Colágeno e seu papel na redução de inflamações e saúde da Microbiota | Blog Nutrify

Colágeno e seu papel na Microbiota

O colágeno é uma proteína descoberta na década de 30 e está presente em grande quantidade no corpo humano, em especial na pele, ligamentos, tendões, cabelo e unhas. Sua principal função é garantir estrutura, estabilidade e força para os tecidos. Essa proteína se comporta como um material viscoso e elástico, resistente à tração e com baixa imunogenicidade, fator que assegura sua utilização em suplementos e alimentos (05).

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Até então, foram identificados 28 tipos de colágenos agrupados em 8 famílias de acordo com a sua estrutura. As fontes mais comuns são derivadas de animais bovinos, suínos e marinhos (escamas e pele de peixe). Também é possível sintetizar o colágeno a partir de culturas de mamíferos, insetos, leveduras e plantas. Essa forma é considerada superior ao colágeno animal, principalmente em âmbito comercial, já que sua absorção é mais eficiente devido ao baixo peso molecular (05,07).

Há tempos o colágeno é utilizado para minimizar o envelhecimento cronológico e fotoenvelhecimento (exposição ao sol e luz azul); melhorar a qualidade, elasticidade e hidratação da pele, minimizando rugas e linhas de expressão; como coadjuvante no processo de cicatrização; e na prevenção de doenças ósseas e articulares pela sua alta capacidade antioxidante e antimicrobiana. Entretanto, estudos recentes têm demonstrado um efeito positivo da suplementação de peptídeos de colágeno na melhora da saúde da microbiota. De maneira mais específica, o colágeno pode auxiliar na recuperação e manutenção da barreira intestinal (05,07,08).

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Microbiota e Disbiose

O intestino é um órgão crucial para a saúde. Ele é responsável pela metabolização, absorção e distribuição de nutrientes e outras substâncias. Inclusive, é dentro do intestino que se determina o que entra na corrente sanguínea para ser direcionado a outros tecidos. Isso acontece através da barreira intestinal, composta por enterócitos (células intestinais) ligados pelas tight juntions. Essa junção forma uma barreira altamente seletiva, evitando que toxinas extravasam e atinjam outros órgãos, causando prejuízos à saúde. (04)

Outro meio de regulação do organismo humano é pela microbiota, comunidade de microrganismos (vírus, fungos, bactérias, ácaros e archea) que compõe o trato gastrointestinal. Existe microbiota em outros tecidos, como pele, cabelo e vagina, entretanto, elas se diferem mediante ao tipo de colônia de microrganismos predominante naquela região. A microbiota tem uma grande importância na saúde dos indivíduos por estar envolvida na fermentação de carboidratos e fibras; síntese de aminoácidos e vitaminas; modulação da toxicidade de xenobiótico e promoção do sistema imunológico, através da produção de muco e peptídeos anti-microbianos.(04,)

Determinadas situações, como dietas ricas em carne vermelha, embutidos e gorduras; alimentos ultraprocessados; tabagismo; bebida alcoólica; uso discriminado de antibióticos; obesidade; idade; sexo; imunodeficiência e genética podem afetar a homeostase (equilíbrio) da microbiota, gerando uma disbiose intestinal. A disbiose pode ser causada tanto pela redução ou aumento de uma comunidade de microrganismo quanto pela variação do número de espécies presentes. Essas alterações podem desencadear uma condição chamada de leaky gut ou intestino gotejante, que nada mais é do que o aumento da permeabilidade intestinal pelo afrouxamento das tight juntions, aumentando o espaço entre as células e permitindo a passagem de patógenos e toxinas para circulação. Inúmeros estudos têm associado essa condição com aumento do estado inflamatório geral; doença inflamatória intestinal (síndrome do intestino irritável, colite ulcerativa, síndrome do intestino permeável, doença de crohn); esteatose hepática não alcoólica; desnutrição; doenças cardiovasculares; periodontite; câncer de cólon; doenças autoimunes; condições cutâneas (acne, psoríase, eczema; rosácea), articulares e ósseas; distúrbios neurológicos e cognitivos; asma e autismo.(02, 04, 08)

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Colágeno, Inflamação e Microbiota

Como citado anteriormente, os peptídeos de colágeno e aminoácidos percursores de colágeno (alanina, prolina, hidroxiprolina, lisina, glicina, hidroxilisina) têm sido associados com a melhora da saúde gastrointestinal. Alguns tipos de peptídeos de colágeno são resistentes à digestão, portanto, capazes de manter suas propriedades benéficas dentro do sistema gastrointestinal. Dessa maneira, a suplementação pode manter, reforçar ou reparar a barreira intestinal através de mecanismos de ação, incluindo a modulação das reações imunes intestinais, redução do estresse oxidativo ou modificando as proteínas de ligações intracelulares (tight juntions), reduzindo o espaço entre os enterócitos, garantindo uma barreira intestinal protegida. Dessa maneira, a permeabilidade intestinal e, consequentemente, o vazamento de toxinas e patógenos para circulação são minimizados (04, 07,10). Informação validade pelo estudo realizado por Chen, et al. que identificou que o colágeno derivado da pele do peixe Pollock do Alasca tem grande potencial de atenuar distúrbios intestinais e promover melhorias das tight juntions ao reduzir a ação da citocina Fator de Necrose Tumoral Alfa ou TNF-alfa (marcador inflamatório relacionado com processo de apoptose celular) na barreira intestinal.

