Dentre os principais desafios existentes da saúde pública no Brasil e no mundo, estão as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as quais se encaixam: doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, obesidade, entre outras. As DCNT são responsáveis por cerca de 72% da mortalidade no Brasil, visto que os indivíduos de baixa renda são os principais afetados pelos fatores de risco, os quais estão relacionados com aspectos genéticos, ambientais, fisiológicos e até mesmo comportamentais1.
O colesterol, por sua vez, é uma substância complexa que desempenha inúmeras funções importantes no organismo, sendo exigido por todos os tecidos e células vivas do corpo. Dessa forma, suas principais funções são: componente da célula que desempenha uma importante função estrutural e funcional na membrana plasmática, assim como nas membranas das organelas internas da célula; síntese de ácidos biliares que participam da emulsificação, digestão e absorção de lipídios e vitaminas lipossolúveis, no intestino delgado; síntese de hormônios esteróides; síntese da vitamina E e componente da pele que, junto a outros materiais gordurosos, torna-a altamente resistente à absorção de água e outras substâncias hidrossolúveis, que, se absorvidas, podem causar danos ao organismo. Além disso, o colesterol e outros componentes da pele têm função de prevenir contra perdas excessivas de água por evaporação, o que acarretaria problemas de desidratação e morte2.
Problemas no metabolismo do colesterol podem acarretar no aumento da sua concentração sanguínea e, consequentemente, contribuir para o aparecimento de doenças coronarianas como arterosclerose, além de causar hipertensão arterial, problemas de diabete mellitus e até mesmo formação de cálculos biliares2. Sendo assim, o aumento de pesquisas científicas relacionadas à formas e compostos que contribuem para o controle do colesterol aumentou cada vez mais.
Ômega 3
Chamamos óleo de peixe dois tipos de ácidos graxos ômega-3, sendo eles: ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Essas gorduras ômega-3 são geralmente encontradas em peixes, produtos animais, e fitoplâncton. O ômega-3 é um ácido graxo poli-insaturado e por não ser sintetizado por mamíferos, também é denominado um ácido graxo essencial5.
Os ácidos graxos EPA e DHA participam da regulação de vários processos biológicos, na resposta inflamatória, nas vias de sinalização metabólica e na função cerebral e cognitiva, sendo também uma excelente opção anti-inflamatória e antioxidante e, consequentemente, exerce um potente efeito de redução sobre os níveis de triglicerídeos.
A utilização de ômega 3 é indicada quando os níveis de triglicerídeos se mantiverem persistentemente aumentados entre 200 e 499 mg/dL, na dose de 2 a 4 g ao dia6. Além disso, observou-se que quantidades desbalanceadas da razão Ômega-6 / Ômega-3 (acima de 7:1) podem exercer grandes danos à saúde, como o agravamento de processos inflamatórios7. Como a formação de placa de ateroma nas paredes dos vasos sanguíneos, dislipidemia (aumento do colesterol total, LDL e triglicérides e diminuição do HDL) e inflamação, são fatores intimamente ligados à obesidade, uma dieta balanceada com ingestão adequada de ômega-3 é muito importante e traz diversos benefícios8.
Fibras alimentares
A fibra dietética ou alimentar são substâncias vegetais presentes principalmente em cereais integrais, frutas, hortaliças e leguminosas, e correspondem à fração resistente à digestão pelas enzimas do trato digestório humano9.
São divididas em fibras solúveis e insolúveis, sendo as fibras solúveis: pectinas, gomas, mucilagens, beta-glucanas, psillium e algumas hemiceluloses, as quais formam géis na presença de água; e, também, as fibras insolúveis: celulose, algumas hemiceluloses e lignina, responsáveis por formar misturas de baixa viscosidade.
Segundo o FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador e fiscalizador americano, o consumo ideal de fibras deve ser superior a 25 g por dia, dessa forma, é possível extrair seus diversos efeitos na saúde humana, sendo um deles seu poder hipocolesterolêmico.
Este efeito deve-se à utilização de fibras solúveis como aveia, psyllium, pectina, goma-guar, ocasionando na redução dos níveis séricos de colesterol total e LDL colesterol. Uma metanálise mostrou que a ingestão de 2-10 g/dia de fibra solúvel foi associada a uma redução no colesterol total e LDL-colesterol, -0,045 mmol.L-¹ (-1,73 mg/dL) e -0,057 mmol.L-¹ (-2,21 mg/dL), por cada grama de fibra/dia ingerida, respectivamente10.
