A creatina (ácido a-metil guanidino acético) tem como papel principal o fornecimento rápido de energia durante contração muscular, através de reação catalisada pela enzima creatina quinase. A creatina também é responsável pela transferência de energia da mitocôndria para o citosol, em tecidos cuja demanda energética é elevada, como músculo esquelético, osso e cérebro.
Sobretudo, diversas pesquisas também sugerem a suplementação da creatina na potencialização de funções cerebrais, na prevenção de lesões e com diversas possíveis aplicações clínicas em doenças degenerativas, como parkinson, distrofia muscular, diabetes, fibromialgia, dentre outras, sendo a creatina uma das substâncias mais estudadas, respaldadas e por conseguinte, estando entre as mais consumidas no mundo por atletas e praticantes de atividades físicas.1-2
Apesar do músculo esquelético conter cerca de 95% do total de creatina estocada no corpo, o cérebro é responsável por até 20% de consumo de energia e creatina, sendo creatina e fosfosrilcreatina essenciais para manter os níveis energéticos do sistema nervoso. 3
A creatina está envolvida no fornecimento abrupto de energia, auxiliando na ressíntese de adenosina difosfato (ADP) em adenosina trifosfato (ATP). Dessa forma, ela exerce papel antioxidante, o que tem sido associado na literatura, com efeitos terapêuticos nas doenças neurodegenerativas e saúde cerebral, uma vez que reutiliza radicais livres nessa ligação de ADPs com um fosfato ora livre pelo citoplasma e ora ligado a ela, formando a fosforilcreatina (PCr), em um sistema-tampão, devido ao sistema nervoso central ter uma alta demanda por consumo de energia. Quando se é relacionado a patologias neurais que provocam alterações na energia cerebral, uma deficiência de creatina pode ser observada, já que esta é produzida no cérebro e um distúrbio neural afeta a sua produção. Assim, a creatina cerebral é bem mais afetada por intercorrências internas no seu metabolismo do que pelo próprio consumo exógeno, podendo ser necessária a ingestão em maiores quantidades e por tempo prolongado para se observar algum efeito benéfico. 2.3.4.5
Sobre a suplementação ligado às funções cerebrais ainda há controvérsias a respeito de resultados significantes, bem como dosagem necessária. Porém, a sua utilização pode ser indicada em casos de distúrbios neurológicos, sendo importante observar quantidade ministrada e tempo ofertado, dados que permanecem instáveis na literatura. 2.4.6
Com isso surge o interesse dos pesquisadores em investigar de forma mais detalhada cada patologia e os possíveis benefícios com a suplementação de creatina, Roschel e seus colaboradores publicaram uma revisão recente, do ano de 2021, que reúne diversos estudos que avaliaram a suplementação de creatina implicando em possíveis benefícios cognitivos, Essa revisão, indicou resultados inconsistentes devido à heterogeneidade dos estudos, já que as populações, dosagens, protocolos de avaliação cognitiva, dentre outros fatores, costumam variar entre eles. Contudo, foi observado em testes realizados que, aparentemente, quando suplementado sob condições estressoras, como nos casos de privação de sono associada a treinamento físico, e hipóxia, a substância estudada tende a demonstrar mais efeitos benéficos sob cognição, provavelmente por serem situações que demandam mais energia e consequentemente reagem melhor à suplementação. 3
McMorris e colaboradores evidenciaram a hipótese supracitada, e que após suplementar em um grupo de pessoas com placebo ou com 20g de creatina por dia (divididas em 4 doses de 5g) e submeterem os indivíduos à privação de sono associada com exercícios físicos intermitentes moderados. Demonstrou-se que a suplementação afeta apenas o desempenho de tarefas executivas centrais complexas, e que houve um efeito positivo no estado de humor e tarefas que colocam um forte estresse no córtex pré-frontal. 7.8
No público idoso os resultados são conflitantes e a falta de monitoramento dos níveis de creatina cerebral dificultou qualquer tipo de análise, colocando em dúvida se o declínio cognitivo em pessoas idosas é devido a doenças neurodegenerativas que depletar os estoques de creatina cerebrais, ou se o protocolo de suplementação não foi eficiente para aumentar seus níveis. 3
Avgerinos e colaboradores avaliou a suplementação de cretina e identificou, melhorias na memória de curto prazo e inteligência/raciocínio. Com relação à memória de longo prazo, memória espacial, função executiva e atenção, o efeito não foi claro. Vale ressaltar que adultos jovens não apresentaram alterações em nenhuma tarefa após a administração de creatina. Isso pode ser por conta de já possuírem quantidades de creatina cerebral suficientes, enquanto indivíduos idosos, com algumas enfermidades ou estressados têm uma depleção dos seus níveis e por isso tenham uma maior propensão a melhorias cognitivas com a suplementação. 9
Interessantemente, a suplementação de creatina tem se mostrado capaz de melhorar o humor em pacientes depressivos resistentes ao tratamento conservador (Roitman et al., 2007). Além disso, há dados clínicos que demonstram a eficácia do consumo desse nutriente em transtornos pós-traumáticos associados ou não à depressão Amital et al., 2006. 10-11
Em contrapartida, o consumo de creatina (5g/dia por 3 meses) não foi capaz de melhorar o quadro clínico e a capacidade cognitiva de pacientes esquizofrênicos. Cabe salientar, todavia, que os achados desses estudos são limitados pelo baixo poder estatístico, curto periodo de seguimento e/ou ausência de grupo controle. 11
Nos últimos anos o interesse acerca dos diversos benefícios do uso da creatina além da performance esportiva tem crescido de forma abrupta, e as evidências têm apontado de forma promissora o uso deste suplemento na clínica nutricional.
Antenor Chagas.
Profissional de educação física.
Graduando em nutrição.
Pós graduado em fisiologia do exercício, CEFIT.
Pós graduando em nutrição esportiva e estética, plenitude.
Instagram: antenor_chagas.
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