Distúrbios da tireoide e benefícios da prescrição nutricional

Distúrbios da tireoide e benefícios da prescrição nutricional

A tireoide é uma glândula localizada na porção anterior do nosso pescoço, popularmente conhecida pelo seu formato de borboleta. É uma das maiores glândulas do nosso corpo e é responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Por ser altamente vascularizada ela recebe muitos nutrientes, mas também entrega muitos deles na corrente sanguínea. Ela age na função de órgãos importantes como o coração, cérebro, fígado, rins, entre outros. Também interfere no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes 1,2.

A glândula tireoide tem sua função regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, sendo que essa regulação tem início no hipotálamo, mais especificamente no núcleo paraventricular, no qual ocorre a liberação do TRH (hormônio liberador de tireotropina hipotálamo), que estimula a síntese e secreção de TSH (hormônio estimulador da tireoide – tireotropina pituitária) pela hipófise e, por fim estimula a síntese e liberação dos hormônios T3 e T4 pela tireóide 3. Os hormônios tireoidianos atuam em quase todas as células nucleadas, ou seja, células que possuem núcleo, sendo imprescindível para o metabolismo energético 4.

As disfunções tireoidianas são prevalentes em todo o mundo, sendo que quando há uma condição na qual a glândula produz menos do que deveria, ocasiona uma deficiência de hormônio tireoidiano, e se classifica como uma patologia chamada hipotireoidismo5. O contrário dessa condição é a patologia conhecida como hipertireoidismo, classificada como o aumento da síntese e secreção de hormônio pela glândula tireóide 6.

As prevalências de hipertireoidismo e hipotireoidismo no Brasil se encontram relativamente altas quando comparadas com as prevalências globais com base em amostras epidemiológicas 4.

Os distúrbios da tireoide possuem como causa mais comumente apresentada a deficiência de iodo pela dieta, porém, há controvérsias dessas afirmações, alinhando possíveis influências como sexo, idade, fatores ambientais, suscetibilidade genética, tabagismo e, principalmente, a alimentação4,7. A deficiência de iodo no Brasil é quase nula, levando em consideração a lei que dispõe sobre a obrigatoriedade da adição do iodo no sal, destinado ao consumo humano, tendo controle pelos órgãos sanitários, sendo assim, é possível afirmar que outros nutrientes, em especial os minerais, também estão relacionados com os hormônios tireoidianos e a atividade da glândula tireóide.

Hipotireoidismo

Se trata de uma patologia comum condicionada a deficiência de hormônio tireoidiano, porém, tem uma ausência geral de sintomas específicos. Em muitos casos, sua descoberta é somente pela alteração dos exames bioquímicos 5,8, quando apresenta alguns sintomas, eles podem variar, podendo ser um leve ganho de peso, fadiga, baixa concentração e irregularidades menstruais nas mulheres 9.

A deficiência de hormônios tireoidianos (T3 e T4), estimula a hipófise a aumentar a produção do hormônio estimulador da tireoide (TSH) por meio de um mecanismo de feedback negativo, levando assim ao hipotireoidismo9.

É muito comum a correlação popular do hipotireoidismo com a obesidade, isso porque os hormônios tireoidianos regulam o metabolismo basal, a termogênese e desempenham um papel importante no metabolismo de lipídios e glicose, entretanto, a ligação entre esses fatores é controversa. Novos estudos apontam que alterações no hormônio estimulador da tireoide (TSH) podem ser secundárias à obesidade 10. Isso significa que o hipotireoidismo pode ser decorrente da obesidade e não o contrário, contanto que todo o contexto seja analisado antes do diagnóstico.

Estudos recentes apontam que o iodo, apesar de ser imprescindível, não é o único elemento necessário para manter e regular a função tireoidiana, mas também o magnésio, ferro, selênio e coenzima Q10. Sendo que cada elemento citado possui uma função diferente e importante no metabolismo tireoidiano. O ferro é importante para a síntese de peroxidase tireoidiana (enzima primordial para a biossíntese do hormônio tireoidiano), em casos de deficiência de ferro essa atividade é enfraquecida; o magnésio colabora para o processo ativo de captação de iodo; o selênio atua através de selenoproteínas para proteger a célula tireoidiana durante a sua síntese hormonal; e a coenzima Q10 influencia diretamente sobre a vascularização da tireóide 11.

Hipertireoidismo

Ao contrário do hipotireoidismo, o hipertireoidismo se trata de uma patologia na qual há um aumento da síntese e liberação de hormônios tireoidianos (T3 e T4), causada justamente pela hiperatividade da glândula. As razões mais comuns podem ser em decorrência da Doença de Graves, bócio multinodular tóxico e adenoma tóxico 6,12. É importante destacar que hipertireoidismo é diferente de tireotoxicose. A tireotoxicose se resume a um termo geral para o aumento dos níveis circulantes de hormônios da tireóide nos tecidos, e as principais causas podem variar entre uma tireoidite (conjunto de doenças inflamatórias) ou uma disfunção tireoidiana induzida por iodo e drogas 6.

