Câncer de Mama: Sintomas, Tratamentos e Prevenção | Blog Nutrify

Câncer de Mama: Sintomas, Tratamentos e Prevenção

O câncer de mama (CM) ainda é considerado uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres. Em 2020, foram estimados 2,3 milhões de novos casos no mundo e 66.280 mil casos para o ano de 2022 no Brasil, representando cerca de 43,74 casos por 100 mil mulheres. Sua incidência varia de acordo com a região, sendo que as maiores taxas estão presentes em países desenvolvidos em comparação com subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, evidenciando sua relação com o processo de globalização. (1,7)

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A doença é causada por mutações genéticas e fatores ambientais que modificam a morfologia das células presentes na glândula mamária (hiperplasia ou hiperplasia atípica). Essas células anormais se proliferam de maneira desordenada e formam uma espécie de nódulo (caroço) na mama, tecidos vizinhos, como as axilas; ou em outras partes do corpo, levando a uma metástase à distância. O CM se enquadra em um grupo heterogêneo de doenças por apresentar diversos subtipos caracterizados por perfis moleculares, aspectos clínicos e patológicos, e respostas terapêuticas distintas (7,10)

Principais tipos de câncer de mama:

  • Carcinoma ductal in situ ou intraductal: considerado um câncer do tipo não invasivo. Inicia no ducto de leite e não se prolifera pelo tecido mamário (1,2,8).
  • Câncer de mama invasivo: ocorre a disseminação pelo tecido mamário adjacente e os tipos mais comuns são o carcinoma ductal invasivo, representando cerca de 70-80% dos casos de todos os cânceres de mama, e o carcinoma lobular invasivo (1,2,8).

Existem alguns tipos de câncer de mama menos comuns, que afetam diferentes células da glândula mamária e exigem um tratamento alternativo. A Doença de Paget, por exemplo, inicia nos ductos mamários e se espalha para o mamilo e aréola. Já o Angiossarcoma, acomete as células que revestem os vasos sanguíneos ou linfáticos. Outro tipo muito raro é o Tumor Filoide, que se desenvolve no estroma (tecido conjuntivo), e não nos ductos ou lóbulos, como nos carcinomas (1, 2, 8)

Como citato anteriormente, o desenvolvimento do câncer de mama é multifatorial e pode estar relacionado com idade; raça; histórico familiar; vida reprodutiva; uso de tóxicos/químicos (álcool, tabagismo; aditivos alimentes); obesidade e sedentarismo. Entretanto, apenas 5 a 10% dos casos estão relacionados com histórico familiar e genética, enquanto 90-95% remetem ao ambiente e estilo de vida.

Principais fatores de risco:

Genéticos – histórico familiar de câncer de mama em mulheres e homens e câncer de ovário em parentes de primeiro grau; alterações genéticas dos genes BRCA1 e 2 (síndrome de câncer de mama e ovário hereditários – representam 30 a 50% dos casos) (7,10).

Hormonais – menopausa após os 55 anos; primeira gestação após os 30 anos; menarca antes dos 12 anos; não ter filho ou gravidez precoce; reposição hormonal (estrogênio e progesterona) por mais de 5 anos seguidos; uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona) (7,10).

Ambientais/comportamentais – inatividade física; exposição à radiação; obesidade e sobrepeso; bebida alcoólica e tabagismo (7,10).

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Sinas e sintomas

O principal sinal do câncer de mama é o surgimento do nódulo indolor, duro e, geralmente, irregular. Alguns tumores podem apresentam uma consistência mais definida. Dentre outros sinais e sintomas, destaca-se a pele avermelhada ou com aspecto de casca de laranja (edema mamário); inversão, dor, hiperemia e descamação do mamilo; secreção papilar (coloração transparente ou rosada/avermelhada); surgimento de linfonodos no pescoço ou na axila; perda de peso; dor óssea; cansaço (3,10)

Diagnóstico precoce e rastreamento

O autoexame é um dos principais meios da mulher se tornar mais consciente sobre a saúde das mamas e da importância de um diagnóstico precoce. Entende-se o autoexame como a inspeção das mamas, ao redor do pescoço, clavícula e axilar pela própria mulher ou médicos especialistas, observando deformidades, nódulos, linfonodos aumentados e quaisquer alterações (8,10).

