O metabolismo é um conjunto de transformações fisiológicas, onde há uma fase de construção, chamada de anabolismo e fase de destruição, chamada de catabolismo. Um organismo deve manter o equilíbrio entre as duas fases para que funcione de maneira adequada (1)
O músculo é o principal órgão metabólico, consome mais calorias do que os outros órgãos, portanto necessita de uma adequação nutricional para que mantenha sua funcionalidade. É também o reservatório proteico do nosso corpo e regula a homeostase da glicose e lipídeos (1)
Controlam a locomoção, são fundamentais para a respiração, alimentação, gasto energético e, portanto, os músculos são fundamentais para a manutenção de uma alta qualidade de vida (7)
Fatores como idade, sexo, atividade física, dieta e algumas patologias (atrofia, distrofia muscular, obesidade, diabetes, miopatias musculares, insuficiência cardíaca crônica, vários tipos de câncer) podem levar a desequilíbrios entre as fases de anabolismo e catabolismo, interferindo na função muscular. (1)
O desuso e/ou inatividade física, ingestão dietética abaixo da recomendação podem acelerar a perda de massa e força muscular, predispondo a incapacidade e doenças metabólicas (3)
Algumas situações de patologias, citadas acima, podem levar o paciente a não conseguir realizar atividades físicas ou então ter a sua ingestão alimentar prejudicada.
Como acontece o anabolismo muscular?
O tempo todo nosso corpo está degradando e sintetizando proteínas. O anabolismo acontece quando a síntese é superior à degradação proteica. Isso acontece devido ao estado nutricional do organismo e também por fatores hormonais (insulina, hormônio do crescimento, testosterona e cortisol), que acontece principalmente se associados ao treinamento resistido (8)
Nas células musculares esqueléticas e cardíacas, novas proteínas e organelas se acumulam no citosol aumentando o volume celular, resultando em hipertrofia muscular. O exercício é o principal fator que leva à essa condição, em conjunto com uma ingestão de proteínas adequada (7)
Como acontece o catabolismo muscular?
Uma perda líquida de proteínas, organelas e citoplasma, causam o encolhimento do volume celular, onde acontece a atrofia muscular. Essa situação acontece em condições catabólicas como ingestão dietética insuficiente, câncer, diabetes, infecções inatividade e desuso muscular (7)
O catabolismo muscular acontece devido a um desequilíbrio entre as taxas de síntese e degradação de proteínas musculares, onde a condição de quebra é superior à de síntese (3)
A principal intervenção para atenuar a deterioração muscular é o exercício resistido, porém em algumas condições a inviabilidade desse recurso pode dificultar o progresso, portando a intervenção nutricional torna-se fundamental para evitar o catabolismo muscular (3)
Para promover o anabolismo ou manutenção da massa muscular, as taxas de síntese de proteína muscular devem ser maiores do que as taxas de quebra de proteína muscular (balanço nitrogenado positivo). Uma dieta com quantidade de proteínas adequada pode prevenir o catabolismo, mas além disso devemos lembrar que a insulina também funciona como um poupador da quebra de proteínas (efeito anticatabólico), ativando a mTOR (3) (8)
A ativação proteína intracelular, mTOR (mammalian Target of Rapamycin) regula o equilíbrio entre as taxas de síntese e quebra de proteínas musculares. Os aminoácidos presentes nas proteínas, mais especificamente a leucina, ativam a mTOR (3)
O mecanismo da leucina no metabolismo inclui o aumento da disponibilidade de substrato, aumento da secreção de hormônios anabólicos como a insulina, modulação direta das vias de sinalização anabólica no músculo esquelético e potenciais efeitos secundários de metabólitos como ß-hidroxi-b-metilbutirato (HMB) (4)
A proteína estimula SPM enquanto a insulina, mediada por aminoácidos insulinogênicos e/ou carboidratos, suprime a QPM. Essa resposta anabólica da proteína depende da dose consumida, onde as respostas máximas de SPM são alcançadas com 10g ou mais de aminoácidos essenciais (EAA) (5)
Situações onde ocorrem perda de massa muscular
É importante criar uma situação onde a SPM seja maior ou igual a QPM para que a massa muscular seja preservada. Com a idade pode ocorrer uma desregulação desse balanço, o músculo torna-se resistente aos estímulos anabólicos (atividade física e alimentação), o que pode levar a uma atrofia muscular e sarcopenia.
