COMPOSTOS DA DIETA E INTERAÇÃO COM O SISTEMA IMUNOLÓGICO

É conhecido que o estado nutricional do organismo e os nutrientes ingeridos na alimentação influenciam significativamente na atuação do sistema imunológico. Nesse sentido, vitaminas, minerais, compostos bioativos e fibras podem influenciar a resposta imunológica. Abaixo abordaremos compostos da dieta e sua influência no sistema imune:

Beta-glucanas (β 1-3/1-6)

As beta-glucanas são polissacarídeos constituintes estruturais da parede celular de leveduras, fungos e alguns cereais, que se diferenciam pelo tipo de ligação entre as unidades de glicose da cadeia principal e pelas ramificações que se conectam a essa cadeia, resultando assim, em diferentes benefícios ao organismo. As beta-glucanas derivadas da aveia com conformação β(1-3/1-4)  demonstram diminuição do colesterol sérico e melhora da microbiota intestinal.

Já as beta-glucanas derivadas da parede celular de Saccharomyces cerevisiae também conhecida como levedura de fermentação, é a mesma utilizada para a produção de cerveja e na panificação, porém ela está na sua forma inativa, na qual não ocorre fermentação. É constituída por um esqueleto linear central de unidades de glicose ligadas na posição β(1-3), com cadeias laterais unidas em β(1-6) (β 1-3/1-6), o que confere a sua capacidade imunomoduladora, mais especificamente da resposta imune inata. Essas têm a capacidade de serem reconhecidas pelo sistema imune inato, uma vez que várias células como macrófagos, neutrófilos e células dendríticas, dentre outras, possuem receptores para beta-glucanas (β 1-3/1-6), como os receptores dectina-1 e complemento 3. Dessa forma, ele regula positivamente a fagocitose e a quimiotaxia das células imunes inatas resultando em maior resistência às infecções. Estudos in vivo demonstraram aumento da sobrevivência em animais pela ingestão de beta-glucanas desafiados com uma variedade de patógenos.

As evidências de estudos clínicos com a ingestão de beta-glucanas (β 1-3/1-6) têm demonstrado a sua capacidade de apoiar respostas imunes. Ela pode reduzir a incidência de doenças do trato respiratório superior, sintomas de infecção e melhora a sensação geral de bem-estar em pessoas de todas as idades.

Tabela 1. Resumo dos ensaios clínicos com beta-glucana (β 1-3/1-6) (Wellmune®):
Objetivo Protocolo Principais Resultados com Wellmune®
Avaliação da imunossupressão após exercício físico ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo e crossover;

● População: 109 Adultos saudáveis ativos;

● Duração: 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo; washout de 7 dias; 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo.

● Impede queda de glóbulos brancos após o exercício;

● Maior produção de INF-γ e IL-4 após desafio com LPS.

Avaliação de episódios de doenças infantis comuns durante o inverno (ITRS)

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 156 crianças saudáveis;

● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®.

● Diminuição significativa (2/3) da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS) e dias de doença.

 

Avaliação de episódios de ITRS em corredores da maratona do Texas

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 182 corredores saudáveis;

● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune® após maratona.

 

● Diminuição significativa de 40% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS) após 28 dias da maratona;

● Melhora da imunidade da mucosa (aumento significativo dos níveis de IgA salivar) após exercício extenuante com 10 dias de suplementação de Wellmune®

Avaliação de parâmetros imunológicos após exercício extenuante

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, crossover;

● População: 60 atletas recreacionais;

● Duração: 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo; washout de 7 dias; 10 dias de suplementação Wellmune® ou placebo.

● Impede queda de glóbulos brancos após o exercício extenuante;

● Maior produção de INF-γ e IL-4 após desafio com LPS

 

 

Sintomas de alergia (questionário validado: Rhinoconjunctivitis Quality of Life Questionarei (RQLQ)) ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 48 indivíduos;

● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune®.

