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Dieta vegetariana, benefícios globais e ação preventiva no câncer

O padrão alimentar vegetariano tem ganhado cada vez mais popularidade no mundo seja por questões filosóficas, religiosas ou pelo apelo à saúde oriundo da prática. Acredita-se que um dos precursores do movimento tenha sido Pitágoras que propunha aos seus seguidores a adoção de um padrão alimentar livre de derivados animais pautado em sua crença de imortalidade da alma, Pitágoras acreditava que havia uma relação intrínseca entre a pureza da alma e do ser com o não consumo de produtos animais, assim como o filósofo grego Plutarco e o poeta romano Ovídio dos quais há relatos de seu abomínio ao sofrimento animal9.

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Algumas religiões ainda fazem este paralelo espiritual ao padrão alimentar, como por exemplo os Adventistas do sétimo dia, os católicos em seus tempos de quaresma, as religiões de origem africanista próximo à seus ritos, as religiões orientais hinduístas e budistas também se opõem a todo e qualquer tipo de sofrimento animal1  se abstendo completa ou parcialmente da carne em seu cotidiano ou em ocasiões previstas para abstenção.

O vegetarianismo engloba diferentes padrões alimentares que são classificados de acordo com o quão restritivas são as práticas, de um modo geral é considerado vegetariano todo indivíduo que opta pela exclusão da carne na dieta, contudo, os flexitarianos por exemplo consomem carne pontualmente, já os pescetarianos consomem frutos do mar e peixes, os ovolactovegetariano excluem as carnes mas introduzem subprodutos de origem animal como laticínios e ovos. O vegetarianismo estrito, opta pela exclusão geral de todos os produtos alimentícios de origem animal. E para fins didáticos, a definição de  veganismo engloba todos os indivíduos que por razões particulares ideológicas optam pela exclusão geral de todo produto cuja origem envolva animais em alguma etapa, como por exemplo cosméticos, itens pessoais e de vestuário6.

Atualmente a popularidade deste padrão tem crescido significativamente, uma vez que a ciência tem avançado exponencialmente ao demonstrar a multiplicidade dos benefícios obtidos através deste, que serão discutidos a seguir

Os principais mecanismos observados a partir dos padrões dietéticos vegetarianos derivam da melhora do perfil antioxidante propiciando uma proteção celular que é buscada no manejo de diversas patologias. Já é muito bem descrito seu impacto na resposta inflamatória e imunológica, uma vez que alimentos de origem vegetal podem interferir diretamente em importantes marcadores da inflamação como PCR; IL 6 e fibrinogênio3. Podemos citar neste cenário por exemplo os compostos fenólicos que parecem ter um papel modulador na resposta celular linfocitária e na função das células natural killer, por sua vez os carotenóides têm participação efetiva na imunomodulação3 , de modo que o consumo conjunto dos compostos através da dieta propicia um cenário metabólico predominantemente anti-inflamatório. A partir destes dados, se pode considerar a dieta vegetariana como uma importante estratégia no manejo de doenças crônicas como diabetes mellitus, hipertensão e demais patologias cardíaca.

Uma revisão sistemática com meta análise realizada pelo grupo de Dinu (2016) trazem um interessante dado onde os nos estudos avaliados com populações adeptas a dietas à base de plantas os níveis séricos de colesterol LDL, colesterol total, triglicérides, glicemia e até mesmo IMC foram menores quando comparados à grupos não vegetarianos4.

Um outro ponto bastante relevante que tem sido discutido pela ciência é a influência da dieta vegetariana na microbiota intestinal. Os estudos demonstram que os vegetarianos estritos apresentam maior proporção de Bacteroides pra Prevotella quando comparados à indivíduos comedores de carnes, apresentam também maior número de Faecalibacterium prausnitzii cuja ação está intimamente ligada à degradação de fibras e ação anti-inflamatória10. O impacto fundamental na microbiota se deve à composição predominante das dietas vegetarianas que são ricas em fibras, pobres em gorduras e abundantes em compostos antiinflamatórios, de modo a criar um cenário propício para a colonização e fixação de bactérias com afinidade a estes compostos, propiciando a perpetuação de um cenário metabólico predominantemente anti-inflamatório.