A sarcopenia pode acontecer em indivíduos com idade avançada, e é caracterizada pela redução na força, na quantidade e qualidade muscular, e no desempenho físico, podendo acarretar em quedas, fraturas, declínio funcional e perda da qualidade de vida (9)
A mudança de composição corporal também acontece no envelhecimento, onde além da redução de massa muscular, há um aumento da gordura corporal, infiltrada no músculo, caracterizando a obesidade sarcopênica (16)
A principal recomendação para melhora da força e massa muscular no envelhecimento é o exercício físico de resistência, associado a uma ingestão adequada de proteínas e energia na dieta (10) (11)
A European Union Geriatric Medicine Society (EUGMS), nomeou um grupo de estudos, PROT-AGE, para avaliar as quantidades necessárias de proteínas no envelhecimento, mantendo a massa magra e função corporal. A recomendação é de 1,0 a 1,2g de proteína/kg de peso corporal por dia (17)
A suplementação de proteína do soro do leite associada ao treinamento físico, mostrou uma melhora significativa na força muscular, função física e saúde metabólica (12)
O ômega-3, composto por ácidos graxos poli-insaturados (PUFA), age como um potente anti-inflamatório, melhorando a condição de inflamação em indivíduos idosos (inflammanging), e também aumentando a ativação da mTOR, sendo um potencial alvo terapêutico em pacientes sarcopênicos (13)
Outra condição preocupante onde ocorre uma depleção da massa muscular é o câncer, o que predispõe a uma menor qualidade de vida, complicações cirúrgicas, progressão da doença e redução da sobrevida. A nutrição nesses casos é fundamental para diminuir as perdas e melhorar a recuperação (6)
Os principais fatores no câncer que levam à perda de massa muscular incluem idade, variações hormonais, alteração do gasto energético, baixa ingestão dietética, inatividade e inflamação. Em contrapartida a nutrição pode atenuar as perdas através de uma adequação da ingestão energética, com adequação proteica de 1.2 a 1.5g/kg de massa corporal por dia, aminoácidos (leucina, glutamina, carnitina e creatina), óleo de peixe, vitaminas e minerais, além de intervenções farmacêuticas, psicossociais e atividade física (6)
Dieta anticatabólica
Como vimos anteriormente, o anabolismo acontece quando há um balanço nitrogenado positivo, ou seja, onde a síntese de proteínas é superior à sua degradação. A hipertrofia muscular pode acontecer mesmo na ausência do treinamento resistido, embora essa sinalização seja fundamental para maximizar o ganho de massa muscular.
Dietas com baixa ingestão de carboidratos podem aumentar o catabolismo muscular, pois o organismo irá utilizar proteínas e gorduras como fonte de energia, portanto o carboidrato funciona como um poupador da quebra de proteínas musculares. Ao limitar o consumo desse nutriente, o glicogênio do fígado se esgota rapidamente, e então o organismo sintetiza a glicose a partir de aminoácidos, glicerol e lactato, e os principais substratos utilizados na gliconeogênese são as proteínas musculares, agravando o quadro de catabolismo muscular.
