Conduta Nutricional para pacientes com transtorno bipolar | Blog Nutrify

Conduta Nutricional para pacientes com transtorno bipolar

O Transtorno Bipolar (TB), também conhecido como Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) e originalmente chamado de “insanidade maníaco-depressiva”, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão, pólos opostos da experiência afetiva, intercalados por períodos de remissão, e estão associadas a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos1.

De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM 5, o transtorno se diferencia em dois tipos principais tendo ainda uma terceira variação. O Tipo I é o mais intenso. Este tipo de transtorno bipolar é caracterizado por episódios de variação do humor que giram em torno de sete dias, nos quais a pessoa passa por episódios definidos como “episódios maníacos” e períodos de depressão profunda, que podem durar de uma a duas semanas. Essa depressão pode ser mista, que é a junção da sensação depressiva com sensações maníacas. Já o tipo II é mais leve que o tipo I, sendo caracterizado por episódios hipomaníacos, menos elevados que os maníacos, e a pessoa apresenta longos períodos de euforia e depressão, de forma alternada. O terceiro tipo é o transtorno bipolar leve. Como o próprio nome sugere, é bem menos intenso que os demais tipos. É chamado também de desordem ciclotímica e ciclotimia, e é caracterizado por períodos intensos de oscilações de humor, muitas vezes de forma não cíclica (sem ciclo definido) e não atende os sintomas dos transtornos bipolares tipo I e II.

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Ainda se estuda muito para que se entenda quais são as principais causas dessa doença, mas alguns levantamentos são:

  1. Funcionamento e estrutura do cérebro – estudos demonstram que o cérebro de uma pessoa com transtornos mentais se difere dos que não possuem, tanto no que tange à estrutura quanto ao funcionamento. Essas pesquisas são de extrema importância para definição de medicamentos que funcionarão no tratamento dos pacientes diagnosticados e, com elas, têm-se obtido grandes inovações no assunto.
  2. Fatores e heranças genéticas – as observações iniciais que geraram essa hipótese foram a ausência relativa de transmissão pai-filho e a presença de ligação com o daltonismo. Esses resultados estimularam novos estudos. Resultados mais recentes sugerem que a região cromossômica Xq26 seja a portadora do suposto locus do TP (transtorno do pânico). No entanto, é improvável que a transmissão pelo cromossomo X ocorra em todas as famílias com TP. Conforme discutido por Hebebrand, essa transmissão implicaria que todas as filhas de homens afetados fossem também afetadas – ou, ao menos, uma grande proporção delas, devido à penetrância incompleta –, o que não é visto em dados de prevalência em famílias.
  3. Hiper e hipotireoidismo – associações entre depressão e hipotireoidismo, e entre mania e hipertireoidismo, são bem descritas na literatura. Em estudo de coorte prospectivo, observou-se que pacientes hospitalizados com hipotireoidismo apresentam alto risco de reinternações com depressão ou TAB. O hipotireoidismo subclínico latente parece acelerar a ciclagem. A média de concentração de TSH encontra-se significativamente maior, e a média de concentração de T4 livre significativamente menor em indivíduos com mania mista, em comparação com os indivíduos com mania pura, além de alterações nos receptores e nos pós-receptores de neurotransmissores.

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Fisiopatologia

Estudos mostram que a diminuição no metabolismo energético cerebral parece estar associada ao transtorno bipolar, bem como as doenças de Alzheimer, Parkinson, Huntington e isquemia cerebral4, pois a redução na produção de energia no cérebro pode comprometer a síntese de neurotransmissores e lipídios9, e a deficiência no funcionamento normal da cadeia respiratória mitocondrial pode levar a uma rápida queda na produção de energia e morte celular3.         Evidências recentes mostraram que disfunções no sistema de sinalização intracelular e de expressão gênica, podem estar associadas ao distúrbio bipolar. Essas alterações podem estar envolvidas com interrupções nos circuitos reguladores do humor, como no sistema límbico. Outros estudos demonstram que o transtorno bipolar também pode estar associado à disfunção das mitocôndrias presentes no hipocampo e anormalidades na atividade de complexos respiratórios e obtenção de energia, podendo levar à degeneração celular.

A serotonina modula atividades neuronais, regulando a fisiologia e os processos funcionais, como o controle de impulsos, a agressividade e a tendência suicida. Logo, esse neurotransmissor tem participação na fisiologia da desordem bipolar, pois uma deficiência nos seus neurotransmissores pode levar a estados tanto maníacos quanto depressivos, uma vez que a diminuição na liberação e atividade da serotonina pode levar a pensamentos suicidas, bem como tentativa e, muitas vezes, ao próprio suicídio.

