Um padrão alimentar saudável pode afetar a saúde mental e o bem-estar através de propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, produção de neurônios e participação na síntese de neurotransmissores. Esses, como bem conhecidos, são substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios, a disfunção desse sistema pode acarretar alterações do humor, como aumento do estresse, ansiedade, pensamentos negativos e depressão [1].
Existem vários neurotransmissores, um deles é a dopamina e apresenta funções excitatórias nos neurônios, além de ser precursor dos hormônios do estresse (adrenalina e noradrenalina), estimula o Sistema Nervoso Central (SNC), no estresse crônico ocorre uma superestimulação do sistema dopaminérgico. Já o ácido gama-aminobutírico (GABA) é um neurotransmissor que reduz a atividade do SNC, por diminuir a excitação dos neurônios, sendo um dos principais moduladores do estresse. A adenosina, conhecida como um neuromodulador, controla a liberação de neurotransmissores, diminuindo a concentração de dopamina e aumentando a de GABA, modula o estresse, ansiedade, o sono, cognição e memória. E por fim, a serotonina que também modera comportamentos (estados aversivos e promove paciência) [2–4].
Compostos e associação com a regulação do humor:
D-Limoneno
Esse composto é encontrado em sua maioria em frutas cítricas, sendo a fonte mais comum o óleo essencial da casca de laranja doce (Citrus sinensis). Ele pertence à família dos terpenos. O D-limoneno é a forma ativa do composto, ou seja, com função biológica reconhecida. Ele possui alta capacidade de absorção por ser um composto com alta lipofilicidade, conferindo biodisponibilidade para a circulação sanguínea. Pesquisa clínica com 54 indivíduos indicou a capacidade de extrato contendo 20% de D-limoneno (600 mg de extrato/dia) diminuir a ansiedade (avaliado pela escala de Hamilton Anxiety Ranking Scale – HAM A) após 8 semanas de ingestão, quando o grupo tratamento foi comparado ao controle [5].
Evidências demonstram a capacidade do D-limoneno em atenuar o estresse e transtorno de humor via regulação mediada pelo receptor de adenosina A2a, o D-limoneno tem efeitos regulatórios na atividade neural dopaminérgica e GABAérgica. Estudos apontam resultados positivos da ingestão de D-limoneno na diminuição do estresse, ansiedade e alterações do humor [6].
Magnésio
No Brasil, em torno de 70% de homens e mulheres não consomem a quantidade ideal de magnésio (Mg) diariamente POF[7]. Estudos apontam associação entre baixos níveis de Mg no sangue e alterações no humor, como sintomas depressivos [8].
O Mg é um inibidor do receptor NMDA (N-metil-D aspartato, ligado às respostas estressoras), e um agonista do receptor GABAA. Esse último receptor quando ativado leva a menor reatividade a neurotransmissores exitatórios, resultando em menor ansiedade, insônia e relaxamento muscular. Além disso, ele também participa do controle do eixo hipotálamo/pituitária/adrenal (HPA), este eixo exerce um papel fundamental na resposta aos estímulos externos e internos, incluindo os estressores psicológicos. O eixo HPA quando hiperativo aumenta secreção de cortisol no sangue e seus efeitos estressores [9].
Vitamina B6
A vitamina B6 ou piridoxina é um fator crítico na síntese dos neurotransmissores dopamina, GABA e serotonina. Ela também modula mecanismos neurobiológicos associados com desordens do humor, como depressão e ansiedade. A deficiência leve da vitamina já resulta em remoção da inibição da atividade neural realizada pelo GABA e em distúrbios do sono, do comportamento e perda da capacidade do controle do eixo HPA e, por consequência, controle da secreção hormonal, principalmente de cortisol[10].
Recentemente, o inadequado consumo de vitamina B6 foi associado ao aumento do risco de desenvolver depressão e ansiedade em estudo transversal com mais de 3000 indivíduos. A ingestão média de vitamina B6 foi significativamente menor nos indivíduos com depressão e ansiedade quando comparada aos saudáveis. Estudo apontou que a suplementação de vitamina B6 durante 1 mês em indivíduos com ansiedade e/ou depressão (n=411) teve efeito na diminuição da ansiedade quando comparado ao início do tratamento [10–12]
L-Triptofano
O L-triptofano, como bem descrito, é um aminoácido essencial precursor da serotonina, também conhecida como 5- hidroxitriptamina (5-HT). Estudos demonstraram que a depleção de L-triptofano causa a supressão da síntese de serotonina e está associada a distúrbios do humor [13,14].