O hipertireoidismo é uma patologia menos comum do que o hipotireoidismo, pois, em grande parte, se trata de uma doença autoimune, e seus sintomas podem variar de um início súbito de taquicardia, ansiedade e até perda de peso não intencional 6,12.

Dietoterapia

Além do iodo, como já citado anteriormente, outros nutrientes são essenciais para o metabolismo da tireóide, no caso do hipotireoidismo, o magnésio, ferro, selênio e coenzima Q10 também são fundamentais no 11. Os alimentos fontes de magnésio são semente de abóbora, castanhas (amêndoa, avelã, castanha-do-pará, caju entre outras), tofu, semente de girassol e, em menor quantidade, nas hortaliças e feijão-preto cozido. Os alimentos ricos em ferro são: semente de abóbora, tofu, fígado de boi cozido, carne de boi cozida, vagem de ervilha cozida e em menor quantidade na abóbora, espinafre, beterraba, couve e feijão. Já o selênio é encontrado em maior quantidade na castanha-do-brasil, também conhecida como castanha-do-pará, em seguida, outros alimentos fontes de selênio são os cogumelos, frutos do mar, fígados, leveduras, cereais e espécies crucíferas (mostarda, repolho, brócolis e couve-flor)14. E a coenzima Q10, que possui várias funções em nosso organismo, principalmente responsável pela vascularização da tireóide, pode ser suplementada em casos de baixos níveis ou deficiência 11.

Já no caso do hipertireoidismo, proveniente de uma doença autoimune, na maior parte dos casos, não possui um tratamento dietoterápico definido e o tratamento farmacológico acaba sendo o mais indicado 13. Porém, deve-se levar em consideração os nutrientes que agem diretamente da função tireoidiana, como elementos chave para sua regulação, sendo eles iodo, ferro e selênio. A vitamina D tem sido bastante estudada como moduladora da função tireóide, porém, evidências ainda são inconclusivas sobre seu verdadeiro benefício na glândula 15.

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Considerações finais

Uma alimentação variada e rica em alimentos fonte de ferro, selênio e iodo se mostrou benéfica para ambos os casos de doenças da tireoide, pois esses nutrientes atuam regulando a atividade da glândula tireóide. Outros alimentos fonte de magnésio também se mostraram benéficos em casos de hipotireoidismo. A quantidade diária a ser consumida deve levar em conta fatores individuais, como a idade e o sexo, principalmente a suplementação de coenzima Q10, que deve ser avaliada de acordo com o caso e exames laboratoriais apresentados.

Referências bibliográficas

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Tireoide, 2008.
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOGLOGIA E METABOLOGIA. Entendendo a Tireoide: Hipotireoidismo. 2013.
  3. CARVALHO, Tania et al. Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Wiley Online Library, vol.6, Edição 3, julho 2016.
  4. TAYLOR, Peter et al. Epidemiologia global do hipertireoidismo e hipotireoidismo. Nat Ver Endocrinology, Maio de 2018.
  5. CHAKER, Layal et al. Hipotireoidismo. The Lancet, Setembro 2017.
  6. LEO, Simone et al. Hipertireoidismo. The Lancet, Agosto 2016.
  7. VANDERPUMP, Mark Pj. A epidemiologia das doenças da tireoide. British Medical Bulletin, 2011.
  8. JONKLAAS, Jacqueline. Atualização sobre o tratamento do hipotireoidismo. Current Opinion in Oncology, 2016.
  9. CHIOVATO, Luca et al. Hipotireoidismo em contexto: onde estivemos e para onde estamos indo. Springer Link, 2019.
  10.  SANYAL, Debmalya.; RAYCHAUDHURI, Moutusi. Hipotireoidismo e obesidade: uma ligação intrigante. Metab endocrinology Indian, 2016.
  11. MONCAYO, Roy.; MONCAYO, Helga. Uma análise pós-publicação do valor de referência superior idealizado de 2,5 mIU/L para TSH: Tempo para apoiar o eixo da tireoide com magnésio e ferro, especialmente no contexto da medicina reprodutiva. ScienceDirect, 2017, vol 7. Páginas 115-119.
  12. KRAVETS, Igor. Hipertireoidismo: diagnóstico e tratamento. Am Fam Physician, 2016.
  13. GIANELLI, Frank R. Hipertireoidismo. Jaapa, 2015.
  14. COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. Manole, 5ª edição revisada e atualizada, 2019.
  15. RAYMAN, Margaret P. Fatores nutricionais múltiplos e doenças da tireoide, com referência particular às doenças autoimunes da tireoide.

Emanuela Morais

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