 

● Redução significativa dos sintomas nasais e oculares

 

Avaliação de episódios de ITRS em indivíduos estressados

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 48 indivíduos;

● Duração: 90 dias de suplementação com Wellmune®.

● Diminuição de 18% da ocorrência de sintomas de gripe e resfriado

Avaliação de episódios de ITRS em mulheres estressadas

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 77 mulheres;

● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®.

● Diminuição significativa de 62% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS);

● Melhora de 8,3% no estado de bem-estar geral e aumento de 26% do vigor (protocolo POMS)

 

Avaliação de episódios de ITRS em maratonistas e percepção de bem-estar geral

 

● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 75 corredores;

● Duração: 4 semanas de suplementação com Wellmune® após a maratona.

● Diminuição significativa em 67% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS);

● Melhora no vigor, diminuição da fadiga, confusão e tensão (protocolo POMS)

 

Avaliação de suporte imunológico durante estações mais frias ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 40 indivíduos;

● Duração: 12 semanas de suplementação com Wellmune®.

● Melhora da qualidade de vida (protocolo: Physical Component Summary score)

 

 

Avaliação de episódios de ITRS em bombeiros ● Design: randomizado, duplo-cego, controlado com placebo;

● População: 54 bombeiros;

● Duração: 2 semanas de suplementação com Wellmune®.

● Redução significativa em 23% da ocorrência de infecção do trato respiratório superior (ITRS)

 

* Wellmune® é uma formulação altamente purificada de beta-glucana (β 1-3/1-6) proveniente de Saccharomyces cerevisiae, não alergênica, livre de glúten naturalmente, não transgênica e compatível com orgânicos.

Protocolo POMS (Profile of Mood States)

Fibra de goma acácia

A goma acácia (GA) é um heteropolissacarídeo de alto peso molecular (350–850 kDa) contendo resíduos de galactose, ramnose, ácido glucurônico e arabinose, além de polifenois (catequinas e epicatequinas). É considerada uma fibra prebiótica e solúvel em água, devido a sua inacessibilidade por várias enzimas do intestino delgado, é também definida como um ingrediente alimentar não digerível que afeta beneficamente o hospedeiro estimulando o crescimento seletivo de bactérias do cólon, sem estimular o crescimento de bactérias indesejadas. A GA é largamente fermentada no intestino grosso em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) por microrganismos, além de modular positivamente a microbiota intestinal com o aumento de gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus, benéficos à saúde. Estudos também apontam a capacidade de GA em aumentar o sistema antioxidante de defesa, como as enzimas superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase no fígado, modular a inflamação, fatores associados também à resposta imunológica.

Em adição, a ingestão de GA demonstrou aumento de catelicidina de maneira dose-dependente em macrófagos em estudo pré-clínico. Ela desempenha papéis essenciais na regulação da defesa e imunidade inata do hospedeiro. Nos humanos a única catelicidina presente é o peptídeo LL-37, expresso em neutrófilos, monócitos/macrófagos e linfócitos. A ingestão de GA aumenta os AGCC, é conhecido que o butirato é um dos indutores da expressão de catelicidina. Estudos demonstraram que o aumento da expressão de catelicidina e sua síntese foram diretamente correlacionadas com atividade antimicrobiana in vitro e in vivo. Dessa forma, o consumo regular de GA poderia aumentar a imunidade inata contra infecções bacterianas, virais e fúngicas.

Própolis Verde

A composição da própolis é extremamente complexa. Já foram descritas mais de 400 substâncias constituintes.  A origem botânica é um dos fatores que pode explicar a variabilidade química entre diferentes amostras de própolis. Ela tem demonstrado propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias, antitumorais, antioxidantes e imunomoduladora. Nesse sentido, a própolis verde é obtida a partir da planta Baccharis dracunculifolia DC e sua ação biológica deriva da alta quantidade de ácidos fenólicos e flavonoides, sendo os principais constituintes: ácido cinâmico, ácido cumárico, quercetina, rutina, apigenina, artepillin C, éster fenetílico do ácido caféico.

