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Alimentos para saúde da visão

A visão é um sentido humano essencial, através dela as pessoas são capazes de desempenhar funções básicas como andar e ler. Qualquer fator que interfira na visão, terá um reflexo na qualidade de vida desse indivíduo, principalmente ao considerar a perda da autonomia com o agravamento da condição, levando a complicações como quedas, perda de equilíbrio, mobilidade limitada, fragilidade e, até mesmo, o isolamento social e a depressão. (08)(16) 

Antes de aprofundar em outros aspectos, é importante entender como funciona a estrutura fisiológica do olho. Em resumo, o interior do olho é revestido pela retina (camada nervosa). Existem duas regiões importantes dentro dessa camada: o nervo ótico (presença dos axônios da retina; local onde os sinais de luz são transferidos para o cérebro) e a mácula ou mácula lútea (acúmulo de carotenóides da retina com função de proteger a mácula da luz visível). Em um olho saudável, os vasos sanguíneos não cruzam diretamente sobre a mácula lútea, formando uma pequena depressão chamada de fóvea central, região composta por cones e responsável pela visão de alta resolução, ao permitir que a luz atinja os fotorreceptores sem passar pelas demais camadas da retina.(12)(16) 

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Estima-se que 250 milhões de pessoas sofram com alterações visuais e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), 81% desses indivíduos estão acima dos 50 anos de idade. Dentro da população idosa, as causas mais comuns de perda de visão são a degeneração macular relacionada à idade (DMRI), glaucoma, catarata e retinopatia diabética. Sendo a DMRI (alterações degenerativas na mácula lútea), a principal delas. É possível notar uma redução na capacidade de focar objetos próximos (presbiopia); diminuição da adaptação de um ambiente escuro para o claro; recuperação lenta ao brilho e menor sensibilidade ao contraste em um olho envelhecido. (08)(12)(16) 

Essas doenças, adquiridas ou herdadas, podem se desenvolver gradual ou repentinamente, e sua etiologia, por mais complexa e multifatorial que seja, indica o estresse oxidativo como o causador principal. O olho é um órgão com alto consumo de oxigênio; apresenta em sua composição ácidos graxos poliinsaturados e está diariamente exposto à luz visível. Esse ambiente favorece a formação de espécies reativas de oxigênio (EROs), aumentando o estresse oxidativo e, consequentemente, podendo levar a danos no tecido ocular. Além disso, o sexo, etnia, componentes genéticos, composição da microbiota e estilo de vida, como tabagismo e padrão alimentar, também podem ser considerados fatores de risco.(06)

O padrão alimentar tem uma influência significativa no desenvolvimento ou piora dos quadros de doenças oculares. Nesse sentido, o consumo elevado e frequente de carboidratos refinados, de rápida absorção, pode refletir em um aumento crônico da glicemia (maior quantidade de glicose no sangue), mais conhecido como hiperglicemia, que pode desencadear efeitos sistêmicos como o aumento da permeabilidade intestinal, estresse oxidativo e produtos finais de glicação avançada (AGEs), inflamação crônica sistêmica. A condição de hiperglicemia eleva a glicose no olho, podendo causar dano celular e apoptose da célula pelo acúmulo de AGEs, aumento de EROs, diminuição da glutationa (molécula antioxidante) e ativação da proteína quinase C, levando a uma maior atividade imune da célula da retina. Indivíduos diabéticos ou pré-diabetes descompensada, ou seja, com níveis elevados de glicose no sangue, precisam de atenção redobrada, pois tendem a ter um acúmulo tóxico maior de AGEs.(01)(03) 

A composição da microbiota, indiretamente, interfere na saúde da visão. E, sabe-se que, um padrão alimentar pró-inflamatório, baixa ingestão de fibras e rica em gorduras saturadas, produtos ultraprocessados e carboidratos refinados, aumenta a produção de bactérias patogênicas, trazendo um desequilíbrio para o microbioma. Um quadro de inflamação ou hiperglicemia tende a aumentar a permeabilidade intestinal, permitindo o transporte de metabólitos microbianos que atravessam a retina e sinalizam uma inflamação local. Por essa razão, a saúde intestinal pode ser associada à gravidade das doenças oculares.(13)

