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Curcumina: composição, efeitos na saúde e suplementação

Entre os principais desafios existentes na saúde pública, no Brasil e no mundo, estão as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), entre elas, as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e a obesidade. As DCNT são responsáveis por cerca de 72% da mortalidade no Brasil, e os indivíduos de baixa são os principais afetados pelos fatores de risco, relacionados com aspectos genéticos, ambientais, fisiológicos e até mesmo comportamentais5.

Diante desse cenário, compostos bioativos presentes nos alimentos com propriedades importantes para a saúde dos indivíduos vêm sendo cada vez mais estudados e, entre eles, a curcumina.

A curcumina é o polifenol encontrado na cúrcuma, que está relacionada a seu potencial antioxidante, antimutagênico, antimicrobiano, anticancerígeno e anti-inflamatório, sendo responsável pela redução de marcadores inflamatórios e aumento de níveis de antioxidantes endógenos no corpo humano2.

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A cúrcuma é uma planta herbácea da família do gengibre: perene rizomatosa (Curcuma longa), que vem ganhando força nos últimos tempos, tanto no mundo médico/científico, quanto na culinária1.

No ano de 17483 já havia sido registrado o uso terapêutico da cúrcuma, porém, em 19374, foi publicado o artigo referente ao seu uso em doenças humanas. Na medicina tradicional indiana (Ayurveda), esse composto tem sido utilizado pelas suas propriedades medicinais para diversos quadros de saúde e por diferentes vias de administração, incluindo tópica, oral e por inalação8.

A curcumina pode ser extraída para produzir suplementos, os quais possuem uma potência muito maior do que a cúrcuma. No entanto, o principal obstáculo para usufruir dos benefícios deste polifenol, é sua baixa biodisponibilidade, sendo assim, uma infinidade de formulações diferentes foram criadas para melhorar sua absorção2.

Composição, biodisponibilidade e suplementação da curcumina

A cúrcuma, em 100 g, é composta por 10g de gordura total, 65 g de carboidratos e 8 g de proteína, resultando em cerca de 354 calorias1. Devido ao seu teor de 9% ou mais de umidade, o uso desse tempero requer cuidado pela facilidade do ataque de fungos produtores de aflatoxina, causando toxicidade renal, pulmonar ou hepática. Nos países onde a produção da cúrcuma é maior e onde o clima é quente e úmido, a possibilidade de contaminação por fungos é ainda mais alta1.

Como citado anteriormente, a curcumina possui baixa biodisponibilidade e, assim como qualquer agente, esse fato pode estar relacionado à baixa atividade intrínseca, má absorção, taxa elevada de metabolismo, inatividade dos produtos metabólicos e/ou a uma rápida eliminação e depuração do organismo. No caso da curcumina, ela apresenta instabilidade ao pH intestinal, rápido metabolismo, é conjugada no fígado e excretada nas fezes. Sendo assim, possui limitada biodisponibilidade sistêmica6,7.

Em 1978, Wahlstrom e Blennow realizaram o primeiro estudo que determinou a biodisponibilidade da cúrcuma, que foi administrada para ratos na dose de 1 g/kg, observando baixo nível sérico de curcumina. Para obter quaisquer efeitos benéficos, são necessárias doses muito altas de curcumina, entre 3600 e 12.000 miligramas9.

Sabendo dessa dificuldade em sua absorção, avanços em pesquisas recentes mostraram vários compostos e técnicas para aumentar a biodisponibilidade da curcumina. Os mais comuns e mais frequentemente testados, são a combinação da curcumina com piperina (extrato de pimenta-preta) e a sua associação com lipídios.

A piperina (1-piperonil-piperidina) é um alcalóide, o principal ativo da pimenta-do-reino ou pimenta-preta (Piper nigrum Linn.), e seu uso é comum como condimento e em vários preparos tradicionais da medicina popular. Assim como a cúrcuma, também está presente na medicina indiana há cerca de 7  mil anos. A piperina apresenta atividades biológicas importantes na ação antimicrobiana, anti-inflamatória, anti parasitária, propriedades antioxidantes, entre outras17,18,19.

A piperina em administração concomitante à curcumina produziu concentrações muito mais altas que o composto utilizado individualmente, e o aumento na biodisponibilidade foi de 2.000%10. Esses estudos mostram que, nas dosagens utilizadas de 20mg, a piperina aumenta a concentração sérica, a extensão da absorção e a biodisponibilidade da curcumina, sem efeitos adversos11.

Para complementar a curcumina com piperina , tome 500 mg da curcumina com 5-6,7 mg de piperina, três vezes ao dia (ou seja, 1.500 mg de curcumina e 15-20 mg de piperina por dia)1. Outra forma importante de potencializar sua biodisponibilidade, é administrar a cúrcuma juntamente com alimentos.

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Efeitos na saúde

Os principais mecanismos que justificam os benefícios da cúrcuma estão relacionados às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, sendo assim, é necessário entender a forma de atuação desse composto nesses procedimentos.

A inflamação, por sua vez, está intimamente ligada às principais doenças e condições crônicas presentes nos dias atuais, como doença de Alzheimer (DA), doença de Parkinson, esclerose múltipla, epilepsia, lesão cerebral, doença cardiovascular, síndrome metabólica, câncer, alergia, asma, bronquite, colite, artrite, isquemia renal, psoríase, diabetes, obesidade, depressão, entre outras. Sabendo-se que o fator de necrose tumoral α, o famoso TNF-α, é o principal mediador da inflamação das doenças citadas, e que ele é  regulado pela ativação do fator nuclear (NF)-kB. Entretanto, o contrário também ocorre, o TNF-α é o ativador mais potente do TNF-α, além de fatores como citocinas inflamatórias; bactérias gram-negativas; vários vírus causadores de doenças; poluentes ambientais; estresse químico, físico, mecânico e psicológico; glicose alta; ácidos graxos; radiação ultravioleta; fumaça de cigarro; e outros fatores causadores de doenças. Dessa forma, compostos com poder de regulação de NF-κB e TNF-α, desempenham um papel importante na eficácia contra diversas doenças12,13.