As proteínas devem ser consumidas a fim de manter um balanço nitrogenado positivo, e em indivíduos idosos o músculo esquelético torna-se menos responsivo ao estímulo anabólico da ingestão proteica, e, portanto, a ingestão deve ser em torno de 1,2-1,6g de proteína/kg por dia, que está acima da RDA (0,8g/kg/dia) (14)
A ingestão de proteínas deve levar em consideração sua qualidade, ou seja, conter todos os aminoácidos essenciais, especialmente a leucina. Deve também estar fracionada em pelo menos três refeições ao longo do dia, para maximizar a síntese proteica muscular (14)
A suplementação de proteínas, especificamente a proteína do soro do leite, irá auxiliar a atingir as quantidades necessárias, tendo em vista que as condições catabólicas aqui mencionadas podem dificultar a ingestão de alimentos sólidos (15)
Os aminoácidos essenciais também podem ser uma alternativa de suplementação para maximizar a SPM (18)
O ômega-3 também parece ser uma terapia adjuvante em dietas anticatabólicas, funcionando como um anti-inflamatório e melhorando a condição do infllamaging (13)
Outros possíveis suplementos benéficos para pacientes em risco de perda de massa muscular é a creatina, glutamina, HMB e vitamina D (6)
Todas essas recomendações serão intensificadas de associadas ao exercício de resistência (musculação), unânimes em todos os estudos aqui avaliados.
Conclusão
Concluímos que para evitar a perda de massa muscular, a dieta deve estar adequada em energia, carboidratos e rica em proteínas. A suplementação pode ser uma alternativa para adequar a ingestão proteica. A prática de exercícios de resistência é fundamental para manter e recuperar a massa muscular.
Referências Bibliográficas
1 – Heydemann, A. Skeletal Muscle Metabolism in Duchenne and Becker Muscular Dystrophy-Implications for Therapies, Nutrients, 2018
2 – Robinson,S., Granic, A., Sayer, A.,Nutrition and Muscle Strength, As the Key Component of Sarcopenia: An Overview of Current Evidence, Nutrients, 2019
3 – Marsha, R. et. Al., Nutritional Strategies to Offset Disuse-Induced Skeletal Muscle Atrophy and Anabolic Resistance in Older Adults: From Whole-Foods to Isolated Ingredients, Nutrients, 2020
4 – Ham, D., et Al., Leucine as a treatment for muscle wating: A critical review, Clinical Nutrition, 2014
5 – Wilkinson, D., Piasecki, M., Atherton, P., The age-related loss of skeletal muscle mass and function: Measurement and physiology of muscle fibre atrophy and muscle fibre loss in humans, Ageing Res Ver, 2018
6- Prado, CM., Purcell SA., Laviano, A., Nutrition interventions to treat low muscle mass in câncer, J Cachexia Sacopenia Muscle.,, 2020
7- Sartori, R., Romanello, V., Sandri, M., Mechanisms of muscle atrophy and hypertrophy: implications in health and disease, Nat Commun, 2021
8 – Haluch,D., Nutrição no fisiculturismo – dita, metabolismo e fisiologia, p.211, Letras comtemporâneas, Florianópolis, 2018
9 – Cruz – Jentoft AJ. Et Al., Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis, Age Ageing, 2019
10- Talar K., Benefits of Resistance Training in Early and Late Stages of Frailty and Sarcopenia: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Studie, J Clin Mediciene, 2021
11 – Symons TB., Aging does not impair the anabolic response to a protein-rich meal, Am J Clin Nutr., 2007
12- Bell, KE., A whey protein-based multi-ingredient nutritional supplement stimulates gains in lean body mass and strength in healthy older men: A randomized controlled trial, Plos one, 2017
13 – Dupont, J., The role of omega-3 in the prevention and treatment of sarcopenia, Aing Clin Exp Res, 2019
14- Herbert A, Jr L., et Al., Dietary protein supplementation in the elderly for limiting muscle mass loss, Amino Acids, 2017
15- Zanini , B., The Effects of Cow-Milk Protein Supplementation in Elderly Population: Systematic Review and Narrative Synthesis, Nutrients, 2020
16 – Choi, Km., Sarcopenia and sarcopenic obesity, Korean J Intern Med, 2016
17 – Bauer, J., Evidence-based recommendations for optimal dietary protein intake in older people: a position paper from the PROT-AGE Study Group, J Am Med Dir Assoc., 2013
18 – Church, DD., Essential Amino Acids and Protein Synthesis: Insights into Maximizing the Muscle and Whole-Body Response to Feeding, Nutrients, 2020
Patrícia Kraus Lourenço
@paatykraus