Dessa maneira, pesquisam foram e continuam sendo desenvolvidas com objetivo de investigar a utilização de alimentos e suplementos antioxidantes, em destaque os carotenoides (luteína e zeaxantina), as vitaminas A, C, E, zinco, DHA e ácidos graxos poliinsaturados, como estratégia na prevenção e controle de doenças oculares. Alguns desses nutrientes fazem parte da estrutura da retina, outros são componentes essenciais para realizar processos bioquímicos e garantir um bom funcionamento fisiológico das células visuais. 

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Carotenóides (luteína e zeaxantina) 

A luteína e a zeaxantina fazem parte da família dos carotenoides, localizados na mácula, se diferenciam estruturalmente pelo posicionamento de uma ligação dupla e garantem a cor amarela/laranja a alimentos como laranja, milho, salmão, pimentão, melão, cenoura e abóbora.(02)(14) Devido a ação anti-inflamatória e antioxidante, estão sendo considerados como uma estratégia para a prevenção contra a DMRI e catarata. Os principais estudos indicam efeitos positivos da suplementação de luteína e zeaxantina, muitas vezes em conjunto com DHA, vitamina C e E, na melhora da densidade ótica do pigmento macular (DOPM); promoção da acuidade visual; sequestro de radicais livre (efeito protetor contra o estresse oxidativo). (09)(11)(17) Outra fonte alimentar rica nestes compostos é a gema do ovo. Embora mais estudos sejam necessários para confirmar os resultados, o consumo de ovos pode estar associado com a melhora da DOPM e aumento dos níveis séricos de luteína. O alto teor de gordura presente na gema melhora a absorção dos carotenóides. Além da gema, as maiores fontes alimentares de luteína e zeaxantina são os vegetais verdes folhosos (couve, salsa, espinafre, alface e brócolis). Também podem ser encontrados traços em grãos como trigo e milho.(05) 

Vitaminas 

As vitaminas comumente estudadas para prevenção e tratamento de disfunções visuais são o retinol (Vitamina A), ácido ascórbico (Vitamina C) e o ÿ-tocoferol (Vitamina E). Algumas pesquisas mostraram que a suplementação das três vitaminas em conjunto pode ter um efeito maior na redução do risco de DMRI. Entretanto, a maior parte dos estudos recentes não conseguiu mostrar a associação da suplementação desses compostos com a melhora do quadro de DMRI e efeito protetor contra a catarata. Porém, não pode ser descartado o efeito antioxidante, mas são necessários mais estudos para verificar a sua relação com a saúde da visão.(06)(10)(15) 

Zinco 

Esse mineral está presente na retina e é cofator de enzimas presentes no olho. As pesquisas mais recentes trazem resultados positivos quanto a suplementação de zinco e redução do risco de desenvolver DMRI e da perda de visão, maior acuidade visual e sensibilidade ao contraste. Portanto, em quantidades moderadas, visto que o seu excesso pode causar toxicidade, o zinco é capaz de promover a saúde e proteção da retina. (04)(16)

Ácidos graxos poliinsaturados 

O ômega-3, em especial o DHA, está presente em altas concentrações na retina, sendo um dos principais componentes estruturais das células fotorreceptoras. Atualmente, vem ganhando destaque no ambiente das pesquisas por, dentre outros fatores, sua importância para a função e desenvolvimento da retina, e pela capacidade de redução do perfil inflamatório. Contudo, por mais que o DHA esteja associado com as doenças oculares, ainda não é preciso o seu papel na prevenção e/ou tratamento. Com base nos resultados de estudos recentes, a suplementação de DHA parece não auxiliar no tratamento de DMRI avançada, mas pode ser uma boa estratégia preventiva. (07)(18) 