O rastreamento com a mamografia de rotina é sugerido para mulheres de 50 a 69 anos a cada dois anos com objetivo de reduzir a mortalidade, visto que os últimos ensaios clínicos associam esse método com melhor prognóstico da doença, efetividade no tratamento e menores taxas de morbidade associada (10).

Tratamento e Prevenção

O tratamento do câncer de mama depende do estágio em que a doença se encontra (estágio I, II, III, IV) e as particularidades do tipo de tumor. As chances de cura são maiores com o diagnóstico precoce. Nos casos de metástase, o objetivo do tratamento é a melhora da qualidade de vida. Os tipos de tratamento englobam cirurgia (retirada do tumor ou mastectomia com reconstrução da mama) e radioterapia para tratamento local; e quimioterapia, terapia hormonal e biológica para tratamento sistêmico (1,2,10)

Dentro dos aspectos nutricionais, durante o tratamento do CM é comum o paciente notar alteração do paladar e nas preferências alimentação, assim como a sensação de boca seca (xerostomia). Essas condições podem afetar o consumo alimentar diário e, consequentemente, reduzir o aporte energético e de macro e micronutrientes importantes para um bom prognóstico da doença, sendo necessária aplicação de estratégias nutricionais. O limão/suco de limão; hortelã; gomas de mascar; priorizar alimentos cozidos e menos condimentados; refeições menos volumosas e mais frequentes são estratégias que podem favorecer o consumo alimentar. A suplementação de zinco também pode beneficiar pacientes em processo de quimioterapia, visto que alguns medicamentos utilizados podem causar a quelação do zinco, causando a perda desse nutriente pelo organismo e favorecer alterações no paladar. Alguns ensaios clínicos demonstraram associação da suplementação de ômega-3 com a redução da incidência de câncer de mama, devido ao seu potencial antioxidante e anti-inflamatório. As vitaminas C, E e D e os minerais selênio e cálcio também são utilizados durante o tratamento, por apresentarem propriedades anticâncer, antioxidantes e na redução do estresse oxidativo causado pela quimioterapia e radioterapia. (4,5,6)

Em resumo, uma intervenção nutricional ideal prioriza o consumo de verduras e legumes (5 porções/dia), frutas (3 porções/dia) e fibras (30g/dia), junto com a redução de gorduras (15-20% do consumo calórico diário), em especial gorduras saturadas/hidrogenadas, bebidas alcoólicas, carnes vermelhas e embutidos. Recentemente, alguns ensaios clínicos observaram que o consumo de 10-20mg/dia de isoflavonas de soja (cerca de 30g de alimentos integrais de soja) pode reduzir a mortalidade de mulheres com CM. Embora os estudos mostrem uma associação positiva, os dados ainda são insuficientes, sendo necessário maior aprofundamento (3,5,6)

A atividade física moderada também está ligada com melhores prognósticos. Ainda não se entende ao certo o mecanismo responsável, mas a prática de atividade física melhora a sensibilidade à insulina, imunidade e reparo do DNA; reduz a inflamação e o tecido adiposo (melhora da composição corporal), fatores que trazem resultados clínicos positivos para pacientes com CM, como a redução da dor e fadiga, melhora do sono e qualidade de vida (4,6)

A prevenção do Câncer de Mama acaba sendo um reflexo do controle dos fatores de risco. Embora existam indivíduos com uma predisposição genética ao CM, o ambiente e o estilo de vida podem ser cruciais no seu desfecho, em especial a nutrição e atividade física. Hábitos alimentares desfavoráveis (produtos alimentícios; gordura saturada/hidrogenada; embutidos; excesso de carne vermelha; bebida alcoólica; baixo consumo de fibras) estão associados com maiores danos no DNA; alteração da epigenética das células e da microbiota intestinal; e aumento do estresse oxidativo. O sobrepeso e a obesidade promovem um ambiente pró-inflamatório, e disfunções metabólicas e endócrinas que estimulam o crescimento celular exacerbado, inclusive de células cancerígenas, como a hiperinsulinêmica e o estradiol aumentado (4,5,6,9)

