Considerada o segundo maior componente lipídico do organismo, a fosfatidilcolina é um fosfolipídio de membrana cuja principal ação é seu papel emulsificante 2. Sua composição consiste em fosfato, colina e um grupamento de ácido graxo. Por ser um constituinte de membrana, é amplamente encontrada em todos os tecidos, e também no plasma como constituinte de lipoproteínas.
Seu papel emulsificante é fundamental na solubilização da bile, onde o colesterol biliar não é solubilizado de maneira eficiente na sua ausência7.
O papel medicinal da fosfatidilcolina é amplo, podendo beneficiar no manejo das doenças coronárias, pulmonares e também no tecido cerebral e hepático3.
Suas fontes alimentares são: fígado, gema de ovo, soja, trigo, espinafre, amendoim6. Não é considerada um nutriente essencial, ou seja, o organismo é capaz de produzir satisfatoriamente6,no entanto a suplementação pode ser benéfica em casos específicos como veremos adiante.
A absorção da fosfatidilcolina acontece na mucosa intestinal, e indivíduos sensíveis podem apresentar diarreia quando utilizada a suplementação, no entanto a ocorrência não é comum. Ainda não existem evidências quanto à contraindicações, nem demais efeitos colaterais 4.
Os estudos ainda são pouco robustos, mas trazem direcionamentos importantes quanto ao uso, sendo relevante na intoxicação por álcool, no manejo das hepatites, e também há relação com a produção de neurotransmissores relacionados à memória.
Fígado, metabolismo lipídico e papel cardiovascular
A fosfatidilcolina atua amplamente no tecido hepático, podendo exercer efeito hepatoprotetor e regulador no transporte e utilização dos lipídios9.
Alguns autores demonstram a relevância do uso em casos de intoxicação por ingestão excessiva de álcool 3. Um exemplo clássico é o estudo realizado pelo grupo de Zeisel em 1994, no qual durante 8 anos os animais foram alimentados com álcool, onde o grupo intervenção recebeu fosfatidilcolina e o controle não12.O grupo controle evolui para fibrose avançada (lesão que precede a cirrose), já o grupo intervenção apresentou apenas lesões leves e reversíveis12.
Há também demonstrativos de recuperação da lesão hepática causada pelo vírus da hepatite. Um ensaio clínico randomizado duplo cego, realizado em 1985 pelo grupo de Visco10, recrutou 60 participantes portadores do vírus, metade do grupo foi suplementada com 1350mg de fosfatidilcolina, e a outra metade com placebo. O grupo suplementado apresentou melhoras significativas em relação ao placebo, e deste 15 participantes se livraram do vírus.10
Em relação ao colesterol, um estudo realizado em 2001 por Jiang e seu grupo, demonstrou que a presença da fosfatidilcolina na gema do ovo foi capaz de reduzir a absorção intestinal do colesterol 5. Salienta-se também sua atuação no transporte de triacilgliceróis no fígado, uma vez que possui um papel sumário na secreção da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL)7. À nível intestinal aumenta a solubilidade das micelas, formando os quilomícrons 7. Deste modo é coerente considerar que a fosfatidilcolina exerce importante papel no transporte e utilização das moléculas de gordura, impactando diretamente no metabolismo lipídico pois atua em diferentes etapas. É considerada também um agente cardioprotetor, uma vez que o manejo dos níveis séricos de lipídeos é uma das ações realizadas visando a prevenção de eventos cardiovasculares.
Sabe-se também que em casos de hiperhomocisteinemia, ocorre a diminuição da síntese de fosfatidilcolina, resultando em dificuldade de incorporação de lipídios ao VLDL, e também reduz a secreção hepática dos mesmos, relacionando assim os quadros de hiperhomocisteinemia com dislipidemias1;8
Ainda em relação ao metabolismo de gordura, também tem sido discutido um possível efeito da fosfatidilcolina no acúmulo tecidual de gordura. Um estudo em animais realizado por Botezelli simulou a deficiência de fosfatidilcolina em ratos durante duas semanas, após a deficiência instalada se pôde constatar um distúrbio na liberação de gordura intracelular das células intestinais, para o sistema linfático e em seguida quando corrigida a deficiência através da suplementação, o mecanismo se tornava novamente funcional, o que possibilitou a conclusão de que a fosfatidilcolina pode ser um fator limitante na absorção intramembranosa de gorduras.
Cérebro
No tecido cerebral, parece ter um interessante papel nootrópico justificado por ser um fornecedor de colina e esta ser precursora da acetilcolina (um importante neurotransmissor relacionado à memória)3
Existem hipóteses que correlacionam os níveis de fosfatidilcolina com o curso da doença de Alzheimer, isso se deve ao fato que uma das características da doença de Alzheimer, é a perda potencial dos neurônios colinérgicos tal como de seus marcadores. Há também significativa redução da atividade da fosfolipase 2 nos portadores, a fosfatidilcolina é um dos substratos desta enzima, que apresentando sua atividade reduzida, consequentemente reduzindo o catabolismo da fosfatidilcolina, deixando menos colina disponível para a síntese de acetilcolina, contribuindo assim na deficiência colinérgica presente na doença de Alzheimer. O que está correlacionado à severidade do declínio cognitivo e da demência 11.
Considerações finais
Por ser um componente lipídico de membrana, a fosfatidilcolina está amplamente presente nos tecidos humanos, tal qual seu papel também é vasto. É relevante sua atuação no metabolismo lipídico uma vez que participa de diversas etapas de síntese, transporte e utilização. Por tal razão pode ser considerado um agente hepatoprotetor e também cardioprotetor. No cérebro, pode ser um potencial agente na memória, uma vez que fornece colina para a síntese de acetilcolina. Quanto à dosagem a ser utilizada na suplementação, ainda não há um consenso e mais estudos são necessários.
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