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Embora as pesquisas deixam claro que a alimentação pode ser um fator de risco para o agravamento das doenças visuais e que algumas estratégias nutricionais apresentam resultados benéficos para a proteção dos olhos, existem controvérsias sobre o papel da nutrição na saúde da visão. Um dos possíveis motivos da inconsistência de resultados seria o viés que ocorre dentro dos estudos não intervencionistas pela influência de fatores de difícil controle como tabagismo, nível de atividade física, exposição à luz e padrão alimentar de cada indivíduo avaliado. Dessa maneira, torna-se necessário avaliações mais profundas para determinar as especificidades da nutrição para saúde dos olhos. Todavia, é possível afirmar que o consumo de alimentos antiinflamatórios e antioxidantes como as frutas vermelhas, oleaginosas, ervas e especiarias (gengibre, canela, açafrão, chá verde), vegetais verdes escuros, azeite de oliva, alho e cacau, desempenham um papel essencial na saúde e bem-estar, por estarem relacionados com a redução do estresse oxidativo, efeito neuroprotetor e fotoprotetor.

 Referências

(1) Braakhuis AJ, Donaldson CI, Lim JC, Donaldson PJ. Nutritional Strategies to Prevent Lens Cataract: Current Status and Future Strategies. Nutrients. 2019 May 27;11(5):1186. doi: 10.3390/nu11051186. PMID: 31137834; PMCID: PMC6566364. 

(2) Buscemi S, Corleo D, Di Pace F, Petroni ML, Satriano A, Marchesini G. The Effect of Lutein on Eye and Extra-Eye Health. Nutrients. 2018 Sep 18;10(9):1321. doi: 10.3390/nu10091321. PMID: 30231532; PMCID: PMC6164534. 

(3) Francisco SG, Smith KM, Aragonès G, Whitcomb EA, Weinberg J, Wang X, Bejarano E, Taylor A, Rowan S. Dietary Patterns, Carbohydrates, and Age-Related Eye Diseases. Nutrients. 2020 Sep 18;12(9):2862. doi: 10.3390/nu12092862. PMID: 32962100; PMCID: PMC7551870. 

(4) Gilbert R, Peto T, Lengyel I, Emri E. Zinc Nutrition and Inflammation in the Aging Retina. Mol Nutr Food Res. 2019 Aug;63(15):e1801049. doi: 10.1002/mnfr.201801049. Epub 2019 Jun 27. PMID: 31148351. 

(5) Khalighi Sikaroudi M, Saraf-Bank S, Clayton ZS, Soltani S. A positive effect of egg consumption on macular pigment and healthy vision: a systematic review and meta-analysis of clinical trials. J Sci Food Agric. 2021 Aug 15;101(10):4003-4009. doi: 10.1002/jsfa.11109. Epub 2021 Feb 9. PMID: 33491232. 

(6) Khoo HE, Ng HS, Yap WS, Goh HJH, Yim HS. Nutrients for Prevention of Macular Degeneration and Eye-Related Diseases. Antioxidants (Basel). 2019 Apr 2;8(4):85. doi: 10.3390/antiox8040085. PMID: 30986936; PMCID: PMC6523787.

(7) Kuklinski EJ, Hom MM, Ying GS, Lin MC, Chapkin RS, Jones R, Moser A, Kim KY, Maguire MG, Asbell PA; DREAM Study Research Group. Associations Between Systemic Omega-3 Fatty Acid Levels With Moderate-to-Severe Dry Eye Disease Signs and Symptoms at Baseline in the Dry Eye Assessment and Management Study. Eye Contact Lens. 2021 Jan 1;47(1):2-7. doi: 10.1097/ICL.0000000000000687. PMID: 32097181; PMCID: PMC7483206. 

(8) Lawrenson JG, Downie LE. Nutrition and Eye Health. Nutrients. 2019 Sep 6;11(9):2123. doi: 10.3390/nu11092123. PMID: 31489894; PMCID: PMC6771137. 

