primeira imagem a esquerda representa um intestino seguindo a direita com um cérebro e uma representação da cabeça humana

Eixo cérebro-intestino: papel da microbiota na saúde mental

O eixo cérebro-intestino

 O cérebro é o órgão matriz do sistema nervoso que está localizado dentro do crânio nos seres humanos e é o principal centro de regulação e controle das atividades corporais: sede da consciência, do pensamento, da memória e da emoção. É ele, portanto, que permite ao homem identificar, perceber e interpretar o mundo que o rodeia. Já o intestino é parte importantíssima do sistema digestório, sendo a sua principal função a de absorção de nutrientes e água. O intestino é dividido em duas partes: intestino delgado e intestino grosso. No primeiro, é onde ocorre a absorção de grande parte dos nutrientes ingeridos. No segundo, é absorvida grande parte da água utilizada no processo de digestão. Ao ler a definição de cada um, é possível pensar que eles não estão relacionados ao cérebro. Contudo, tais órgãos estão interligados, formando um eixo que é conhecido como eixo cérebro-intestino. Essa conexão pode ser comparada como uma “linha telefônica” de alta complexidade que se comunica bidirecionalmente, caso o sinal de um lado falhe o outro lado não irá entender perfeitamente, com isso gera distúrbios gastrointestinais, emocionais, obesidade, doenças neurológicas. A microbiota influencia a formação e modulação do funcionamento do eixo intestino-cérebro. A microbiota intestinal tem um impacto significativo nos processos relacionados à síntese de neurotransmissores, a mielinização de neurônios no córtex pré-frontal, e está envolvida no desenvolvimento da amígdala e do hipocampo.

As bactérias intestinais também são uma fonte de vitaminas, cuja deficiência acredita-se estar relacionada à resposta à terapia antidepressiva e pode levar à exacerbação dos sintomas depressivos. A microbiota intestinal desempenha um papel importante na fisiopatologia da depressão. A depressão (transtorno depressivo maior, TDM) é uma doença psiquiátrica séria que afeta negativamente os pensamentos, o comportamento, os sentimentos, a motivação e a sensação de bem-estar de forma persistente. Atualmente, a depressão é considerada uma doença da civilização moderna, devido à sua elevada prevalência. A conexão será feita a partir de substâncias chamadas de mediadores hormonais, como serotonina e dopamina (responsáveis pela sensação de bem-estar), que são liberadas no intestino e caem na corrente sanguínea até chegar ao cérebro. Outra via é a imunológica, quando proteínas liberadas por células do sistema imune, como as citocinas, também caem no sangue e vão até o cérebro. São vários os mecanismos que fazem a ligação entre esses dois eixos e os tornam algo tão complexo. As interações entre cérebro e intestino são complexas e muito importantes e para entendermos é necessário compreender que comunicação neuronal é exercida através do sistema nervoso entérico e do nervo vago, e tem um papel fundamental nos sinais do encéfalo para o trato GI e vice-versa, fazendo assim a “linha telefônica”.

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Impacto da disbiose intestinal na saúde mental

Ainda na comparação da conexão cérebro-intestino a uma linha telefônica de alta complexidade, o sistema imune será um intermediário entre a microbiota e o cérebro. As citocinas podem sinalizar para o cérebro via nervo vago, ou diretamente nas regiões permeáveis da barreira hematoencefálica. Porém, se o sinal de um lado falhar o outro não receberá a informação correta, o que causará um desequilíbrio. Esse desequilíbrio ocorre na microbiota. A microbiota terá um papel fundamental na manutenção homeostática do sistema nervoso central, dado o seu papel chave na comunicação bidirecional entre o sistema gastrointestinal e o cérebro, refletindo-se no comportamento e humor. Quando ocorre esse desequilíbrio, denominado disbiose, perde-se o estado de homeostase. A regulação da homeostase do SNC (Sistema Nervoso Central) pelo eixo microbiota-TGI-cérebro tem reflexo no estado de humor e comportamento do indivíduo. O SNC e os diversos ramos que o compõem são influenciados e regulados pelo eixo intestino-cérebro, desse modo quando a microbiota se encontra saudável, o eixo é mantido estável e saudável, sem alterações, e a relação entre os microrganismos da ali presentes e o hospedeiro ocorre beneficiando ambos.

Porém, quando ocorre qualquer problema nessa relação ocasiona a desregulação do metabolismo gerando consequências negativas, entre as quais estão os distúrbios endócrinos metabólicos e neurais, nesses últimos estão presentes fatores que irão desencadear os transtornos mentais. A desregulação na comunicação entre o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central levará o sistema imune a produzir respostas indevidas, o que eleva a quantidade de mediadores inflamatórios, fazendo com que doenças psiquiátricas possam ser desenvolvidas. O padrão alimentar é crucial para o estabelecimento das espécies comensais dominantes, pois alterações na dieta podem condicionar mudanças significativas na comunidade entérica, sendo que o SNE tem a capacidade de modular o SNC, que estará ligado ao intestino. Embora a causalidade ainda não tenha sido estabelecida, a disbiose intestinal emergiu como uma marca registrada de várias doenças, incluindo transtornos neuropsiquiátricos. O fato de a microbiota e o sistema nervoso central estarem em co-desenvolvimento durante os primeiros anos de vida sugere um papel potencial da modulação da microbiota no tratamento de alguns transtornos. Estudos em modelos animais de estresse no início da vida mostraram que algumas cepas de probióticos podem neutralizar os efeitos invasivos do estresse durante este período crucial de desenvolvimento e resgatar sintomas comportamentais relacionados à ansiedade e depressão mais tarde na vida.

 

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