Um estudo realizado pelo grupo de Segovia-Siapco em Oxford no Reino Unido buscou compilar evidências que pudessem correlacionar o risco de câncer e as dietas vegetarianas, o EPIC- Oxford é uma das maiores coortes prospectivas europeias reunindo 65.429 participantes sendo 52% onívoros, 15% pescetarianos 29% vegetarianos e 4% veganos. Os achados da coorte apontam que nos grupos vegetarianos; pescetarianos e veganos há um risco reduzido em uma margem de 11-19% para todos os cânceres, e especificamente os veganos apresentaram um risco reduzido de 10-11% de câncer de próstata e o risco de câncer colorretal pareceu reduzido em 42% para ovolactovegetarianos8.. O mesmo estudo também relata que os vegetarianos apresentaram menor IMC quando comparados à grupos comedores de carne, e em escalas subjetivas relataram melhor qualidade de vida. Tal dado é reforçado no estudo ADVENTIST-2 (Adventist-Health Study 2)2 onde os dados corroboram para a concordância que os indivíduos vegetarianos estritos apresentam menor índice de massa corporal, melhor qualidade de vida em escalas subjetivas e em menor escala são menos propensos a intervenções com anti-hipertensivos, uma vez que a dieta vegetariana parece benéfica no controle da pressão arterial devido ao menor consumo de gordura saturada, maior aporte de fibras e compostos antioxidantes2.

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Um outro estudo realizado também no Reino Unido pelo grupo de Parrata- Soto (2022) trouxe como achado um comparativo que os grupos vegetarianos apresentaram um risco reduzido para câncer de cólon e cólon proximal, corroborando com o reforço de hipóteses anteriores que este tipo de dieta pode estar associado à estratégias visando prevenção do câncer justificada pela composição da dieta evidenciando a riqueza em compostos bioativos, polifenóis, vitaminas e fibras, cujos efeitos anticancerígenos tem sido amplamente estudados7.

O câncer colorretal é a neoplasia mais comum do trato digestivo, e já se pode correlacionar o alto consumo de carne vermelha com alterações expressivas de microbiota e aumento da formação de espécies reativas de oxigênio e compostos N-nitrosos, deste modo já é amplamente sugerido pelas sociedades médicas que a adoção de um padrão alimentar vegetariano pode ser considerado um forte aliado na prevenção do câncer colorretal5.

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Referências Bibliográficas

  1. BEIG, B. B. A prática vegetariana e os seus argumentos legitimadores: viés religioso. Revista Nures, São Paulo, n. 11, p. 1-15, 2009.
  2. Chan J, Jaceldo-Siegl K, Fraser GE. Serum 25-hydroxyvitamin D status of vegetarians, partial vegetarians, and nonvegetarians: the Adventist Health Study-2. Am J Clin Nutr. 2009; 89(5):1686S-169S.
  3. Craddock, Joel C et al. “Vegetarian-Based Dietary Patterns and their Relation with Inflammatory and Immune Biomarkers: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Advances in nutrition (Bethesda, Md.) vol. 10,3 (2019): 433-451. doi:10.1093/advances/nmy103
  1. Dinu, Monica et al. “Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies.” Critical reviews in food science and nutrition vol. 57,17 (2017): 3640-3649. doi:10.1080/10408398.2016.1138447
  2. Dagostin, C. T., Rigo, F. K., & Damázio, L. S. (2019). ASSOCIAÇÃO ENTRE ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA E A PREVENÇÃO DO CÂNCER COLORRETAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Revista Contexto & Saúde, 19(37), 44–51. https://doi.org/10.21527/2176-7114.2019.37.44-51
  3. Hargreaves, Shila Minari et al. “Vegetarian Diet: An Overview through the Perspective of Quality of Life Domains.” International journal of environmental research and public health vol. 18,8 4067. 12 Apr. 2021, doi:10.3390/ijerph18084067
  4. Parra-Soto, Solange et al. “Association of meat, vegetarian, pescatarian and fish-poultry diets with risk of 19 cancer sites and all cancer: findings from the UK Biobank prospective cohort study and meta-analysis.” BMC medicine vol. 20,1 79. 24 Feb. 2022, doi:10.1186/s12916-022-02257-9
  5. Segovia-Siapco, Gina, and Joan Sabaté. “Health and sustainability outcomes of vegetarian dietary patterns: a revisit of the EPIC-Oxford and the Adventist Health Study-2 cohorts.” European journal of clinical nutrition vol. 72,Suppl 1 (2019): 60-70. doi:10.1038/s41430-018-0310-z
  6. SPENCER, C. The Heretic’s Feast: A History of Vegetarianism. 1. ed. [S. l.]: UPNE, 1995
  7. Trefflich, Iris et al. “Is a vegan or a vegetarian diet associated with the microbiota composition in the gut? Results of a new cross-sectional study and systematic review.” Critical reviews in food science and nutrition vol. 60,17 (2020): 2990-3004. doi:10.1080/10408398.2019.1676697

 

Suellen Bueno

@suellenbueno_nutri

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