A fibra dietética ou alimentar são substâncias vegetais presentes principalmente em cereais integrais, frutas, hortaliças e leguminosas, e correspondem à fração resistente à digestão pelas enzimas do trato digestório humano1. São divididas em fibras solúveis e insolúveis, sendo as fibras solúveis: pectinas, gomas, mucilagens, beta-glucanas, psyllium e algumas hemiceluloses, as quais formam géis na presença de água, como no caso da aveia, chia, linhaça, entre outros; e, também, as fibras insolúveis: celulose, algumas hemiceluloses e lignina, responsáveis por formar misturas de baixa viscosidade, encontradas em alimentos como farelo de trigo, frutas com casca, etc1.
As características físico-químicas correspondentes à retenção de água, viscosidade, fermentação, adsorção, entre outras, são responsáveis por implicações metabólicas, bem como no trato gastrointestinal, com efeitos sistêmicos e locais, respectivamente. Dessa forma, o consumo adequado de fibra deve receber atenção.
Segundo a American Dietetic Association (ADA), o consumo ideal de fibras deve ser entre 20 e 35g por dia, sendo assim, é possível extrair seus diversos efeitos na saúde humana, como por exemplo: obesidade, doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, entre outros2.
Fibras e seu efeito hipocolesterolêmico
Para se beneficiar do efeito hipocolesterolêmico das fibras, deve-se utilizar fibras solúveis como aveia, psyllium, pectina, goma-guar, as quais proporcionarão a redução dos níveis séricos de colesterol total e LDL colesterol. Uma metanálise mostrou que a ingestão de 2-10 g/dia de fibra solúvel foi associada a uma redução no colesterol total e LDL-colesterol, -0,045 mmol.L-¹ (-1,73 mg/dL) e -0,057 mmol.L-¹ (-2,21 mg/dL), por cada grama de fibra/dia ingerida, respectivamente10.
Ensaios clínicos de maior duração com fibras solúveis utilizando psyllium por seis meses e goma-guar por 12-24 meses mostraram que o uso de psyllium por seis meses manteve uma redução nos níveis de LDL-colesterol ao redor de 6,7%, enquanto o uso da goma-guar por 12 meses sustentou uma redução ao redor de 16,1% nos valores de LDL-colesterol e de 25% ao longo de 24 meses11,12.
Fibras no tratamento da diabetes
Estudos experimentais têm demonstrado que a ingestão de fibras solúveis, como a beta glucana por exemplo, promove o retardo do esvaziamento gástrico e da digestão, reduzindo a absorção de glicose e, consequentemente, beneficiando diretamente a glicemia pós prandial de portadores de diabetes3.
No ano de 2000, Giacco et al.4 publicaram um estudo onde avaliaram em 63 indivíduos o efeito de uma dieta rica em fibras, atricemia e eventos de hipoglicemia em portadores de diabetes tipo 1. Os resultados de LDL colesterol, HDL, hemoglobina glicosilada e glicemia pós prandial avaliados, mostraram que, comparada com a dieta pobre em fibras, a dieta rica em fibras reduziu significativamente a glicemia pós prandial, a hemoglobina glicosilada e o número de episódios de hipoglicemia.
Fibras na pressão arterial
A Dietary Approaches to Stop Hypertension, muito conhecida como dieta DASH, caracteriza-se como um padrão alimentar saudável com base de verduras e legumes (fontes importantes de fibras) e elevado consumo de cálcio (leite e derivados), além de um consumo reduzido de gordura saturada criado por cientistas norte-americanos na década de 90 para indivíduos diagnosticados com hipertensão5.
Nas análises de grupos de alimentos, a ingestão de frutas e hortaliças foi inversamente associada à redução das pressões sistólica e diastólica dos indivíduos. Uma metanálise avaliou 25 ensaios clínicos randomizados11 observou uma variação na ingestão de fibras entre os grupos intervenção e controle entre 3,8 g e 125 g/dia. A ingestão de fibras na dieta foi associada a uma redução nos níveis da pressão arterial diastólica (média de quase 2 mmHg) e uma redução média em ambas, pressão arterial sistólica (quase 6 mmHg) e diastólica (quase 5 mmHg) em um subgrupo de estudos que avaliaram pacientes hipertensos e com pelo menos oito semanas de intervenção.
Fibras na prevenção de câncer de cólon e reto
O câncer colorretal (CCR) é o terceiro tipo de câncer mais diagnosticado em todo o mundo e a quarta causa de mortalidade entre os cânceres e, apesar de sua causa ser multifatorial, aspectos relacionados a alimentação são fatores de risco em potencial6,8.
A ingestão de fibras alimentares, presentes sobretudo nas frutas, verduras, grãos, tubérculos e raízes, exercem diversas funções no trato gastrintestinal que podem ter relação com a proteção contra o câncer colorretal, sendo as principais delas: aceleração do trânsito intestinal — reduzindo o contato direto entre eventuais agentes carcinogênicos fecais e a mucosa intestinal; e a absorção dos sais biliares, considerados agentes de surgimento e desenvolvimento da doença7,9.
A fermentação das fibras alimentares pelas bactérias da flora intestinal é um processo que produz ácidos graxos que reduzem o pH intestinal, dessa forma, o ambiente torna-se menos propício para o desenvolvimento do câncer 6,9,10.
Considerações finais
Dessa forma, conclui-se que a ingestão adequada de fibras é de extrema importância e necessidade para evitar diversas patologias que possui como fator de risco a inadequação desse nutriente na alimentação.
Referências bibliográficas
- Eufrásio, M. R. et al. Effect of different types of fibers on the lipid portions of wistar rat blood and liver. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 33, n. 6, p. 1608-1614, nov./dez., 2009.
- AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Position of the American Dietetic Association : health implications of dietary fiber. J. Am. Diet. Assoc., v.102, p.993-1000, 2002.
- CHANDALIA, M. Dietary treatment of Diabetes Mellitus. New Engl. J. Med., v.342, p.1392-1398, 2000.
- GIACCO, R.; PARILLO, M.; RIVELLESE, A.A.; LASORELLA, G.; GIACCO, A.; DEPISCOPO, L.; RICCARDI, G. Long term dietary treatment with increased amounts of fiber rich low glicemic index natural foods improves blood glucose control and reduces the number of hypoglycemic events in type 1 diabetic patients. Diabetes Care, v.23, p.1461-1466, 2000.
- Sociedade Brasileira de Hipertensão. Dieta DASH.
- Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica – SBCO. A influência da alimentação no câncer colorretal, 2021.
- Ascherio A, Hennekens C, Willett WC, et al. Prospective study of nutritional factors, blood pressure, and hypertension among US women. Hypertension. 1996;27(5):1065-1072.
- World Health Organization/Food and Agriculture Organization (WHO/FAO). Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases. WHO Technical Report Series, 916, Geneve; 2003.
- Hidaka A, Harrison TA, Cao Y, Sakoda LC, Barfield R, Giannakis M. et.al. Intake of Dietary Fruit, Vegetables, and Fiber and Risk of Colorectal Cancer According to Molecular Subtypes: A Pooled Analysis of 9 Studies. Cancer Res. 2020; 80(20):4578-590.
- He X, Wu K, Zhang X, Nishihara R, Cao Y, Fuchs CS et.al. Dietary intake of fiber, whole grains and risk of colorectal cancer: An updated analysis according to food sources, tumor location and molecular subtypes in two large US cohorts. Int J Cancer. 2019. 145(11):3040-3051.
- Whelton SP, Hyre AD, Pedersen B, Yi Y, Whelton PK, He J. Effect of dietary fiber intake on blood pressure: a meta-analysis of randomized, controlled clinical trials. J Hypertens. 2005;23(3):475-81.
Gabriela Motta
@nutrigabrielamotta