Na natureza existe uma grande diversidade de frutas, verduras, legumes, plantas e animais, cada um com uma coloração específica e um dos principais tipos de pigmento orgânico encontrado são os carotenóides. São altamente lipofílicos, ou seja, possuem uma afinidade/solubilidade em lipídios (gorduras), e conferem a coloração amarela, laranja e vermelha para a cenoura, tomate e melancia, por exemplo (08, 11)
A astaxantina (AST) é um carotenoide com características antioxidantes, pertencente as xantofilas (subgrupo carotenoide que inclui a ÿ-criptoxantina, ÿ-caroteno, licopeno e zeaxantina) e presente em organismos aquáticos como microalgas, fitoplâncton, leveduras, bactérias, zooplâncton, crustáceos e peixes. Contribui para coloração laranja-avermelhado nas cascas de caranguejos, lagostas e camarões, assim como no músculo de trutas, dourada e salmões. Ela também é utilizada na alimentação destes animais para melhora da sua coloração. A maior parte da AST presente no cultivo de organismos aquáticos é sintetizada quimicamente a partir do petróleo para formação de rações, sendo uma minoria derivada de fontes naturais como a Xanthophyllomyces dendrorhous (produção de levedura), Haematococcus pluvialis (produção de algas) e pétalas de flores derivadas de Adonis aestivalis (03, 11)
O consumo alimentar de AST, a partir dos alimentos, aditivos alimentares funcionais e suplementos, é considerado seguro devido a sua presença de longa data nas dietas humanas e inúmeros estudos científicos publicados que validam essa segurança. As principais fontes de AST usadas na produção de alimentos funcionais e suplementos são originárias da alga verde chamada Haematococcus e do Krill, um conjunto de espécies de animais invertebrados parecidos com o camarão, parte do grupo de crustáceos. Apresenta funções metabólicas e fisiológicas, incluindo efeito farmacológico, propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, neuroprotetor, regeneração celular, protetor tecidual, antiapoptótica, antidiabética, anti proliferativa, entre outras aplicações. Inclusive, quando comparada com outros carotenóides, a astaxantina é ainda mais bioativa. Estudos mostram maior absorção, biodisponibilidade e efeito antioxidante quando administrada junto com óleos, em particular o óleo de peixe, devido a sua natureza lipofílica (03, 08, 11)
Em resumo, a AST pode atuar inibindo o desenvolvimento de doenças associadas ao estresse oxidativo e disfunções mitocondriais, visto que as membranas mitocondriais e o DNA estão suscetíveis aos danos oxidativos pela sua proximidade com o local de produção de espécies reativas de oxigênio (EROs). Portanto, uma superprodução de EROs pode sobrecarregar a capacidade antioxidante natural da célula, prejudicar as mitocôndrias e favorecer condições patológicas como Alzheimer, diabetes, aterosclerose, doenças hepáticas gordurosas alcoólicas e não alcoólicas (01, 03)
Doenças neurológicas
O estresse oxidativo, como citado acima, pode danificar as células nervosas e reduzir a função cognitiva, aumentando a predisposição para o desenvolvimento de doenças neurológicas como o Alzheimer (01)
A Doença do Alzheimer é uma doença neurodegenerativa crônica, caracterizada pelo acúmulo excessivo de proteína beta-amiloide no córtex cerebral e hipocampo. Essa situação contribui para o aumento do estresse oxidativo e, consequentemente, para a formação de EROs e nitrogênio, desencadeando efeitos adversos como inflamação, apoptose, oxidação de proteínas e peroxidação lipídica. Em resposta aos danos gerados nas conexões neurais entre o córtex cerebral e hipocampo, há o comprometimento da memória e função cognitiva. Portanto, o controle do estresse oxidativo em estágio inicial, principalmente a nível cerebral, será eficaz para retardar o declínio da cognição e prevenir a progressão do Alzheimer (02, 06,12)
Katagiri et al (2012) avaliou a administração de 12mg/dia e 6 mg/dia de AST durante doze semanas em 96 indivíduos de meia-idade e idosos que se queixaram de esquecimento relacionado à idade e concluiu que o extrato rico em AST melhorou a função cognitiva desses idosos. Entretanto, o tamanho da amostro foi relativamente pequeno para confirmar esse achado. Em outro estudo mais recente, Sekikawa et al. (2019) examinou os efeitos da ingestão de uma cápsula gelatinosa contendo AST (9 mg/dia) e tocotrienol (50mg/dia) durante doze semanas na função cognitiva e saúde em quarenta e quatro voluntários que relataram declínio de memória. No final do estudo, a combinação dos ativos foi capaz de melhorar a memória composta e verbal desses indivíduos.