A dopamina, outro neurotransmissor, também está envolvida com a neurobiologia do transtorno bipolar. A grande atividade dopaminérgica induzida pelo aumento da liberação de dopamina, a redução da capacidade da vesícula sináptica ou a elevada sensibilidade do receptor dopaminérgico estão associados aos sintomas maníacos, e a redução na atividade dopaminérgica está relacionada com a depressão.

Quanto à noradrenalina, estudos mostram que uma menor sensibilidade dos receptores noradrenérgicos ocasiona o estado de depressão. Porém, o aumento na atividade noradrenérgica pode resultar em um estado de mania. No sistema gabaérgico, a disfunção desse neurotransmissor pode levar a estados maníacos e depressivos, visto que, em pacientes bipolares, os níveis plasmáticos de GABA estão diminuídos. O sistema glutamatérgico apresenta-se associado com o transtorno bipolar, uma vez que estudos demonstram a ação de estabilizadores de humor na sua neurotransmissão. De acordo com a neuropatologia do transtorno bipolar, estudos demonstraram que os sintomas relacionados ao ciclo maníaco-depressivo podem estar envolvidos com alterações nas regiões cerebrais ligadas à emoção, sendo que o estado afetivo de pacientes bipolares é avaliado de acordo com a parte sentimental e o processo de respostas a vários estímulos. No sistema de neurotransmissores, podem ocorrer alterações no caminho percorrido pelo neurotransmissor até seu receptor, levando a uma sinalização anormal. As funções cerebrais relacionadas ao humor e à cognição dependem da tradução de sinais.

Obesidade e sobrepeso

Tanto a obesidade quanto o sobrepeso são altamente prevalentes em pacientes com TAB, e ambos estão relacionados a desfechos psiquiátricos e físicos adversos. Apetite e atividade física são afetados por episódios de mania e depressão, por isso o número de episódios da doença e o número de anos desde o início da doença podem ser importantes na prevalência de sobrepeso e obesidade de indivíduos com TAB. De acordo com um estudo de corte transversal realizado por Elmslie., a prevalência de sobrepeso em mulheres com TAB é 1,5 vez maior e a prevalência de obesidade é 1,8 vez maior. No sexo masculino, a obesidade, não o sobrepeso, é mais comum. Estudos de revisão concluíram que pacientes com TAB podem demonstrar taxas aumentadas de obesidade abdominal, apresentando, assim, maior risco de doenças cardiovasculares e diabetes.

Em estudo realizado com 171 pacientes, que se inscreveram no Bipolar Disorder Center da Pensilvânia, entre os anos de 2003 e 2004, os autores observaram que 39% apresentavam hipertensão, 30% eram portadores de síndrome metabólica de acordo com o critério do NCEP ATP III (National Cholesterol Education Program Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults), 49% tinham obesidade abdominal, 41% manifestavam hipertrigliceridemia e 23% tinham HDL baixo. Nesse mesmo estudo, observou-se que pacientes com síndrome metabólica tinham maior probabilidade de ter um histórico de tentativa de suicídio. Em outro estudo recente, em que dados demográficos, físicos e psiquiátricos de 25.339 pacientes com TAB e de 113.698 controles, foram extraídos do Danish Psychiatric Central Research Register, verificou-se que a hipertensão em portadores de TAB apresentava razão da taxa de incidência (RTI) de 1,2749. Segundo Cassidy, foi reportado que a prevalência de diabetes mellitus (DM) nos pacientes com TAB hospitalizados era aproximadamente três vezes a da média populacional.

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Oxidação

O coordenador do Laboratório de Bioquímica Celular da UFRGS, Fábio Klamt, explica que, além de acometer o sistema nervoso central em regiões específicas, o transtorno de humor bipolar provoca também o comprometimento sistêmico. “No sangue do paciente, é possível detectar algumas alterações em vários componentes, como a diminuição periférica de neurotrofinas (que auxiliam no funcionamento do cérebro), o aumento de citocinas pró-inflamatórias (moléculas que sinalizam processos de inflamação) e o crescimento de estresse oxidativo – aumenta a quantidade de radicais livres e a incapacidade de o sistema antioxidante combatê-los”.

O projeto é realizado em associação com o Laboratório de Psiquiatria Molecular do Hospital de Clínicas, coordenado pelo psiquiatra e professor, Flávio Kapczinski. Segundo ele, quando acontecem os episódios da doença, essas alterações aumentam. “Depois que a doença passa, elas diminuem. Vimos que, quando o paciente está em crise, o sangue deles inibe o crescimento dos neurônios, particularmente dos dendritos, que são suas ramificações”.

A partir disso, os pesquisadores desenvolveram o conceito de toxicidade sistêmica. “Não sabemos ainda se isso vem do sistema nervoso e vaza para o sangue, ou se está no sangue e influencia o sistema nervoso. O importante é que conseguimos ver essas alterações na periferia”, comenta Klamt.