Revisão sistemática com 11 estudos clínicos utilizando a suplementação de triptofano sugere que sua ingestão pode modificar o humor em indivíduos saudáveis, reprimindo os sentimentos negativos e elevando os positivos, com diferenças significativas entre o grupo controle e o tratado [13].
Referências:
[1] Muscaritoli M. The Impact of Nutrients on Mental Health and Well-Being: Insights From the Literature. Front Nutr 2021;8. https://doi.org/10.3389/fnut.2021.656290.
[2] Stanwood GD. Dopamine and stress. Stress: Physiology, Biochemistry, and Pathology Handbook of Stress Series, Volume 3, Elsevier; 2019, p. 105–14. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-813146-6.00009-6.
[3] van Calker D, Biber K, Domschke K, Serchov T. The role of adenosine receptors in mood and anxiety disorders. J Neurochem 2019;151:11–27. https://doi.org/10.1111/jnc.14841.
[4] Zhang W, Xiong BR, Zhang LQ, Huang X, Yuan X, Tian YK, et al. The Role of the GABAergic System in Diseases of the Central Nervous System. Neuroscience 2021;470:88–99. https://doi.org/10.1016/j.neuroscience.2021.06.037.
[5] Carmona F, Coneglian FS, Batista PA, Aragon DC, Angelucci MA, Martinez EZ, et al. Aloysia polystachya (Griseb.) Moldenke (Verbenaceae) powdered leaves are effective in treating anxiety symptoms: A phase-2, randomized, placebo-controlled clinical trial. J Ethnopharmacol 2019;242. https://doi.org/10.1016/j.jep.2019.112060.
[6] Park HM, Lee JH, Yaoyao J, Jun HJ, Lee SJ. Limonene, a natural cyclic terpene, is an agonistic ligand for adenosine A2A receptors. Biochem Biophys Res Commun 2011;404:345–8. https://doi.org/10.1016/j.bbrc.2010.11.121.
[7] da Economia Paulo Roberto Nunes Guedes Secretário Especial de Fazenda Waldery Rodrigues Junior M, Susana Cordeiro Guerra Diretor-Executivo Fernando José de Araújo Abrantes P, Luiz Rios Neto EG, Renato Pereira Cotovio C, Maria Ferreira M, Lucia França Pontes Vieira M. Presidente da República Jair Messias Bolsonaro INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. n.d.
[8] Tarleton EK, Kennedy AG, Rose GL, Crocker A, Littenberg B. The association between serum magnesium levels and depression in an adult primary care population. Nutrients 2019;11. https://doi.org/10.3390/nu11071475.
[9] Pickering G, Mazur A, Trousselard M, Bienkowski P, Yaltsewa N, Amessou M, et al. Magnesium status and stress: The vicious circle concept revisited. Nutrients 2020;12:1–21. https://doi.org/10.3390/nu12123672.
[10] Kennedy DO. B vitamins and the brain: Mechanisms, dose and efficacy—A review. Nutrients 2016;8. https://doi.org/10.3390/nu8020068.
[11] Marzi Kafeshani AFAEAHKHAHR and PA. Higher vitamin B6 intake is associated with lower depression and anxiety risk in women but not in men: A large cross-sectional study. Vitamin and Nutrition Research 2019;90.
[12] Durrani D, Idrees R, Idrees H, Ellahi A. Vitamin B6: A new approach to lowering anxiety, and depression? Annals of Medicine and Surgery 2022;82. https://doi.org/10.1016/j.amsu.2022.104663.
[13] Kikuchi AM, Tanabe A, Iwahori Y. A systematic review of the effect of L-tryptophan supplementation on mood and emotional functioning. J Diet Suppl 2021;18:316–33. https://doi.org/10.1080/19390211.2020.1746725.
[14] Mendelsohn D, Riedel WJ, Sambeth A. Effects of acute tryptophan depletion on memory, attention and executive functions: A systematic review. Neurosci Biobehav Rev 2009;33:926–52. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2009.03.006.
