Apesar da creatina ser um suplemento muito utilizado por esportistas com o intuito de aumentar o desempenho atlético através da melhora do fornecimento de energia aos tecidos musculares, ela também vem ganhando espaço quando o assunto é cognição e até mesmo neuroproteção.
Embora os efeitos da suplementação de creatina no metabolismo e na função do músculo esquelético tenham sido bem descritos, muito menos se conhece sobre os efeitos da creatina e o mecanismo de ação no cérebro. Sabendo-se que o cérebro é muito exigente metabolicamente e a creatina é um composto cerebral essencial para essa bioenergética ocorrer de forma adequada, recentemente os estudos têm buscado a relação desse suplemento com a performance mental.
Creatina x Performance mental
A creatina é um composto natural que é sintetizado a partir dos aminoácidos arginina, glicina e metionina por meio de uma reação em duas etapas, sendo sua principal função o fornecimento de energia imediata aos tecidos com demandas energéticas aumentadas, como no caso do músculo e cérebro. E ao contrário do músculo que depende exclusivamente da ingestão dietética e síntese endógena do fígado, rins e pâncreas, o cérebro pode sintetizar creatina e ainda possui transportadores em sua barreira hematoencefálica.
Já é entendido que o conteúdo de creatina cerebral seja afetado por fatores como o envelhecimento, depressão, esquizofrenia, transtorno do pânico, entre outros. Dessa forma, os efeitos da suplementação de creatina na função cognitiva vêm sendo alvo de muitos estudos há um tempo. Os trabalhos realizados demonstram efeitos mais pronunciados quando o indivíduo está exposto a condições estressantes, como a hipóxia e a privação de sono combinada com exercício, além de processos cognitivos mais complexos, já que estes exigem mais energia para ocorrer.
Sabendo-se do impacto dessas condições no desempenho cognitivo e psicomotor e estado de humor, McMorris (2006) investigou a efeito da suplementação de creatina em indivíduos submetidos à privação de sono. O grupo suplementado com 5 g de creatina por 7 dias demonstrou significativamente menor alteração no desempenho em testes de geração de movimento aleatório, tempo de reação de escolha, equilíbrio e estado de humor.
Além disso, quando o assunto é aprendizado e memória é importante salientar que há alta expressão de isoenzimas CK, as quais foram detectadas em células piramidais do hipocampo. Dessa forma, há sugestão da ideia de que o sistema CK/PCr desempenha um papel essencial para essas células e que a suplementação de creatina pode levar a melhora das funções.
Sendo assim, os pesquisadores descobriram que 5 g de creatina quatro vezes ao dia durante uma semana antecedendo a privação de sono por 12-36 horas, foi capaz de preservar a cognição durante tarefas complexas de função executiva em apenas 36 horas.
Considerações finais
A suplementação de creatina para melhorar o processamento cognitivo vem sendo cada vez mais estudada, dessa forma, é visto que em algumas condições induzidas por estressores agudos ou patologias crônicas caracterizam-se por déficits de creatina cerebral.
Parece que benefícios semelhantes para a função cerebral e processamento cognitivo também podem ser alcançados com a suplementação de creatina, no entanto, a pesquisa nesta área é mais limitada e permanecem importantes lacunas importantes de conhecimento nessa área.
Referências bibliográficas
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- McMorris T, Harris RC, Swain J, et al. Effect of creatine supplementation and sleep deprivation, with mild exercise, on cognitive and psychomotor performance, mood state, and plasma concentrations of catecholamines and cortisol. Psychopharmacology (Berl). 2006;185(1):93-103.
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Gabriela Motta
@nutrigabrielamotta