Sabendo que o estresse oxidativo também relaciona-se com a patogênese de diversos distúrbios humanos, e consiste em um estado de desequilíbrio entre a produção de intermediários reativos de oxigênio e a capacidade dos mecanismos biológicos de defesa antioxidante14, estudos com o intuito de encontrar compostos que possam atenuar esse processo vêm sendo cada vez mais levados em consideração. A fim de avaliar os efeitos na melhora dos marcadores sistêmicos de estresse oxidativo, no ano de 2015, foi publicada uma revisão sistemática e meta-análise14 para investigar o papel dos curcuminóides em parâmetros do estresse oxidativo, como as concentrações séricas de glutationa peroxidase (GSH), peróxidos lipídicos, SOD e catalase.

Entre os resultados obtidos, foi visto o potencial antioxidante por meio de mecanismos diferentes, como captação de formas de radicais livres, espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ROS e RNS, respectivamente), modulação da atividade das enzimas como GSH, catalase e SOD. Além disso, pode inibir enzimas geradoras de ROS, como lipoxygenase/ciclooxigenase e xantina hidrogenase/oxidase15. A curcumina, por ser um composto lipofílico, também desempenha um papel parecido ao da vitamina E, ou seja, realiza a quebra da cadeia pela eficiência em sequestrar radicais peroxil16.

Considerações finais

Devido aos diversos benefícios que a curcumina desempenha na saúde humana, ela tem recebido atenção mundial, tanto na culinária quanto no mundo científico. Para que a curcumina realmente exerça suas funções, é necessária a combinação de nutrientes, por exemplo, com a piperina, que aumenta sua biodisponibilidade.

Devido ao seu potencial anti-inflamatório e antioxidante, muito estudado nesses últimos anos, foi visto sua ação anticâncer, em doenças cardiovasculares, diabetes, artrite, doenças neurológicas, e até mesmo sua eficácia na modulação de inflamação do exercício e do estresse oxidativo. Sendo assim, a administração desse composto, em conjunto com a piperina, é um grande avanço para a saúde da humanidade.

Referências bibliográficas

  1. https://examine.com/supplements/curcumin/
  2. Hewlings SJ, Kalman DS. Curcumina: Uma revisão de seus efeitos sobre a saúde humana. Alimentos . 2017;6(10):92.
  3. Loeber, CC, e Buechner, AE (1748). Dissertatio Inauguralis Medica de Curcuma Officinarum Ejusque Genuinis Virtutibus, in Diss Inaug Halae, editor Præs., AE Büchnero (Halle: Halae Magdeburgicae ), 28.
  4. Albert Oppenheimer M.D. Cúrcuma (CURCUMIN) em doenças biliares. The Lancet, Volume 229, Issue 5924, 13 de março de 1937 , Páginas 619-621.
  5. Secretaria de saúde do Distrito Federal. Núcleo de Vigilância Epidemiológica de Doenças não Transmissíveis (NVEDNT). 2018.
  6. Anand P, Kunnumakkara AB, Newman RA, Aggarwal BB. Bioavailability of curcumin: problems and promises. Mol Pharm. 2007;4(6):807-818.
  7. Jäger, R., Lowery, RP, Calvanese, AV et al. Absorção comparativa de formulações de curcumina. Nutr J 13, 11 (2014).
  8. Chainani-Wu N. Safety and anti-inflammatory activity of curcumin: a component of tumeric (Curcuma longa). J Altern Complement Med. 2003;9(1):161-168.
  9. Wahlstrom, B.; Blennow, G. Um estudo sobre o destino da curcumina no rato. Acta Pharmacol. Toxicol. 1978 , 43 , 86-92.
  10. https://www.mdpi.com/2304-8158/6/10/92/htm
  1. Shoba G, Joy D, Joseph T, Majeed M, Rajendran R, Srinivas PS. Influence of piperine on the pharmacokinetics of curcumin in animals and human volunteers. Planta Med. 1998.
  2. Panahi, Y.; Hosseini, MS; Khalili, N.; Naimi, E.; Simental-Mendia, LE; Majeed, M.; Sahebkar, A. Efeitos da curcumina nas concentrações séricas de citocinas em indivíduos com síndrome metabólica: Uma análise post-hoc de um estudo controlado randomizado. Biomédico. Farmacêutico. 2016 , 82 , 578-582.
  3. Hewlings SJ, Kalman DS. Curcumina: Uma revisão de seus efeitos sobre a saúde humana. Alimentos . 2017; 6(10):92. https://doi.org/10.3390/foods6100092
  4. Amirhossein Sahebkar, Maria-Corina Serban, Sorin Ursoniu cMaciej Banach. Efeito dos curcuminóides no estresse oxidativo: uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados. Jornal de Alimentos Funcionais. Volume 18, Parte B , outubro de 2015 , Páginas 898-909
  5. Venugopal P. Menon, Adluri Ram Sudheer. Antioxidant and anti-inflammatory properties of curcumin. The Molecular Targets and Therapeutic Uses of Curcumin in Health and Disease, 2007, Volume 595.
  6. Priyadarsini, k.i., et. al. Papel do OH fenólico e do hidrogênio de metileno nas reações de radicais livres e atividade antioxidante da curcumina. Free Radical Biology and Medicine, Volume 35, Issue 5, 1 de setembro de 2003 , Páginas 475-484.

Gabriela Motta

@nutrigabrielamotta

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