De acordo com estudos científicos o composto artepillin C demonstra ativação de macrófagos. Estas células desempenham um papel fundamental na defesa do organismo, através da fagocitose, geração de radicais livres, mediação de processos inflamatórios e secreção de uma variedade de substâncias bioquimicamente diferentes, como enzimas, citocinas e componentes do sistema complemento. A ação da própolis verde nos macrófagos resulta em aumento da capacidade fagocítica. Ela também restringe a capacidade da diferenciação de linfócitos Th1 e Th17 relacionada às doenças autoimunes e inflamatórias. O artepillin C tem demonstrado inibir IFNγ e IL-17 em células T CD4+ alorreativas, o que pode estar associado com a inibição da diferenciação de Th1.

Gengibre

O Gengibre (Zingiber officinale Roscoe), cujo rizoma é comercializado amplamente, ele é rico em muitos compostos químicos como compostos fenólicos, terpenos e ácidos orgânicos. Os efeitos na saúde do gengibre são atribuídos principalmente aos seus compostos bioativos gingerol e shogaol, demonstrando efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e imunomoduladores.

O gengibre tem demonstrado em modelos animais melhorar níveis de IFN- γ e IL-2. O IFN- γ é indispensável a resposta imune e sua expressão aberrante está relacionada às doenças autoimunes e autoinflamatórias.

A adição de gingeróis a linfócitos T elevou a secreção de IFN- γ através da interação dos gingeróis e TRPV1 (receptor de potencial transitório vanilóide tipo 1). Estudo in vivo demonstrou que o gengibre diminui a ativação de macrófagos estimulados com LPS, modulando a produção de IL-12, essa induz o aumento de células natural killer (NK) e IFN- γ, importante na função dos macrófagos.

Pesquisa conduzida em animais infectados com cepas de Mycobacterium tuberculosis observou que o gingerol apresentou efeito modulador melhorando as respostas Th1/Th17. Em estudo clínico de indivíduos com artrite reumatoide (AR), a ingestão de gengibre foi capaz de diminuir manifestações da AR, por aumentar a expressão de FOXP3, fator de transcrição de células reguladoras T, atenuando doenças autoimunes. Além disso, extratos de gengibre inibem a produção de eicosanoides, como prostaglandina do tipo 2 (PGE2), reduzindo a produção de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-1β), modulando de maneira direta o processo inflamatório e a resposta imune.

N-acetil Cisteína (NAC)

N-acetil cisteína é precursor da glutationa reduzida (GSH). Devido a sua tolerabilidade, esta substância tem sido proposta não apenas como agente mucolítico, mas também como agente preventivo/terapêutico em uma variedade de distúrbios envolvendo depleção de GSH e estresse oxidativo. A GSH é um importante mecanismo de defesa do organismo. O NAC entra facilmente nas células, onde é desacetilado para produzir L-cisteína, promovendo assim a síntese de GSH.

É conhecido que a GSH modula o sistema imune inato em vários níveis e pode modificar reações imunológicas complexas como febre. A ingestão de NAC em mulheres na pós-menopausa por 4 meses reforçou as defesas imunitárias demonstrado pela melhora das funções dos linfócitos (adesão, quimiotaxia e proliferação) e neutrófilos (adesão, quimiotaxia, superóxido e fagocitose), bem como nos níveis de citocinas (IL-2, IL-8, e TNF-α), trazendo os valores próximos às mulheres saudáveis (controle). E, ainda, foi capaz de aumentar o conteúdo de GSH dos linfócitos.

Além disso, o tratamento com NAC por 6 meses também diminuiu significativamente a frequência de infecções por influenza em indivíduos idosos com doenças crônicas-degenerativas, bem como a severidade e duração dos sintomas.