Síndrome metabólica
A síndrome metabólica (SB) é caracterizada pelo conjunto de fatores de risco (hipertensão, dislipidemias, obesidade e hiperglicemia) que predispõe o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, vasculares periféricas e diabetes. Indivíduos que se enquadram em três ou mais condições de risco são diagnosticados com SB. Ela tem como base a resistência insulínica e existe uma correlação entre o estado de estresse oxidativo do corpo e a incidência da resistência à insulina. Nesse contexto, os antioxidantes são favoráveis como coadjuvantes na prevenção/tratamento por apresentarem um ótimo potencial terapêutico, em destaque para a AST (07, 09, 10)
Urakaze et al (2021) conduziu um estudo de doze semanas para avaliar os efeitos de 12mg/dia de AST no metabolismo da glicose, controle glicêmico, sensibilidade insulínica, perfil lipídico e índices antropométricos em indivíduos com pré-diabetes e os resultados foram positivos quanto ao efeito preventivo da diabetes sem efeitos adversos. Informação validada por Mashhadi et alm, que observou que a administração de 8 mg/dia de AST durante oito semanas reduziu a concentração de frutosamina e da glicose plasmática colhida em jejum em pacientes diabéticos. Outros estudos, em animais, demonstraram que a suplementação pode ser positiva na redução da glicose sanguínea e estresse oxidativo gerado pela hiperglicemia, protegendo as células beta-pancreática contra a toxicidade da glicose. Também podendo atuar na regulação do GLUT4, melhorando a resistência insulínica e secreção de insulina.
Uma revisão sistemática publicada na Nutrients em 2022 evidenciou o efeito da AST na melhora da pressão sanguínea sistólica, colesterol total e LDL. Entretanto, a efetividade no controle dos fatores de risco para SB continua inconclusiva devido ao número limitado de estudos publicados.
Proteção e qualidade da pele
Esse potente antioxidante está envolvido em diversas atividades biológicas e vem chamando atenção no campo da dermatologia e estética por atenuar o envelhecimento cutâneo e melhorar a qualidade da pele (anti ruga, anti-inflamatório e protetor contra radiação UV). A AST desempenha a função de inibir as colagenases (grupo de enzimas que quebram as ligações peptídicas do colágeno), a atividade das metaloproteinases de matriz, os mediadores inflamatórios e a indução de EROs (04, 05, 13)
Ito et al (2018) avaliou o efeito da suplementação de 4mg/dia de astaxantina em vinte três indivíduos saudáveis durante dez semanas sobre a deterioração da pele induzida por radiação UV e notaram que o grupo suplementado apresentou melhorias significativas quanto a textura e redução da perda de umidade, ou seja, a AST parece auxiliar na proteção UV e manutenção de uma pele saudável. As fontes alimentares e suplementares de AST foram proibidas durante o período, entretanto, não é possível estimar o quanto de AST foi consumida de fato pelos participantes, ainda mais considerando que o estudo foi realizado com a população japonesa que apresenta um grande consumo de camarão e salmão. Outra análise, realizada por Tominaga et al (2017) no período do verão para outono/inverno, mostrou que fatores ambientais em transição podem degradar a elasticidade da pele, de modo que até mesmos altas doses (6-12 mg/dia) de AST resultaram em um efeito mínimo de proteção. Isso acontece porque a forte radiação UV aumenta a atividade de elastase dos fibroblastos, prejudicando a configuração da fibra e da elasticidade, e baixas temperaturas diminuem a função da barreira da pele e aumentam a suscetibilidade para estressores ambientes.
Nota-se que o envelhecimento em si já é caracterizado por um declínio do sistema de defesa antioxidante biológico, no qual há redução das enzimas antioxidantes endógenas, com a SOD, e aumento dos EROs, criando um estado crônico de estresse oxidativo. Os estudos suportam a utilização de compostos antioxidantes para auxiliar na redução da toxicidade das condições citadas anteriormente. Porém, destacam que provavelmente um único antioxidante não seja suficiente para modular o dano oxidativo. Portanto, uma abordagem integrada é sugerida como alternativa para maior eficácia do tratamento. Vale ressaltar que os hábitos de vida como exercício físico, padrão alimentar, qualidade do sono, fatores estressores externos (tabagismo, poluição, álcool) e questões emocionais são fatores determinantes para a melhora da qualidade e expectativa de vida.
REFERÊNCIAS
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