Ensaios clínicos de maior duração com fibras solúveis utilizando psyllium por seis meses e goma-guar por 12-24 meses mostraram que o uso de psyllium por seis meses manteve uma redução nos níveis de LDL-colesterol ao redor de 6,7% (52), enquanto o uso da goma-guar por 12 meses sustentou uma redução ao redor de 16,1% nos valores de LDL-colesterol e de 25% ao longo de 24 meses11,12.
Curcumina
A cúrcuma é uma planta herbácea da família do gengibre: perene rizomatosa (Curcuma longa), a qual vem ganhando força nos últimos tempos, tanto no mundo médico/científico quanto na culinária13. No ano de 17483 já havia sido registrado o uso terapêutico da cúrcuma, porém, em 193714, foi publicado o artigo referente ao uso da mesma em doenças humanas. Na medicina tradicional indiana (Ayurveda), esse composto tem sido utilizado devido às suas propriedades medicinais para diversos quadros de saúde e por diferentes vias de administração, incluindo tópica, oral e por inalação15.
Além da curcumina ser um composto lipofílico relacionada com seu papel parecido ao da vitamina E, ou seja, realizando a quebra da cadeia pela eficiencia em sequestrar radicais peroxil, foi observado que esta é capaz de reduzir os níveis de colesterol total13. A suplementação de 500 mg de curcumina diariamente por 7 dias demonstrou reduzir os níveis de colesterol total em 17%, enquanto uma dose mais alta de 6.000mg reduz o colesterol total em 5% em indivíduos saudáveis16.
Alho
O alho (Allium sativum) é um vegetal muito popular em todo o mundo com uma variedade de propriedades e benefícios à saúde. O principal mecanismo do alho envolve uma molécula chamada aliina, que ao ser mastigado, libera seu metabólito denominado alicina. A alicina se transforma em uma variedade de compostos contendo enxofre solúveis em gordura e água. Ao tocar no sistema de sinalização de sulfeto de hidrogênio, o alho relaxa os vasos sanguíneos e oferece uma variedade de benefícios à saúde20.
Os componentes do alho parecem ser inibidores de HMG-CoA (alvo molecular das drogas estatinas) e juntamente a isso podem inibir a síntese de colesterol. Este mecanismo parece ocorrer com potência suficiente e em uma concentração suficientemente baixa com alguns dos produtos estáveis de alho, fator que explica os efeitos humanos observados. Doses de cerca de 600mg de alho em pó, demonstroua capacidade de redução da oxidação do colesterol LDL, enquanto essa mesma quantidade provocou aumentos no HDL-C ao longo de 12 semanas (11,5%)17.
Dessa forma, tendo o olhar direcionado ao colesterol total, foi observado uma redução no colesterol circulante associado à suplementação de alho e essa redução parece ser de magnitude semelhante em todas as análises em torno de 10% para pessoas com colesterol alto (acima de 200mg/dL)18,19.
Coenzima Q10
Ao contrário dos compostos acima, a coenzima Q10 auxilia no momento em que a dislipidemia já está instalada e o uso de estatinas torna-se necessário.
As estatinas são medicamentos utilizados no tratamento de dislipidemias, visto que são capazes de inibir a enzima 3-hidroxi-3-metil-glutaril-CoA redutase (HMG-CoA redutase), a qual é responsável na produção do colesterol. Esta mesma enzima, também é responsável pela síntese da CoQ10, sendo assim, supõe-se que a biossíntese tanto do colesterol quanto da CoQ10, seja afetada com esse tratamento medicamentoso3.
Grande parte dos usuários de estatinas e/ou deficientes em CoQ10 apresentam efeitos colaterais, como: fadiga, dispneia, perda de memória, neuropatia periférica; disfunções ventricular, endotelial e mitocondrial; performance física, hepatotoxicidade, atividade de enzimas antioxidantes e níveis de marcadores inflamatórios. Devido a esse cenário, a suplementação torna-se de grande valia, tendo seus benefícios evidenciados a partir de 30 dias de suplementação.
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- https://examine.com/supplements/garlic
Gabriela Motta
@nutrigabrielamotta