Unindo a riqueza da biodiversidade às inovações tecnológicas e científicas, a bioeconomia cria alternativas mais sustentáveis de produção em grande escala.
Diante da necessidade urgente de frear a degradação dos recursos naturais e minimizar suas consequências, a chamada bioeconomia se apresenta como um caminho importante. Aqui no blog Nutrify, buscamos sempre trazer para vocês sementes para um futuro melhor, então não poderíamos deixá-la de fora.
O tema é bem vasto e cheio de ramificações, mas vamos tentar traçar um retrato de seus principais aspectos e impactos positivos
Bioeconomia, o que é?
A bioeconomia se refere à produção baseada em recursos biológicos, ou seja, recursos vivos. Seu objetivo é encontrar um equilíbrio entre sustentabilidade ambiental e econômica. Para isso, baseia-se fortemente em pesquisa científica e aplicação de novas tecnologias no desenvolvimento de materiais e processos que não impactem negativamente os ecossistemas.
O conceito surgiu na década de 1970, com o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen, que incorporou às ciências econômicas os princípios da biofísica de forma inovadora.
A bioeconomia se propõe a oferecer soluções eficazes para muitos dos problemas socioambientais contemporâneos, como degradação ambiental, poluição, efeito estufa, entre outros. Ela está baseada em 3 pilares fundamentais:
- Desenvolvimento de novas tecnologias e processos (biotecnologia).
- Desenvolvimento de mercados e competitividade nos setores da bioeconomia.
- Incentivos para que os responsáveis políticos, setores produtivos e sociedade trabalhem juntos.
A bioeconomia na prática.
Como dissemos, inovações tecnológicas aplicadas no campo das ciências biológicas estão na base da bioeconomia. Na prática, isso gera soluções para os mais diversos setores: da saúde humana à geração energética.
Alguns exemplos de produtos desenvolvidos sob os preceitos da bioeconomia:
- Biopolímeros, que dão origem a plásticos biodegradáveis.
- Biodefensivos, utilizados na agricultura em oposição aos defensivos químicos (mais poluentes e tóxicos).
- Biofármacos, como as terapias gênicas.
- Biocosméticos, produzidos à base de extratos naturais, livres de derivados de petróleo e outros químicos potencialmente tóxicos e poluentes.
Como a bioeconomia pode contribuir com o desenvolvimento sustentável?
Como vimos, a bioeconomia não é uma atividade isolada, mas um conceito aplicado à forma como produzimos, comercializamos e consumimos. Assim, sua aplicação pode contribuir para que se possa atingir vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Erradicar a fome no planeta, promover paz e justiça e combater a crise climática são prioridades que pautaram os 17 objetivos da lista.
Destacamos 6 dos principais benefícios da bioeconomia para as pessoas e o meio ambiente:
- Combate ao aquecimento global por meio da priorização de fontes limpas de energia.
- Transformação da agricultura, favorecendo seu papel crucial na solução de um dos principais desafios da humanidade para o futuro: a produção sustentável de alimentos para uma população crescente
- Preservação da flora e fauna: uma economia sustentável preza a manutenção dos ecossistemas, valorizando seu papel crucial para o bem-estar de todos os seres vivos, incluindo os humanos.
- Reaproveitamento de resíduos: a bioeconomia propõe que os resíduos sejam vistos sob um novo olhar, pois muitos deles servem como material para gerar novos insumos ou energia, diminuindo a quantidade de lixo na natureza.
- Maior segurança alimentar: segundo a última edição do relatório O Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo, publicadopela ONU em julho de 2020, esse problema atingiu quase 690 milhões de indivíduos em 2019. Quadro que tende a se agravar em decorrência da pandemia de COVID 19.
- Democratização do acesso à energia: segundo o Banco Mundial, mais de 10% da população mundial não tem acesso à eletricidade (dados de 2019). Iniciativas de economia sustentável podem ajudar a suprir essa demanda, oferecendo alternativas para geração de energia em locais remotos.
- Progresso econômico com desenvolvimento social: a bioeconomia pode ser base para modelos produtivos que incentivam o desenvolvimento das comunidades e mostram que é possível produzir com eficiência sem causar danos aos ecossistemas ou esgotar recursos naturais, como a água.
Construindo hoje o caminho para a economia do futuro
Unir o potencial da biodiversidade às inovações tecnológicas, desenvolvendo formas sustentáveis para a produção de bioprodutos é uma tendência para o futuro. Investir em pesquisa acadêmica e em sua aplicação à indústria é fundamental para substituir a priorização de commodities (materiais em estado bruto ou primário produzidos pelas indústrias de base) pela de produtos de maior tecnologia limpa agregada.
O Brasil e a bioeconomia
Cerca de 20% da biodiversidade da Terra está no Brasil, uma das maiores do planeta. Por aí, podemos identificar o imenso potencial do país para liderar os avanços da bioeconomia. No entanto, transformar essa vantagem comparativa em competitiva requer investimento e planejamento estratégico. Algumas das vantagens seriam a geração de empregos e o aumento da competitividade da indústria brasileira no mundo.
Para termos uma ideia, atualmente, há mais de 245 espécies da flora nacional utilizadas como base para cosméticos e biofármacos, mas a riqueza da flora brasileira vai muito além disso.
Entre os principais desafios para o desenvolvimento da bioeconomia no Brasil estão a escassez de investimentos em pesquisa e o desenvolvimento da legislação, tanto no que diz respeito às normas para uso sustentável da biodiversidade quanto para inovação e propriedade intelectual. Outro ponto sensível é a ausência de regulamentação adequada para os bioinsumos, produtos de origem biológica (em contraposição aos químicos sintéticos) utilizados para combater pragas e doenças e melhorar a fertilidade do solo nas plantações, por exemplo
Pesquisa da Annual Biocontrol Industry Meeting (Abim) estima que o mercado global de bioinsumos gira em torno de US$ 5,2 bilhões, com taxa de crescimento superior a 15% ao ano. A previsão é que o setor dobre de tamanho até 2025 e chegue a US$ 11,2 bilhões.
O que podemos esperar da bioeconomia:
Diante da urgência de combatermos os graves desequilíbrios ambientais provocados pela forma como produzimos e consumimos nos últimos séculos, a aplicação prática da visão proposta pela bioeconomia se mostra uma tendência irrefreável. Agora que já conhecemos um pouco mais sobre suas características e objetivos, fica mais fácil acompanhar e estimular seus avanços, como cidadãos e consumidores.
Até o próximo post!
Referências:
https://www.ecycle.com.br/bioeconomia/
http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/bioeconomia/
https://www.embrapa.br/tema-bioeconomia/sobre-o-tema
https://www.ecycle.com.br/biocosmeticos/
https://fia.com.br/blog/bioeconomia/
https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biodiversidade/