Vitaminas e minerais

Tabela 2. Principais funções de micronutrientes no sistema imunológico

 

Micronutriente

 

Imunidade Inata

 

Imunidade Adaptativa

 

 

 

VITAMINA D3

 

● Aumenta a diferenciação de monócitos para macrófagos;

 

● Estimula a proliferação de células imunes e a produção de citocinas, além de proteger contra infecções causadas por patógenos;

 

● A forma ativa da vitamina D, regula as proteínas antimicrobianas catelicidina e defensina, que podem eliminar diretamente patógenos, especialmente bactérias.

 

● 1,25 dihidroxivitamina D3 suprime a produção de anticorpos por células B e inibe a proliferação de células T.

 

 

 

 

VITAMINA C

● Promove a síntese de colágeno apoiando assim a integridade de barreiras epiteliais;

 

● Estimula a produção, função e movimento de leucócitos (por exemplo, neutrófilos, linfócitos e fagócitos);

 

● Regenera outros antioxidantes importantes, como glutationa e vitamina E ao seu estado ativo;

 

● Envolvida em apoptose e eliminação de neutrófilos;

 

● Tem funções em atividades antimicrobianas e de células NK e quimiotaxia.

 

● Pode aumentar os níveis séricos de anticorpos;

 

● Tem funções na diferenciação e proliferação de linfócitos.

 

 

 

ZINCO

 

● Ajuda a modular a liberação de citocinas e induz a proliferação de células T CD8+;

 

● Efeitos antioxidantes protegem contra ROS e RNS;

 

● Ajuda a manter a integridade da pele e da membrana mucosa.

● Papel central no crescimento celular e diferenciação das células imunes;

 

● Essencial para a ligação intracelular de tirosina quinase aos receptores de células T, necessários para o desenvolvimento e ativação de linfócitos T;

 

● Suporta resposta Th1 (célula T auxiliar).

 

 

SELÊNIO

● Essencial para a função de enzimas dependentes de selênio (selenoproteínas), que podem atuar como reguladores redox e antioxidantes celulares, neutralizando potencialmente o ROS;

 

● Selenoproteínas são importantes para o sistema de defesa antioxidante do hospedeiro afetando a função celular do leucócito e de células NK

● Envolvido na proliferação de linfócitos T;

 

● Tem funções no sistema humoral (por exemplo, produção de imunoglobulina).

Referências:

https://doi.org/10.1111/j.1600-065X.2009.00793.x

https://doi.org/10.1080/10408399908500493

https://doi.org/10.1128/aac.42.3.545

https://doi.org/10.1016/j.nut.2017.03.003

https://doi.org/10.3389/fphys.2017.00786

http://dx.doi.org/10.4172/2155-9600.1000519

http://dx.doi.org/10.3109/19390211.2013.820248

https://doi.org/10.1002/fsn3.11

https://doi.org/10.1016/j.nut.2011.11.012

https://doi.org/10.1080/07315724.2012.10720441

https://doi.org/10.1249/01.mss.0000323413.46780.c1

https://doi.org/10.1017/S0007114508981447

https:// doi.org/10.3390/biom13010138

https://doi.org/10.3945/jn.110.135657

https://doi.org/10.1186/s12906-022-03627-9

https://doi.org/10.3389/fimmu.2019.03119

https://doi.org/10.11525/2012/15765

https://doi.org/10.1016/j.fbio.2021.100934

https://doi.org/10.1186/1472-6882-8-1

https://doi.org/10.1016/j.intimp.2020.106809

https://doi.org/10.1002/ptr.4847

https://doi.org/10.1096/fj.202001807

https://doi.org/10.3390/ijms21041393

https://doi.org/10.1016/j.freeradbiomed.2008.07.014

https://doi.org/10.1183/09031936.97.10071535

https://doi.org/10.3390/nu10101531

 

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