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Tireoide

A tireóide secreta quatro hormônios de crucial importância no organismo (T3, T4, PTH e calcitonina). Se a glândula não estiver funcionando de forma correta atrapalha alguns processos fisiológicos. Levando em consideração o fato da hipo e hipertireoidismo dar consequência ao aparecimento dos TAB, percebe-se uma importância no consumo adequado de iodo e diversos nutrientes.

O iodo é responsável pela formação dos hormônios tireoidianos, que têm uma função crucial no nosso metabolismo. O T4 e o T3 têm papel importante no desenvolvimento humano ao longo de diferentes etapas da vida. Na infância, esses hormônios promovem o crescimento e a maturação do sistema nervoso central. Já na fase adulta, são responsáveis por regular o metabolismo de todos os órgãos e sistemas. Outros nutrientes importantes para o bom funcionamento da tireoide são: selênio, vitamina A, zinco, Cq10, magnésio, ferro, tirosina, vitamina b2, b3, b6, C e D.

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Redução de açúcar e aumento de exercício

Quanto se trata de doenças cardiovasculares, hipertensão, DM e obesidade, a teoria aplicada ao TB pode ser por conta da busca do prazer, e a mesma teoria pode ser aplicada para explicar o porquê do uso de psicoativos. O ser humano, quando está em estado de stress, por conta da depressão, irá buscar formas de sentir prazer e se acalmar. Essa busca pelo prazer pode se dizer que é por conta da serotonina, endorfina e entre outros. Segundo Carreta (2006), quando consumimos doce (ATP) ou usamos substâncias, como drogas, a neurofisiologia apresenta em sua literatura que, logo após o consumo, ocorrerá a liberação de dopamina, proporcionando bem-estar e iniciando a ativação do sistema, passando ao núcleo accumbens, que recebe as projeções dopaminérgicas, que quando ativadas tornam-se responsáveis pela detecção dos estímulos ambientais de reforço positivo. A amígdala na sequência estabelece associações entre o evento motivacional e os estímulos ambientais, e o córtex pré-frontal e o giro do cíngulo são ativados por eventos motivacionais relevantes, definindo quando a resposta motivacional será emitida controlando a tomada de decisão e o impulso. Esse ato se faz repetir a cada dose de açúcar ingerido ou o uso de drogas. Embora o estímulo ocasional desse sistema de recompensa no cérebro com um pedaço de chocolate possa ser prazeroso e, provavelmente, inofensivo, quando o sistema de recompensa é ativado com muita frequência, começam a surgir problemas, como perda de controle. Então é interessante o controle e a observação no consumo de açúcar e o estímulo no exercício físico, já que ele também tem potencial de gerar serotonina.

Glicemia

Como há uma prevalência maior de obesidade e sobrepeso em pacientes com TAB, é interessante utilizar métodos para que não haja tanto descontrole de glicemia. Um nutriente importante nesse caso é o magnésio. Outro que também é importante é o consumo de prebióticos, como alho, cebola, banana, aspargo, aveia, maçã, linhaça e farelo de trigo. Esses alimentos conseguem aumentar o GLP-1 que faz parte do processo de secreção de insulina.

Fibras

Tendo em vista o que foi citado acima, é importante um alto consumo de fibras para ajudar na redução de LDL do sangue, já que diminui o colesterol hepático, aumentando os receptores e captação de LDL, e diminuindo o colesterol do sangue. As fibras retardam a absorção da glicose e diminuem a acessibilidade da enzima alfa-amilase pancreática, a viscosidade reduz a difusão de glicose pelo enterócito, que diminui a glicemia pós prandial e menor secreção de insulina, sendo importante para o caso de DM.

Antioxidantes

Com o aumento de citocinas pró-inflamatórias e o crescimento de estresse oxidativo aumenta a quantidade de radicais livres. É fato que com mais ERO ‘s no corpo há mais possibilidade de envelhecimento, morte e lesão celular. Isso ocorre porque espécies reativas de oxigênio geram peroxidação lipídica, fazendo com que se formem buracos nos lipídios e a membrana da célula sofra ruptura, então, substâncias importantes acabam saindo e outras entram. Alta ingestão de agentes antioxidantes encontrados nos alimentos coloridos, como frutas vermelhas, uva, kiwi, banana, abacate, amendoim, berinjela. De forma reduzida FLV (frutas, legumes e verduras). Além disso, vitamina C, A e E. O ácido ascórbico ou vitamina C, encontrado em alimentos cítricos e verduras cruas, é facilmente consumido ao longo do dia. A vitamina A, presente em alimentos alaranjados e amarelos, e a vitamina E, pelo consumo de azeite todos os dias na salada ou preparações.

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