo bonito esteticamente. Entretanto, é necessário que haja a união da nutrição com a estética, aliando bem-estar, saúde e autoestima. Um emagrecimento saudável e contínuo é fundamental para amenizar problemas adversos, comuns em um processo de emagrecimento, como a flacidez, que é causada pela ruptura das fibras de colágeno e elastina da pele.
Diante disso, cada vez mais, a nutrição estética vem ganhando espaço no cenário da saúde, voltada para a implementação de um cuidado nutricional que, além dos requisitos fundamentais da dietética e da dietoterapia aplicados à prevenção ou ao tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, atenda também à “necessidades estéticas” dos pacientes1.
Nutrientes e impacto nos efeitos cutâneos
Há muito tempo relatam-se a influência de nutrientes no metabolismo cutâneo e seus potenciais efeitos na prevenção, ou até mesmo melhora dos sinais do envelhecimento da pele. No entanto, ao longo dos últimos 10 anos, na era conhecida como pós-genoma humano, as pesquisas nessa área foram intensificadas expressivamente, comprovando a capacidade que não só os nutrientes, mas também compostos bioativos dos alimentos têm de modular as funções celulares e moleculares da pele. Um desses compostos é o colágeno hidrolisado, que vem sendo estudado nos últimos anos e tem apresentado efeitos funcionais e benéficos na pele2,3,4.
Sabendo que durante um processo de emagrecimento ocorre uma mudança significativa de massa corporal e densidade da pele, o presente artigo salienta que a suplementação de colágeno hidrolisado, aliado a adoção de condutas nutricionais equilibradas e constantes, permitindo que o corpo passe por todo o processo de adaptação, pode ser uma ferramenta nutricional promissora, levando a uma maior eficácia em tratamentos para flacidez durante processos de emagrecimento.
O excesso de peso é um problema atual de saúde pública, em 2018, no Brasil, os dados apontaram que o crescimento da obesidade foi maior entre os adultos de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos, com 84,2% e 81,1%, respectivamente5. Para mudar esse cenário, é muito importante um acompanhamento nutricional especializado, a fim de promover um emagrecimento lento, saudável e contínuo, buscando amenizar ao máximo efeitos ruins como a flacidez, já que o emagrecimento mais controlado permite uma melhor readaptação da pele.
A estrutura da pele é formada por camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme6,7. A integridade dessa estrutura é constituída principalmente por colágeno, sendo que esse é a principal proteína fibrosa insolúvel presente no tecido conjuntivo e na matriz extracelular dérmica, o qual tem como função fornecer à pele força e resistência. É produzido a partir de precursores (pró-colágeno), expressos por meio da codificação de genes a partir de fibroblastos dérmicos8. Segundo Gerson et al (2011)9, o colágeno é uma substância proteica que dá força a pele e é fundamental no processo cicatricial, e a elastina é a proteína que forma o tecido elástico e fornece elasticidade à pele.
A perda de densidade e espessura dérmica, caracterizada por flacidez e afinamento cutâneo, é uma “sequela” causada por vários episódios ocorridos ao longo dos anos como a inatividade física, o emagrecimento rápido, o envelhecimento, entre outros, levando a ruptura das fibras colágenas. Nesses casos a musculatura perde a tonicidade e, sem contornos definidos, as fibras musculares tornam-se atrofiadas e flácidas10,11,12.
Atualmente, o interesse é crescente no uso de suplementos alimentares devido aos seus efeitos benéficos para a saúde da pele. Os estudos que vêm sendo feitos nos últimos anos, em relação ao colágeno, têm apresentado efeitos funcionais e benéficos na pele. Há um consenso de que os efeitos biológicos promovidos pelo colágeno estão relacionados com a ingestão de sua forma hidrolisada. A hidrólise enzimática dá origem a peptídeos de colágeno biologicamente ativos, que têm demonstrado diversos efeitos positivos2.
Os estudos em relação ao uso do colágeno hidrolisado como suplemento alimentar vêm de longa data, e ele tem sido considerado fonte promissora de peptídeos com atividade biológica. Há anos esses estudos vêm mostrando a bioatividade do CH e de seus peptídeos derivados, incluindo atividade antioxidante, anti-hipertensiva e potencial de estimular o metabolismo de diferentes tecidos conjuntivos como cartilagem, ossos e conjuntivo da pele2.
Do termo Kolla (cola) e Genno (produção) origina-se a palavra “colágeno”. Ele é definido como uma proteína fibrosa que apresenta cadeias peptídicas de aminoácidos, como a glicina, prolina, lisina, hidroxilisina, hidroxiprolina e alanina. Essa cadeia é determinada de maneira paralela a um eixo, formando as fibras de colágeno que garantem firmeza e elasticidade à estrutura existente. É encontrado no corpo humano como em: ossos, tendões, cartilagem, veias, dentes, músculos e pele. Suas diversas funções englobam manter as células dos tecidos justapostas e fortalecidas, sendo também encarregado de fazer a regeneração e a cicatrização em casos de danos ao tecido, contribui com a hidratação corporal e possui uma alta elasticidade2,13,14,15.
A ingestão do colágeno hidrolisado contribui para suprir os efeitos negativos da diminuição dos aminoácidos na derme, trazendo benefícios contidos nesta proteína para melhora e retardo do desgaste tecidual, restaurando a firmeza cutânea e auxiliando nos tratamentos estéticos2,16,17.
Na Tabela 1 são apresentados os resultados de dois trabalhos interessantes. Em ambos os estudos, a suplementação com colágeno hidrolisado mostrou-se eficaz:
Tabela 1 – Resultados de estudos feitos por alguns autores em relação aos benefícios do colágeno hidrolisado. Fonte: ADDOR, 2015; ZAGUE et al., 2011.
Considerações finais
De acordo com resultados de alguns estudos e levando em consideração que em um processo de emagrecimento podem ocorrer rupturas das fibras de colágeno e elastina, levando à flacidez tecidual, podendo esta ser agravada de acordo com a rapidez em que esse emagrecimento acontece, concluiu-se que a suplementação com colágeno hidrolisado (CH), pode sim ser benéfica em relação à melhora ou prevenção de quadros de flacidez, seja facial ou corporal. Entretanto, vale salientar que para um resultado mais satisfatório, é indispensável uma alimentação saudável e equilibrada de acordo com cada indivíduo. Além disso, são necessários também mais estudos sobre o assunto, para reforçar a confirmação dos benefícios da suplementação de colágeno hidrolisado.
REFERÊNCIAS
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Yanna Lívia Forte Ferreira – CRN:31309
Instagram: @yannafferreira.nutri
Pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética