Estresse oxidativo é definido pelo desequilíbrio entre agentes oxidantes e antioxidantes, com preponderância do primeiro, e consequente acréscimo na formação de radicais livres e na capacidade de gerar danos ao DNA (ácido desoxirribonucleico), às membranas lipídicas e às proteínas1. Contribui para diversas patologias e doenças, como câncer, distúrbios neurológicos, aterosclerose, hipertensão, isquemia, diabetes, fibrose pulmonar idiopática, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma2, além de ser considerado como principal fator na disfunção endotelial e da ruptura de placa aterosclerótica3.
Os mecanismos antioxidantes podem ser enzimáticos ou não enzimáticos. O sistema enzimático abrange as enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa redutase (GR) e glutationa peroxidase (GPX). Por outro lado, o sistema não enzimático possui as moléculas: glutationa reduzida (GSH), FRAP (Ferric Reducing Antioxidant), ácido úrico, vitamina C (ácido ascórbico), vitamina E (alfa tocoferol), vitamina A (retinol), carotenóides, zinco, selênio e flavonóides4.
Devido ao teor de seus flavonoides, o cacau foi considerado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como alimento funcional5. De acordo com a portaria nº 398 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde brasileiro, de 1999, é definido como alimento funcional todos os alimentos ou ingredientes que geram efeitos positivos para a saúde, com segurança, mesmo sem prescrição médica6.
Os polifenóis também são conhecidos como compostos fenólicos, e constituem um grupo de compostos encontrados em frutas, vegetais, flores e sementes. Estudos recentes mostram que os polifenóis encontrados nas sementes de cacau, assim como no chocolate, trazem efeitos benéficos à saúde7.
Os flavonóides fazem parte do grupo dos polifenóis. Existem 14 classes diferenciadas de flavonoides, mas a maior parte se limita a somente seis classes: flavonas, flavanonas, flavonóis, flavanol (ou flavan-3-óis), isoflavonas e as antocianinas. Entre estas classes, os flavonóis são as mais numerosas, sendo a (+)catequina e a (–)-epicatequina os principais8.
Os compostos bioativos dos flavonóides presentes no cacau são: proantocianidinas, catequina, epicatequina, galocatequina, epigalocatequina, epicatequina-3-galato, epigalocatequina-3-galato 9.
O que a ciência mostra?
Diversos estudos mostram a relação entre o consumo de polifenóis presentes no cacau e a redução do risco de doença cardiovascular, por atuarem na diminuição da geração de radicais livres, consequentemente do estresse oxidativo, na diminuição da inflamação e com melhora da saúde vascular pela promoção no aumento da biodisponibilidade do ON10.
Em um estudo avaliando o consumo de cacau, a ingestão aguda, subcrônica (duas semanas) e crônica (três meses) de cacau reduziu o estresse oxidativo induzido pelo exercício, reduziu o aumento da pressão arterial induzido pelo exercício em pacientes obesos, alterou o metabolismo da gordura e do carboidrato durante o exercício e melhorou a eficiência mitocondrial em indivíduos não treinados11.
Em outro estudo com o objetivo de analisar o efeito dos polifenóis do cacau na ativação da isoforma 2 da NADPH (Fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina) oxidase, no estresse oxidativo e na apoptose de hepatócitos, em uma população afetada pela esteatose hepática não alcoólica, mostrou que, em comparação com o grupo controle, os pacientes com esteatose apresentaram maiores níveis de SNO2-dp (Soluble NOX2-derived peptide), isoprostanos séricos e CK-18 (Cytokeratin-18). Uma diferença significativa para os tratamentos foi encontrada em indivíduos com relação a SNOX 2-dp, isoprostanos séricos de CK-18 sérica. As comparações mostraram que, comparados ao valor basal, após 14 dias de ingestão de chocolate amargo, foi encontrada uma redução significativa no sRO X2-dp (Soluble NOX2-derived peptide) soro isoprostanos e CK-18 M3012.
Em um estudo foi realizada uma intervenção em indivíduos saudáveis com ChA, utilizando 45 g por dia, durante um período de duas semanas, e os pesquisadores constataram uma melhora na circulação coronariana, dos lipídios séricos e do estresse oxidativo13.
Um estudo realizado in vitro, com extrato de cacau com elevado conteúdo de flavonóides (obtido do licor do cacau) evidenciou que as catequinas, epicatequinas, quercetina, quercetina-3-glicosídeo, quercetina 3-arabinosídeo e dideoxiclovamida apresentaram efeitos antioxidantes14.
Outro estudo in vitro demonstrou uma alta atividade antioxidante das procianidinas presentes no cacau, atuando na fase de prevenção (indução) e na fase de propagação da peroxidação de lipídios15.
Alguns estudos feitos em humanos mostraram que as catequinas presentes no cacau, foram capazes de aumentar a atividade antioxidante, diminuir o malonaldeído e peróxido lipídico plasmático, aumentar os níveis séricos de ascorbato, aumentar a absorção de ferro não-heme e aumentar a resistência do LDL-c à oxidação16.
Em um estudo in vitro, foram analisadas as concentrações de polifenóis e a capacidade antioxidante, através do método de sequestro radical 1,1-difenil-2-picrilhidrazil de chocolate amargo, meio amargo, ao leite e de soja. Os resultados evidenciaram maior quantidade de polifenóis no chocolate amargo e menor no chocolate ao leite. O chocolate à base de soja (rico em isoflavonas) mostrou atividade antioxidante considerável, podendo ser usado como substituto do chocolate amargo17.
Considerações finais
Os dados obtidos neste trabalho mostram que o consumo do cacau, numa quantidade média de 45 g, de duas a três semanas, é extremamente benéfico contra o estresse oxidativo induzido pelo exercício, e também em indivíduos não treinados.
Mostram também a redução do aumento da pressão arterial induzido pelo exercício em pacientes obesos, alteração do metabolismo da gordura e do carboidrato durante o exercício, melhora da eficiência mitocondrial em indivíduos não treinados.
Evidencia uma melhora na circulação coronariana, dos lipídios séricos, aumento dos níveis séricos de ascorbato, absorção de ferro não-heme.
Referências bibliográficas
- BARBOSA, Kiriaque Barra Ferreira et al. Estresse oxidativo conceito, implicações e fatores modulatórios. Oxidative stress; concept, implications andmodulating factors. Revista de nutrição, v. 23, n. 4, p. 629-643, 2010.
- BIRBEN, Esra et al. Oxidative stress and antioxidant defense. World Allergy Organization Journal, v. 5, n. 1, p. 9, 2012.
- STOCKER, Roland; KEANEY JR, John F. Role of oxidative modifications in atherosclerosis. Physiological reviews, v. 84, n. 4, p. 1381-1478, 2004.
- DE VASCONCELOS, Thiago Brasileiro et al. Radicais Livres e Antioxidantes: Proteção ou Perigo? Journal of Health Sciences, v. 16, n. 3, 2015.
- BASHO, Sirley Massako; BIN, Márcia Crestani. Propriedades dos alimentos funcionais e seu papel na prevenção e controle da hipertensão e diabetes. Interbio, v. 4, n. 1, p. 48-58, 2010.
- VIZZOTTO, Márcia; KROLOW, Ana Cristina; TEIXEIRA, Fernanda Cardoso. Alimentos Funcionais: conceitos básicos. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2010.
- GUIMARÃES, Marta Magalhães et al. Utilização de chocolates ricos em polifenóis e com ação antioxidante: busca em bases de patentes. Cadernos de Prospecção, v. 5, n. 3, p. 168, 2014.
[8] EFRAIM, Priscilla; ALVES, Adriana Barreto; JARDIM, Denise Calil Pereira. Polyphenols in cocoa and derivatives: Factors of variation and health effects. Brazilian Journal of Food Technology, v. 14, n. 3, p. 181-201, 2011.
- LOPES, Alessandra Santos; PEZOA GARCÍA, Nelson Horacio; AMAYA-FARFÁN, Jaime. Qualidade nutricional das proteínas de cupuaçu e de cacau. 2008.
- SUDANO, Isabella et al. Cocoa, blood pressure, and vascular function. Current hypertension reports, v. 14, n. 4, p. 279-284, 2012.
- DECROIX, Lieselot et al. Acute cocoa Flavanols intake has minimal effects on exercise-induced oxidative stress and nitric oxide production in healthy cyclists: a randomized controlled trial. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 14, n. 1, p. 28, 2017.
- LOFFREDO, Lorenzo et al. Dark chocolate acutely improves walking autonomy in patients with peripheral artery disease. Journal of the American Heart Association, v. 3, n. 4, p. e001072, 2014.
- SHIINA, Yumi et al. Acute effect of oral flavonoid-rich dark chocolate intake on coronary circulation, as compared with non-flavonoid white chocolate, by transthoracic Doppler echocardiography in healthy adults. International journal of cardiology, v. 131, n. 3, p. 424-429, 2009.
- SANBONGI, Chiaki et al. Antioxidative polyphenols isolated from Theobroma cacao. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 46, n. 2, p. 454-457, 1998.
- MAO, Tin K. et al. The effect of cocoa procyanidins on the transcription and secretion of interleukin 1β in peripheral blood mononuclear cells. Life Sciences, v. 66, n. 15, p. 1377-1386, 2000.
- WILLIAMSON, Gary; MANACH, Claudine. Bioavailability and bio efficacy of polyphenols in humans. II. Review of 93 intervention studies–. The American journal of clinical nutrition, v. 81, n. 1, p. 243S-255S, 2005.
- TITTON, Natacha Fleck; SCHUMACHER, Andrea Bordin; DANI, Caroline. Estudo Comparativo da Quantidade de Polifenóis Totais e da Atividade Antioxidante em diferentes chocolates: ao leite, meio amargo, amargo e de soja. Ciência em movimento, v. 16, n. 33, p. 77-84, 2014.