(9) Li LH, Lee JC, Leung HH, Lam WC, Fu Z, Lo ACY. Lutein Supplementation for Eye Diseases. Nutrients. 2020 Jun 9;12(6):1721. doi: 10.3390/nu12061721. PMID: 32526861; PMCID: PMC7352796. 

(10) Lim JC, Caballero Arredondo M, Braakhuis AJ, Donaldson PJ. Vitamin C and the Lens: New Insights into Delaying the Onset of Cataract. Nutrients. 2020 Oct 14;12(10):3142. doi: 10.3390/nu12103142. PMID: 33066702; PMCID: PMC7602486. 

(11) Mitra S, Rauf A, Tareq AM, Jahan S, Emran TB, Shahriar TG, Dhama K, Alhumaydhi FA, Aljohani ASM, Rebezov M, Uddin MS, Jeandet P, Shah ZA, Shariati MA, Rengasamy KR. Potential health benefits of carotenoid lutein: An updated review. Food Chem Toxicol. 2021 Aug;154:112328. doi: 10.1016/j.fct.2021.112328. Epub 2021 Jun 8. PMID: 34111488. 

(12) Pellegrini M, Senni C, Bernabei F, Cicero AFG, Vagge A, Maestri A, Scorcia V, Giannaccare G. The Role of Nutrition and Nutritional Supplements in Ocular Surface Diseases. Nutrients. 2020 Mar 30;12(4):952. doi: 10.3390/nu12040952. PMID: 32235501; PMCID: PMC7230622. 

(13) Rowan S, Taylor A. The Role of Microbiota in Retinal Disease. Adv Exp Med Biol. 2018;1074:429-435. doi: 10.1007/978-3-319-75402-4_53. PMID: 29721973. 

(14) Sauer L, Li B, Bernstein PS. Ocular Carotenoid Status in Health and Disease. Annu Rev Nutr. 2019 Aug 21;39:95-120. doi: 10.1146/annurevnutr-082018-124555. Epub 2019 May 15. PMID: 31091415. 

(15) Valero-Vello M, Peris-Martínez C, García-Medina JJ, SanzGonzález SM, Ramírez AI, Fernández-Albarral JA, Galarreta-Mira D, Zanón-Moreno V, Casaroli-Marano RP, Pinazo-Duran MD. Searching for the Antioxidant, Anti-Inflammatory, and Neuroprotective Potential of Natural Food and Nutritional Supplements for Ocular Health in the Mediterranean Population. Foods. 2021 May 28;10(6):1231. doi: 10.3390/foods10061231. PMID: 34071459; PMCID: PMC8229954. 

(16) Walchuk C, Suh M. Nutrition and the aging retina: A comprehensive review of the relationship between nutrients and their role in age-related macular degeneration and retina disease prevention. Adv Food Nutr Res. 2020;93:293-332. doi: 10.1016/bs.afnr.2020.04.003. Epub 2020 May 4. PMID: 32711865. 

(17) Wilson LM, Tharmarajah S, Jia Y, Semba RD, Schaumberg DA, Robinson KA. The Effect of Lutein/Zeaxanthin Intake on Human Macular Pigment Optical Density: A Systematic Review and Meta-Analysis. Adv Nutr. 2021 Dec 1;12(6):2244-2254. doi: 10.1093/advances/nmab071. PMID: 34157098; PMCID: PMC8634499. 

(18) Zhang AC, Singh S, Craig JP, Downie LE. Omega-3 Fatty Acids and Eye Health: Opinions and Self-Reported Practice Behaviors of Optometrists in Australia and New Zealand. Nutrients. 2020 Apr 22;12(4):1179. doi: 10.3390/nu12041179. PMID: 32331489; PMCID: PMC7230711. 

Artigo por: Júlia Cestari 

Aluna da Pós-graduação de Nutrição Esportiva e Estética

E-mail: juliagcestari@hotmail.com

Instagram: @juliacestarinutri 

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