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Conclusão

O padrão alimentar e perfil nutricional dos indivíduos está cada vez mais preocupante. Atualmente, observa-se a preferência pelo consumo de produtos alimentícios (processados e ultraprocessados) em comparação com alimentos in natura. E, junto com o sedentarismo, está diretamente associada com a maior prevalência de sobrepeso e obesidade. Esse é o cenário propicio para o desenvolvimento e mal prognóstico do Câncer de Mama. Portanto, o entendimento da importância do cuidado nutricional e de uma alimentação adequada; da prática regular de atividade física e do manejo do ambiente em que se está inserido para a prevenção e bom prognóstico da doença é essencial para saúde pública.

 

Referências bibliográficas

  1.   Akram M, Iqbal M, Daniyal M, Khan AU. Awareness and current knowledge of breast cancer. Biol Res. 2017 Oct 2;50(1):33. doi: 10.1186/s40659-017-0140-9. PMID: 28969709; PMCID: PMC5625777.
  2.   Ben-Dror J, Shalamov M, Sonnenblick A. The History of Early Breast Cancer Treatment. Genes (Basel). 2022 May 27;13(6):960. doi: 10.3390/genes13060960. PMID: 35741721; PMCID: PMC9222657.
  3.   Buja A, Pierbon M, Lago L, Grotto G, Baldo V. Breast Cancer Primary Prevention and Diet: An Umbrella Review. Int J Environ Res Public Health. 2020 Jul 1;17(13):4731. doi: 10.3390/ijerph17134731. PMID: 32630215; PMCID: PMC7369836.
  4.   Cannioto RA, Hutson A, Dighe S, McCann W, McCann SE, Zirpoli GR, Barlow W, Kelly KM, DeNysschen CA, Hershman DL, Unger JM, Moore HCF, Stewart JA, Isaacs C, Hobday TJ, Salim M, Hortobagyi GN, Gralow JR, Albain KS, Budd GT, Ambrosone CB. Physical Activity Before, During, and After Chemotherapy for High-Risk Breast Cancer: Relationships With Survival. J Natl Cancer Inst. 2021 Jan 4;113(1):54-63. doi: 10.1093/jnci/djaa046. PMID: 32239145; PMCID: PMC7781460.
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  6.   Dieta, nutrição, atividade física e câncer: uma perspectiva global : um resumo do terceiro relatório de especialistas com uma perspectiva brasileira / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2020
  7.   Kashyap D, Pal D, Sharma R, Garg VK, Goel N, Koundal D, Zaguia A, Koundal S, Belay A. Global Increase in Breast Cancer Incidence: Risk Factors and Preventive Measures. Biomed Res Int. 2022 Apr 18;2022:9605439. doi: 10.1155/2022/9605439. PMID: 35480139; PMCID: PMC9038417
  8.   Kolak A, Kamińska M, Sygit K, Budny A, Surdyka D, Kukiełka-Budny B, Burdan F. Primary and secondary prevention of breast cancer. Ann Agric Environ Med. 2017 Dec 23;24(4):549-553. doi: 10.26444/aaem/75943. Epub 2017 Jul 18. PMID: 29284222.
  9.   Lee K, Kruper L, Dieli-Conwright CM, Mortimer JE. The Impact of Obesity on Breast Cancer Diagnosis and Treatment. Curr Oncol Rep. 2019 Mar 27;21(5):41. doi: 10.1007/s11912-019-0787-1. PMID: 30919143; PMCID: PMC6437123.
  10. McDonald ES, Clark AS, Tchou J, Zhang P, Freedman GM. Clinical Diagnosis and Management of Breast Cancer. J Nucl Med. 2016 Feb;57 Suppl 1:9S-16S. doi: 10.2967/jnumed.115.157834. PMID: 26834110..

Júlia Cestari

@juliacestarinutri

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