A obesidade e resistência à insulina são características principais das síndromes metabólicas e podem predispor o indivíduo ao desenvolvimento patologias como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Entretanto, o estilo de vida, inflamação crônica e composição da microbiota também contribuem como fatores de risco (03, 09). No artigo elaborado o por Axarlis, et al., os resultados indicam que os suplementos derivados de peixe, em especial aqueles contendo colágeno, podem silenciar a diabetes tipo 2 induzida pela dieta em ratos através da modulação da microbiota intestinal. Uma hipótese seria que, como a colonização intestinal é um processo competitivo e mediado por recursos nutricionais, a suplementação do colágeno favoreceu a colonização da microbiota por bactérias benéficas que, por sua vez, reduziram a inflamação crônica. (06)

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Conclusão

A utilização dos peptídeos de colágeno para saúde da microbiota intestinal tem demonstrado ser algo promissor, porém, ainda são necessários mais estudos para comprovar sua real eficácia e mecanismos por trás dos resultados até então descobertos. Por outro lado, também deve-se levar em consideração o meio em que o individuo está inserido e seu estilo de vida. Como já é sabido, a síntese do colágeno depende de micronutrientes (vitaminas e minerais), como vitamina C, E, zinco e silício; e a composição da microbiota será reflexo de hábitos alimentarem. Portanto, uma alimentação pobre em frutas, verduras, legumes e cereais integrais, e rica em carne vermelha, gorduras, carboidratos refinados e produtos alimentícios pode favorecer a proliferação de microrganismos patógenos, deixando o indivíduo susceptível a uma disbiose intestinal e patologias associadas. Outros fatores, como tabagismo, bebidas alcoólicas, uso indiscriminado de antibióticos e estresse também estimulam o ambiente inflamatório.

Referências bibliográficas

  1.   Axarlis K, Daskalaki MG, Michailidou S, Androulaki N, Tsoureki A, Mouchtaropoulou E, Kolliniati O, Lapi I, Dermitzaki E, Venihaki M, Kousoulaki K, Argiriou A, Marsni ZE, Tsatsanis C. Diet Supplementation with Fish-Derived Extracts Suppresses Diabetes and Modulates Intestinal Microbiome in a Murine Model of Diet-Induced Obesity. Mar Drugs. 2021 May 11;19(5):268. doi: 10.3390/md19050268. PMID: 34064922; PMCID: PMC8151984.
  2.   Carstens A, Dicksved J, Nelson R, Lindqvist M, Andreasson A, Bohr J, Tysk C, Talley NJ, Agréus L, Engstrand L, Halfvarson J. The Gut Microbiota in Collagenous Colitis Shares Characteristics With Inflammatory Bowel Disease-Associated Dysbiosis. Clin Transl Gastroenterol. 2019 Jul;10(7):e00065. doi: 10.14309/ctg.0000000000000065. PMID: 31343467; PMCID: PMC6708665.
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  4.   DAS B, Nair GB. Homeostasis and dysbiosis of the gut microbiome in health and disease. J Biosci. 2019 Oct;44(5):117. PMID: 31719226.
  5.   León-López A, Morales-Peñaloza A, Martínez-Juárez VM, Vargas-Torres A, Zeugolis DI, Aguirre-Álvarez G. Hydrolyzed Collagen-Sources and Applications. Molecules. 2019 Nov 7;24(22):4031. doi: 10.3390/molecules24224031. PMID: 31703345; PMCID: PMC6891674.
  6.   Moura LI, Dias AM, Suesca E, Casadiegos S, Leal EC, Fontanilla MR, Carvalho L, de Sousa HC, Carvalho E. Neurotensin-loaded collagen dressings reduce inflammation and improve wound healing in diabetic mice. Biochim Biophys Acta. 2014 Jan;1842(1):32-43. doi: 10.1016/j.bbadis.2013.10.009. Epub 2013 Oct 23. PMID: 24161538.
  7.   Schwarz D, Lipoldová M, Reinecke H, Sohrabi Y. Targeting inflammation with collagen. Clin Transl Med. 2022 May;12(5):e831. doi: 10.1002/ctm2.831. PMID: 35604877; PMCID: PMC9126324.
  8.   Vijayan DK, Sreerekha PR, Dara PK, Ganesan B, Mathew S, Anandan R, Ravisankar CN. Antioxidant defense of fish collagen peptides attenuates oxidative stress in gastric mucosa of experimentally ulcer-induced rats. Cell Stress Chaperones. 2022 Jan;27(1):45-54. doi: 10.1007/s12192-021-01245-x. Epub 2021 Nov 17. PMID: 34787818; PMCID: PMC8821750.
  9.   Watanabe R, Yamaguchi M, Watanabe K, Shimizu M, Azusa T, Sone H, Kamiyama S. Effects of Collagen Peptide Administration on Visceral Fat Content in High-Fat Diet-Induced Obese Mice. J Nutr Sci Vitaminol (Tokyo). 2021;67(1):57-62. doi: 10.3177/jnsv.67.57. PMID: 33642465.
  10. Zhang H, Qi L, Shen Q, Wang R, Guo Y, Zhang C, Richel A. Comparative Analysis of the Bioactive Compounds in Chicken Cartilage: Protective Effects of Chondroitin Sulfate and Type II Collagen Peptides Against Osteoarthritis Involve Gut Microbiota. Front Nutr. 2022 Mar 30;9:843360. doi: 10.3389/fnut.2022.843360. PMID: 35433786; PMCID: PMC9005812.

Júlia Cestari

@juliacestarinutri

 

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